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Rio, na Amazônia peruana, pode ter suas águas com temperaturas de até 99 °C | Fabio Rodrigues/Agência Brasil
A natureza é cheia de fenômenos que impressionam, porém, nem todos são inofensivos. Um deles está na Amazônia peruana, onde corre o leito do Shanay-Timpishka, considerado o rio mais quente do mundo.
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Durante séculos o rio foi retratado em lendas indígenas que associavam o rio ao espírito de uma cobra gigante e em relatos de exploradores espanhóis.
Mas, como não há a presença de vulcões nas proximidades do rio, muitos acreditavam que suas águas quentes não passavam apenas de um mito criado para assustar visitantes. A grande surpresa veio quando um geólogo peruano investigou essa história e comprovou a existência do rio.
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Em 2011, o geólogo peruano Andrés Ruzo decidiu investigar o famoso rio que até então só conhecia por relatos que seu avô lhe contava.
Após obter autorização de comunidades locais, uma vez que a área é protegida por povos indígenas, Andrés percorreu mais de seis quilômetros do curso d’água e mediu temperaturas médias de 86 °C, chegando a 99 °C em alguns trechos.
Os estudos de Ruzo confirmam que o Shanay-Timpishka é o rio mais quente do mundo fora de regiões vulcânicas, um fenômeno geotérmico curioso, cuja origem não foi totalmente entendida pela ciência.
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Uma das hipóteses trazidas pelo geólogo é que a água pode vir das geleiras dos Andes, infiltrando-se profundamente no subsolo antes de ser aquecida e ressurgir fervente na Amazônia. Porém, não há nenhuma comprovação que indique que esse é o motivo para o aquecimento das águas do rio.
Além de curioso, o rio fervente também funciona como uma espécie de “laboratório natural” para observar os efeitos do calor extremo sobre a vegetação e o ecossistema local.
Em outubro de 2024, um estudo publicado na Global Change Biology, conduzido por Alyssa Kullberg, Riley Fortier e equipes de cientistas do Peru e dos Estados Unidos, acompanhou durante um ano as variações da temperatura do ar ao redor do rio, registrando mudanças no ecossistema ao longo de um trecho de apenas dois quilômetros.
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Para isso, os pesquisadores utilizaram 13 dispositivos posicionados em diferentes pontos. Nas áreas mais frescas, a média anual do ar variou de 24 a 25 °C, enquanto nos trechos mais quentes, chegou a 28 e 29 °C, com máximas próximas de 45 °C.
Além das medições do ar, a equipe estudou como a vegetação local se comportava nesse cenário. Árvores grandes, como a Guarea grandifolia, apresentavam dificuldade de crescimento, enquanto espécies mais adaptadas a altas temperaturas, como a sumaúma-barriguda gigante (Ceiba lupuna), se mostraram mais resistentes.
O rio fervente não é apenas uma curiosidade da natureza. Para os cientistas, ele funciona como um experimento sobre como os ecossistemas respondem ao aumento de temperatura, sinalizando os possíveis impactos das mudanças climáticas na floresta amazônica.
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A pesquisa mostrou que algumas espécies vegetais adaptadas a altas temperaturas conseguem sobreviver, mas muitas outras sofrem com a temperatura do ar e do rio.
O calor extremo afeta a densidade de plantas, a distribuição de espécies e possivelmente a presença de insetos e outros animais. Essas descobertas ajudam a prever quais plantas poderiam resistir ao aquecimento extremo, o que poderia ajudar na conservação da Amazônia e da biodiversidade.
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