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Caso de atropelamento é especialmente chocante, mas desvela sentimento pernicioso e bem mais comum
02/12/2025 às 07:15 atualizado em 02/12/2025 às 09:05
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Mulher pouco antes de ser atropelada e arrastada pela Marginal do Tietê, em São Paulo | Reprodução
Neste fim de semana, um homem atropelou propositalmente uma mulher com quem teve um relacionamento e a arrastou pela Marginal do Tietê por mais de um quilômetro, a ponto de ela perder as duas pernas. O caso é especialmente chocante, mas desvela um sentimento pernicioso e bem mais comum: a brutalidade de pessoas, em geral do sexo masculino, que se acham donas de outras pessoas, em geral do sexo feminino, a ponto de desumanizá-las.
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A internet tem se mostrado um território fértil para ideias misóginas. Esses discursos apontam para as consideradas “velhas demais”, para as quem não têm “a aparência física desejável” e, sobretudo, para as que apenas propagam o direito às próprias escolhas e liberdade.
Na última sexta (28/11), o influenciador Thiago Schutz, conhecido como “Calvo do Campari”, foi preso em flagrante no interior de São Paulo por violência doméstica e lesão corporal contra a namorada. Logo ele, que se tornou nos últimos anos um símbolo popular desse tipo de pensamento.
Às investigações cabem dizer se é realmente ou não culpado, mas de fato o respeito às mulheres parece passar longe do que ele e outros dizem. Enquanto isso, milhares são mutiladas e mortas por seus companheiros no Brasil e pelo mundo. A batalha é antes de tudo por sobrevivência.
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Num dos vídeos de Schutz, ele questiona a um interlocutor se todas as leis devem ser a favor de mulheres. Não, nem todas. Se uma mulher o machucar, se uma mulher o violentar, se uma mulher o matar, o Código Penal alcançará essa agressora. Mas todos sabem quem costuma ser as vítimas da violência de gênero, e não é de hoje. Qualquer conversa fora disso é querer maquiar corpos e histórias de vida que foram interrompidos abruptamente por “ciúmes”, por “crime passional”, ou seja lá o motivo propagado da vez.
Quem ama não mata, como diziam as mulheres em busca de punição a Lindomar Castilho, o cantor popular que assassinou Eliane de Grammont em 1981, e alegou em júri que havia sido traído. Não faltou quem concordou com o artista agir “pela legítima defesa da honra”, e teve gente que gritou à porta do tribunal: "mulher que bota chifre tem que virar sanduíche".
De lá para cá o debate aumentou, mas ainda parece que parte das pessoas quer ficar num eterno passado de brutalidade. O Brasil tem 17 denúncias de violência contra mulher por hora, segundo o Ministério da Mulher. Dados do Mapa Nacional da Violência de Gênero apontam que no primeiro semestre de 2025 foram registrados 718 feminicídios no País.
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Em 2026, a Lei Maria da Penha completa 20 anos, e é considerada um marco, mas não o suficiente para frear esse tipo de crime. Sim, as mulheres devem ter leis especiais para a proteção contra uma série de violências, porque são vítimas preferenciais de uma série de violências. A lei deve alcançar a cultura danosa que não muda.
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