BYD abre megafábrica no Brasil e quer virar o jogo dos elétricos

A fábrica da BYD em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, abriu as portas. Ocupando o terreno que foi da Ford até o anúncio de encerramento da produção da marca norte-americana, em 2021, no Polo Industrial de Camaçari, a nova fábrica terá área construída muito maior em relação ao que era da Ford.

Para se ter uma ideia, apenas o primeiro módulo apresentado agora é maior do que toda a área construída da Ford. E todos os prédios da antiga fábrica foram demolidos.

“Levamos apenas 15 meses entre iniciar as obras e entregar o primeiro veículo em caráter experimental da nossa linha de produção. Esse é um momento histórico não apenas para a BYD mas para o futuro da mobilidade sustentável em toda a América Latina. Escolhemos a Bahia pela força de seu povo, pela mão de obra capacitada e por acreditarmos no potencial transformador dessa região, que foi relegada há pouco tempo”, afirmou Stella Li, vice-presidente executiva global e CEO da BYD Américas e Europa.

O veículo experimental originário do primeiro módulo da fábrica da BYD em Camaçari foi um Dolphin Mini, o carro 100% elétrico mais vendido no Brasil desde sua estreia no mercado brasileiro, no começo do ano passado. Outro modelo confirmado para a nova fábrica é o híbrido Song Pro.

“Estamos transformando Camaçari em uma potência para o futuro. O complexo representa uma vitória da inovação, da sustentabilidade e da confiança no Brasil. A BYD chega com tecnologia, investimentos e um propósito: fazer parte do próximo capítulo do setor automotivo nacional. O que estamos vendo na Bahia é um grande salto tecnológico. A BYD agora é uma empresa feita por brasileiros para brasileiros”, destacou Alexandre Baldy, vice-presidente Sênior e diretor Comercial e de Marketing da BYD Brasil.

Maior fábrica fora da China

Segundo a BYD, a fábrica brasileira será a maior da marca fora da China, e sua linha de montagem será uma das mais modernas do mundo, com sistema de sequenciamento inteligente, que prioriza a produção dos modelos com maior demanda.

Cada carro poderá ser rastreado em tempo real enquanto avançar pela linha, com robôs cuidando de tarefas como instalação de vidros e fixação de baterias.

Um sistema de fricção silenciosa manterá os níveis de ruído abaixo de 70 decibéis. Quando for concluída, a área construída da fábrica de Camaçari será a maior da América Latina dedicada à produção de veículos elétricos, equivalente a 645 campos de futebol.

A BYD está investindo R$ 5,5 bilhões no complexo de Camaçari, com estrutura de 4,6 milhões de metros quadrados. Quando todas as fases estiverem prontas, o projeto deve gerar até 20 mil empregos diretos e indiretos.

Ainda antes da conclusão da primeira fase da fábrica de Camaçari, a BYD levou empregados brasileiros à matriz da marca, em Shenzhen, na China, em um intercâmbio em níveis técnicos. A fábrica baiana terá capacidade anual de 150 mil veículos, com expansão planejada para 300 mil na segunda fase.

Inicialmente, a unidade da Bahia será operada no sistema SKD (Semi Knocked-Down) – no qual as fábricas recebem componentes e subconjuntos pré-montados, ao invés de peças individuais como no CKD (Completely Knocked Down).

O SKD permite que a montagem seja feita com menor complexidade e investimento no local, pois parte do processo já é feita na fábrica de origem, no caso da BYD, na China. Não há planos para a produção da parte de motorização e das baterias no Brasil, apenas o desenvolvimento de uma nova tecnologia híbrida.

Quando a nova fábrica estiver funcionando plenamente, fornecedores instalados no Polo Industrial de Camaçari trabalharão diretamente com a BYD. A primeira de 106 empresas fornecedoras de peças e componentes é a Continental Pneus.

Segundo a BYD, a nova fábrica evoluirá gradualmente para produção nacional completa, com Estampagem, Soldagem, Pintura e aumento de conteúdo local nos veículos. O Dolphin Mini e o Song Pro serão mantidos na linha de produção em SKD até que tenham número suficiente de unidades para abastecerem o mercado brasileiro, convivendo com os carros trazidos da China.

Economia local

O recente aumento das alíquotas de imposto de importação, de 25% para elétricos e de 28% para híbridos, também afeta o cronograma da marca chinesa.

“Estes aumentos de impostos interferem no nosso planejamento para a fabricação nacional. Com isso, grande parte tanto do Dolphin Mini quanto do Song Pro continuará vindo da China”, explicou Baldy.

A decisão de construir a fábrica na Bahia foi anunciada em julho de 2023, o lançamento da pedra fundamental ocorreu em outubro do mesmo ano, com a BYD oficializando a posse do terreno, e as obras na nova fábrica se iniciaram em março de 2024.

Nas últimas semanas, mais de 400 pessoas foram contratadas, com cerca de mil já trabalhando para a BYD ao lado das equipes de construção dos módulos da fábrica e da infraestrutura do local. Durante o evento da semana passada em Camaçari, a marca chinesa anunciou a abertura de mais três mil vagas, que serão preenchidas até o final deste ano.

A saída da Ford deixou um sentimento de abandono na cidade de Camaçari, e isso está sendo “capitalizado” pelas autoridades da cidade baiana e pelos dirigentes da própria BYD, que incentiva esse espírito de resgate e de “volta por cima” para a região.

A BYD é líder mundial em veículos eletrificados, ocupando também o primeiro lugar no mercado chinês, incluindo as montadoras tradicionais. A empresa domina todas as etapas do processo produtivo e detém tecnologias-chave no desenvolvimento de baterias, motores elétricos e sistemas de controle.

No Brasil desde 2014, lidera a transição energética e, em maio deste ano, respondeu por nove em cada dez carros elétricos vendidos no mercado brasileiro e um em cada três híbridos. Houve ainda crescimento da rede de concessionárias, chegando atualmente a 180 lojas, com meta de atingir 240 até o final deste ano.