É o fim da sala de estar: 'É difícil convidar pessoas para a casa, não querem sentar na cama'

O leitor pode se confundir com a manchete: como sentar na cama, se a sala de estar geralmente possui um sofá? Mas você não leu errado. Leah Harper, do The Guardian, escreveu sobre como o fim das salas de estar está prejudicando a convivência doméstica.

Os imóveis sem sala de estar dominam cada vez mais o mercado: studios, kitnets, são vários os modelos de apartamentos que não possuem um espaço dedicado à convivência e à recepção de convidados.

E isso pode ter consequências até para a saúde mental, mostrou pesquisa realizada no Reino Unido. Entenda o que mostrou o estudo.

Sem sala de estar

Segundo a empresa SpareRoom,entre janeiro e junho deste ano, 29,8% dos quartos anunciados no Reino Unido estavam em propriedades sem sala de estar, chegando a 41,2% em Londres. 

Essa falta de espaço para receber as visitas faz falta na vida cotidiana das pessoas. É o que relata a entrevistada Georgie, instrutora de escalada: “Sem uma sala de estar, seu mundo fica bem pequeno”.

A mulher de 27 anos conta que se mudou para uma república com uma sala de estar inabitável e uma cozinha minúscula, por isso preparava os pratos para comer em seu quarto. Mas não ter espaço para receber convidados é um problema:

“Você sente falta de experiências compartilhadas”, diz ela. “Era difícil convidar pessoas para vir aqui porque nem todo mundo quer sentar em um quarto, não havia espaço para uma cadeira decente, e seu quarto se torna menos relaxante e mais estressante”.

Razão do desaparecimento

Os motivos para o desaparecimento gradual das salas de estar variam, mas parecem estar sempre relacionados a fatores econômicos. No Reino Unido, em que inquilinos transformam a sala de estar em um quarto a mais, 36%  afirmaram que abririam mão de uma sala de estar em troca de um aluguel mais barato.

Contudo, a mesma pesquisa mostrou que 44% acreditam que a falta de uma sala de estar pode ter afetado sua saúde mental.

A construção de apartamentos menores e mais individualizados são pensados para a venda em mais baixo custo, mas é importante perceber que são lares projetados com a individualidade em mente.

É o que relata Louis Platman, curador e gerente de pesquisa do Museu da Casa em Londres. Para ele, o sumiço das salas de estar também está relacionado com a atomização das televisões.

Tradicionalmente, as TVs ficavam na sala e todos compartilhavam o momento de assistir. Já hoje em dia todos podem assistir sozinhos um programa por streaming no próprio celular. Mas para Platman, o fim das salas de estar apontam para um desastre.

“Por experiência própria, quando vou a apartamentos compartilhados com amigos onde não há sala de estar, é muito difícil construir um senso de comunidade e amizade sem um lugar para se reunir”. 

O especialista finaliza: “Acho que ter uma sala de estar é essencial para uma vida familiar saudável, seja em uma família tradicional, em um apartamento compartilhado ou em uma casa intergeracional [república], que está se tornando cada vez mais comum.”

Fim dos racks

Os racks convencionais, móveis típicos da sala de estar, também estão sendo substituídos por uma opção bem  mais moderna.