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A ausência de ursos no Brasil, portanto, não significa escassez, mas sim particularidades ecológicas que moldaram a fauna de cada região ao longo de milhares de anos. | Wikimedia Commons
Em boa parte da América do Sul, avistar um urso não é algo tão distante da realidade. Nos países andinos — como Peru, Bolívia, Colômbia e Equador — o urso-de-óculos divide as montanhas com comunidades locais e faz parte da paisagem das florestas úmidas de altitude.
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A espécie, discreta e adaptada ao clima frio da Cordilheira dos Andes, está presente em vários trechos da região.
Mas essa cena muda completamente quando olhamos para o mapa do Brasil. Mesmo com a vastidão da Amazônia e a grande variedade de biomas do território nacional, o país não abriga nenhum urso em vida livre — e nunca abrigou.
A ausência chama atenção justamente porque o único urso sul-americano vive relativamente perto, do outro lado das fronteiras brasileiras.
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O Tremarctos ornatus, conhecido como urso-de-óculos devido às manchas claras ao redor dos olhos, é o único representante da família Ursidae na América do Sul.
Sua distribuição é bastante restrita: ele ocupa faixas de floresta úmida e matas de neblina espalhadas entre Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia, além de registros raros no norte da Argentina.
O ponto em comum entre todos esses países é a presença dos Andes. É nas montanhas, entre 250 e 4.000 metros de altitude, que o animal encontra as condições ideais para sobreviver.
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Ali, o clima é mais ameno, a vegetação é densa e há oferta de alimento suficiente para uma espécie que vive de forma discreta e solitária.
Quando o mapa parece sugerir uma proximidade óbvia, a resposta costuma estar na geografia. No caso dos ursos, o caminho é bloqueado por uma barreira difícil de ignorar: a Cordilheira dos Andes.
A cadeia de montanhas funciona como um “muro natural” que separa ambientes completamente diferentes. De um lado, estão os habitats montanhosos e úmidos onde o urso-de-óculos prospera.
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Do outro, começam os biomas brasileiros, marcados por florestas tropicais quentes, terrenos planos e clima mais intenso.
Essa transição brusca cria um desalinhamento total entre as necessidades da espécie e o que o Brasil oferece. Não há registros fósseis, descrições antigas ou relatos confiáveis que indiquem que algum tipo de urso tenha ocupado o território brasileiro em períodos passados.
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Pesquisadores apontam uma combinação de fatores que ajudam a entender por que o Brasil ficou de fora da rota desses grandes mamíferos:
A própria formação dos Andes impede a expansão natural do urso-de-óculos em direção ao leste. Além das montanhas, as mudanças rápidas de clima e vegetação dificultam qualquer tentativa de adaptação.
As florestas brasileiras – Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado – não oferecem as mesmas condições que as montanhas andinas. O urso precisa de ambientes mais frios, com matas nebulosas e áreas rochosas, características raras no Brasil.
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O Tremarctos ornatus depende de um conjunto específico de plantas, frutos e abrigos típicos de regiões de altitude. Nas florestas tropicais brasileiras, ele encontraria desafios grandes demais para manter sua rotina e sobrevivência.
Mesmo que conseguisse chegar ao Brasil, o urso-de-óculos enfrentaria competição com animais já adaptados aos ecossistemas locais, tornando ainda mais difícil a ocupação.
Segundo os especialistas, a resposta é direta: muito dificilmente. Mesmo com mudanças climáticas e alterações ambientais, a presença natural de ursos no Brasil é considerada improvável.
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A espécie está tão ligada ao ambiente andino que uma migração espontânea para outras áreas seria incompatível com sua própria biologia.
Em comparação com a mais comum entre pesquisadores, é simples e fácil de visualizar: seria como esperar que um rio transbordasse por cima de uma grande montanha.
A água até pode estar perto, mas a barreira natural faz com que ela jamais alcance o outro lado – exatamente o que ocorre com o urso e o território brasileiro.
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A ausência de ursos no Brasil, portanto, não significa escassez, mas sim particularidades ecológicas que moldaram a fauna de cada região ao longo de milhares de anos.
Enquanto as montanhas andinas guardam o único urso da América do Sul, os biomas brasileiros seguiram caminhos próprios, resultando na imensa diversidade que conhecemos hoje.
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