Gerando falsa ideia de que são inofensivos, vapes têm protagonizado problemas de saúde
Criado como alternativa ao cigarro tradicional e vendido sob a promessa de causar menos danos à saúde, o cigarro eletrônico rapidamente virou febre entre os brasileiros, especialmente entre adolescentes e jovens adultos.
Com design moderno, sabores e a falsa ideia de que são inofensivos, os vapes ocupam o centro de um problema de saúde que vai além dos pulmões: prejuízos causados à boca são visíveis nos consultórios odontológicos.
Uma pesquisa realizada pelo Incor, em parceria com a FMUSP, apontou que o vício em cigarros eletrônicos leva o organismo à uma exposição de nicotina equivalente a 120 cigarros.
Efeitos do vício na saúde bucal - vapor inalado resseca a mucosa oral, altera o pH da boca, favorece a proliferação de bactérias e pode acelerar o desenvolvimento de cáries, gengivite e periodontite.
De acordo com o ortodontista Wagner Alviano, é cada vez mais comum encontrar jovens com retração gengival, manchas nos dentes e até lesões na mucosa bucal.
Impacto do vape na saúde entrou recentemente no debate público após a influenciadora e advogada Deolane Bezerra relatar que acordou com dores no peito e decidiu descartar todos seus cigarros eletrônicos.
Episódio reforçou alerta sobre os efeitos colaterais ainda subestimados desses dispositivos, especialmente entre público jovem, que acompanha figuras públicas e tende a replicar hábitos sem considerar riscos.
Além da nicotina concentrada, que reforça a dependência química, os dispositivos eletrônicos contêm substâncias como propilenoglicol e glicerina vegetal.
Quando aquecidas, elas formam um vapor capaz de causar inflamações, úlceras e alterações celulares em diferentes áreas da cavidade oral.
Situação é ainda mais delicada para quem faz tratamento ortodôntico, já que a mucosa fica mais sensível, o acúmulo de biofilme cresce e o processo inflamatório pode comprometer tratamento.
Uso entre os jovens - um levantamento da OMS, atualizado em 2023, aponta que o uso de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) cresceu cerca de 20% entre adolescentes de 13 a 17 anos em países da América Latina.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam que dois em cada 10 jovens já experimentaram o vape, geralmente adquiridos em comércios informais ou por meio de redes sociais.
Embora o uso de cigarros eletrônicos seja permitido em alguns países sob a justificativa de reduzir danos do tabagismo, diversas entidades de saúde têm recuado diante das evidências crescentes sobre os riscos.
Cigarro eletrônico representa um desafio invisível e progressivo; e no corpo humano é a boca que costuma emitir os primeiros sinais de alerta. Fotos: Pexels