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Carina Fragozo

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Músicas alegres que escondem letras tristes

Lembro do estranhamento que senti quando escutei a versão samba de Sunday Bloody Sunday, do U2

07/12/2025 às 02:00

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A verdade é que boa parte dos grandes hits em inglês passa despercebida pelo público brasileiro

A verdade é que boa parte dos grandes hits em inglês passa despercebida pelo público brasileiro | Drobotdean/Freepik

Lembro do estranhamento que senti quando escutei a versão samba de Sunday Bloody Sunday, do U2. A letra dessa música denuncia a violência do Domingo Sangrento de 1972, quando manifestantes pacíficos foram mortos pelo Exército Britânico na Irlanda do Norte. Você há de concordar que massacres, sangue e guerra não combinam com a leveza de um sambão.

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A verdade é que boa parte dos grandes hits em inglês passa despercebida pelo público brasileiro. Cantamos, repetimos o refrão, nos deixamos levar pelo ritmo, mas nem sempre compreendemos o que está sendo dito. Quando finalmente entendemos a letra, descobrimos que nem toda balada é romântica, nem todo rock pesado é diabólico e, no caso do artigo de hoje, nem toda música com ritmo animado tem uma letra feliz.

É exatamente aí que entra a importância de saber inglês: aprender o idioma nos abre um mundo de significados, contextos e histórias que simplesmente não aparecem quando ficamos apenas na melodia. Hoje vamos olhar para duas canções que soam alegres, mas escondem narrativas profundas ou tristes.

A primeira é Pumped Up Kicks, da banda Foster the People. Sempre achei a batida da música animada, perfeita para ouvir no carro ou trabalhando, até que parei para prestar atenção na letra. Era sobre arma, tiro e correr para sobreviver. What? Pois é.

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Mark Foster, vocalista e compositor, escreveu a música inspirado pelas inúmeras notícias de tiroteios em escolas nos Estados Unidos, tragédias que, infelizmente, se tornaram recorrentes. Ele contou que tentou imaginar a mente de um adolescente isolado, negligenciado e emocionalmente instável.

O resultado é uma letra narrada do ponto de vista do agressor, com descrições diretas de seu plano de ataque:

“Robert’s got a quick hand…”
 Robert tem a mão rápida.
“Yeah, he found a six shooter gun / In his dad’s closet…”

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Ele encontrou um revólver no armário do pai.

Há ainda detalhes que passam despercebidos por quem não domina o inglês, como a expressão pumped up kicks, que se refere a tênis caros ou populares entre adolescentes. É uma forma de destacar a desigualdade social e a admiração ressentida do narrador pelos outros garotos, aparentemente mais privilegiados:

“All the other kids with the pumped up kicks
 You better run, better run, outrun my gun”

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Todos os outros garotos com seus tênis estilosos, é melhor correr, correr, mais rápido que a minha arma.

Outra música que entra nessa categoria é Rehab, da Amy Winehouse. A canção tem uma batida com ar retrô delicioso, mas a letra é um retrato da luta da cantora contra o vício. A própria Amy contou que o refrão nasceu durante uma conversa despretensiosa com o produtor Mark Ronson. Ela simplesmente cantou o verso, rindo, como se fosse uma piada. Logo no início da música, ela descreve a tentativa de convencê-la a buscar ajuda:

“They tried to make me go to rehab / I said no, no, no”

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Eles tentaram me mandar para a reabilitação, eu disse não, não, não.

Depois, Amy menciona o pai. Ele frequentemente minimizava a gravidade da situação e a incentivava a continuar fazendo shows mesmo quando ela claramente não estava bem, já que sua carreira estava no auge:

“If my daddy thinks I’m fine / I won’t go, go, go”

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Se meu pai acha que eu estou bem, eu não vou, não vou, não vou.

A negação e os problemas disfarçados de humor estavam ali, explícitos. E tudo isso antecipava, de certa forma, o fim trágico da artista em 2011, aos 27 anos. E é exatamente esse tipo de profundidade que você perde quando não entende inglês. Um mundo novo se abre quando você mergulha no idioma, e nem estou falando apenas sobre viajar ou morar fora.

Trata-se de compreender o inglês que chega até nós todos os dias, aqui mesmo, no Brasil.

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A música, o cinema, as notícias e a cultura global ganham novas camadas quando você entende a língua. E, muitas vezes, é nessas camadas que moram as histórias mais interessantes.

Carina Fragozo é doutora em Linguística pela USP, criadora do canal English in Brazil, com mais de 2 milhões de inscritos no YouTube, e fundadora do curso online English in Brazil.

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