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Heródoto Barbeiro

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Debate decisivo

Outras nações acompanham com interesse a disputa política americana, uma seleção de ex-colônias europeias

15/07/2024 às 21:15

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O voto popular não é decisivo

O voto popular não é decisivo | Joseph Chan/Unsplash

O candidato democrata não se saiu bem no primeiro de uma série de debates com o seu opositor republicano. Já era de se esperar. O republicano é mais jovem, tem treino político e sustentação econômica forte. Não se faz campanha nos Estados Unidos sem um caixa eleitoral bem guarnecido, e o republicano conta com polpudas doações provenientes da burguesia industrial americana. Sobretudo do nordeste do país. Ela, por sua vez, tem forte lobby no Congresso e quer uma economia aberta, livre cambista, liberal, sem intervenções do Estado que possam atrapalhar os negócios ou querer aumentar a carga tributária das camadas mais ricas da população. O candidato democrata pensa diferente. É um homem politicamente experiente. Sempre viveu de política e sabe como manobrar o Congresso. Tem a maior parte dos seus eleitores no sul do país, o que lhe garante uma vitória folgada, tanto para uma cadeira no senado, como na presidência dos Estados Unidos. O risco que corre é que sua base de apoio possa se dividir e ele perder a eleição.

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Questões cruciais estão em jogo nos Estados Unidos. Outras nações acompanham com interesse a disputa política americana, uma seleção de ex-colônias europeias. O poder federal está sediado em Washington, mas os estados americanos são ciosos em lembrar que a nação nasceu sob a égide do federalismo, isto é, cada estado tem sua própria Constituição, senado legislativo e leis locais. O que implica que uma lei de um estado nem sempre vale para o estado vizinho. Há divergências marcantes como, por exemplo, a forma como o trabalho é organizado. O embate entre republicanos e democratas descamba para o campo das ameaças e a mídia tem participação nisso. A divulgação dos debates entre os candidatos faz do republicano conhecido em todo o país, já o democrata tem popularidade garantida por sua longa carreira política no Congresso. O sistema eleitoral apoia-se nos votos dos representantes estaduais e estes procuram representar os interesses locais. O voto popular não é decisivo.

O candidato republicano avalia que a eleição para senador é de suma importância para quem almeja chegar à presidência dos Estados Unidos. A barreira para esse objetivo é o candidato democrata. Este tem muito mais votos no sul do país, onde tem o apoio do agronegócio exportador. Ele está voltado para a exportação das commodities e, para isso, precisa de tarifas alfandegárias mais baixas, haja vista que as exportações para o exterior são pagas com produtos manufaturados. O republicano defende tarifas protecionistas para favorecer os industriais do nordeste dos Estados Unidos, concorrente dos países industrializados europeus. Os jornais publicam uma série de debates entre o ex-deputado federal Abraham Lincoln e o senador democrata Stephen Douglas. O debate mostra que o país está perigosamente rachado. Não pode ter, simultaneamente, duas políticas aduaneiras. Está claro o confronto entre os proprietários de terras do sul e os nascentes industriais do nordeste. O sul precisa manter a mão de obra escrava nas fazendas. O capitalismo liberal do nordeste quer o trabalho assalariado. Em 1858, o Congresso abre as porteiras para que o trabalho escravo possa ser utilizado em novas fronteiras agrícolas em estados do centro-oeste. Lincoln é contra. Quer o fim da escravidão e argumenta que o que está escrito na Constituição vale também para os negros. Douglas vence a eleição para o senado. O país avança para a eleição presidencial e, na campanha, Lincoln não defende o fim do trabalho escravo. Teme uma divisão, uma recessão entre os estados amarrados pelo federalismo que turbina a autonomia estadual. Preocupa-se com a dissolução nacional, haja vista que o país são Estados Unidos e não unitário, como o Império brasileiro na mesma época. Avizinha-se a guerra civil. Resta saber quem dará o primeiro tiro em uma sociedade que tem garantia constitucional de todo cidadão possuir uma arma de fogo. Que pode ser usada no Teatro Ford, em Washington.

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