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A história de um dos carros símbolo da Ford | Divulgação
A rivalidade entre Ford e Ferrari na década de 1960 é um dos capítulos mais célebres da história do automobilismo.
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Motivada por uma negociação de compra fracassada, a Ford decidiu desafiar o domínio absoluto da Ferrari na mais prestigiada corrida de endurance do mundo: as 24 Horas de Le Mans. Para isso, foi necessário criar um carro de corrida do zero, um projeto que consumiu milhões de dólares e exigiu soluções de engenharia inovadoras.
Este artigo detalha tecnicamente como a Ford construiu o GT40, o carro que não apenas competiu, mas venceu a Ferrari em seu próprio território.
O projeto Ford GT (Grand Touring) começou em 1963 com um objetivo claro: vencer em Le Mans. A designação "40" refere-se à altura total do veículo em polegadas (aproximadamente 102 cm), um requisito aerodinâmico para atingir altas velocidades na longa reta Mulsanne.
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A engenharia inicial, liderada por Eric Broadley da Lola Cars, estabeleceu as bases do carro, mas foi a evolução técnica posterior que garantiu a vitória.
A estrutura inicial era um monocoque de aço, um tipo de chassi onde a própria carroceria tem função estrutural, garantindo alta rigidez e baixo peso. Versões posteriores, como o Mk IV, utilizariam estruturas de alumínio em colmeia para reduzir ainda mais o peso.
O coração do projeto era o motor Ford. A primeira versão, o GT40 Mk I, usava um motor V8 Ford Fairlane de 289 polegadas cúbicas (4.7 litros). Embora potente, ele não era páreo para a Ferrari na reta.
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A solução foi o motor big-block 427 (7.0 litros), uma unidade de alta cilindrada derivada dos carros da NASCAR, que oferecia torque massivo e uma potência superior a 485 cv.
O design de baixo arrasto era essencial. Testes em túnel de vento foram cruciais para otimizar a estabilidade em velocidades acima de 320 km/h, um desafio que causou acidentes nos primeiros protótipos.
Estes foram os "calcanhares de Aquiles" do projeto. As caixas de câmbio iniciais não suportavam o torque do motor V8. A Ford desenvolveu uma transmissão própria, a Kar Kraft de quatro velocidades, para garantir a confiabilidade.
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Os freios a disco, que superaqueciam e falhavam, foram redesenhados com discos ventilados e um sistema de troca rápida desenvolvido pela equipe de Ken Miles, permitindo a substituição de todo o conjunto em minutos durante um pit stop.
Vencer Le Mans não exige apenas velocidade, mas principalmente resistência para operar no limite por 24 horas seguidas. As primeiras participações do GT40 em 1964 e 1965 resultaram em abandonos por falhas mecânicas.
A virada aconteceu quando a Ford entregou o projeto à Shelby American, de Carroll Shelby. O foco da equipe não foi apenas tornar o carro mais rápido, mas torná-lo indestrutível.
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A chegada do Mk II: A versão de 1966, o GT40 Mk II, foi a que efetivamente venceu a corrida. Ela foi projetada especificamente para abrigar o pesado, porém extremamente potente, motor 427 de 7.0 litros.
A equipe de Shelby implementou um regime de testes rigoroso. Usando um dinamômetro, eles simularam as 24 Horas de Le Mans inteiras no motor, programando o equipamento para replicar as acelerações, desacelerações e rotações por minuto de cada trecho do circuito. O motor era aprovado apenas se sobrevivesse ao teste completo.
O piloto de testes Ken Miles foi fundamental para o desenvolvimento. Seu feedback preciso ajudou a resolver problemas de dirigibilidade, refrigeração e, principalmente, dos freios. Foi ele quem sugeriu e testou as soluções que tornaram o sistema de frenagem confiável.
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A vitória de 1966 não foi fruto de um único carro, mas de uma operação massiva que contrastava diretamente com a abordagem da Ferrari.
Poderio Industrial: A Ford alocou um orçamento quase ilimitado, mobilizando múltiplas equipes (Shelby American e Holman & Moody) e inscrevendo diversos carros para maximizar as chances de vitória.
Foco na Potência e Durabilidade: A estratégia era simples: usar a potência superior do motor 427 para dominar na reta Mulsanne e garantir que o conjunto mecânico fosse robusto o suficiente para durar 24 horas, mesmo que isso significasse um carro mais pesado e menos ágil nas curvas.
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Engenharia Refinada: A Ferrari competiu com a 330 P3, um carro mais leve e ágil, com um sofisticado motor V12 de 4.0 litros. A aposta da Ferrari era na maior eficiência em trechos sinuosos e na tradição de construir carros de corrida vencedores.
Recursos Limitados: Como uma fabricante de menor porte, a Ferrari não podia competir com o investimento financeiro e humano da Ford.
No fim, a abordagem da Ford prevaleceu. A potência e, principalmente, a confiabilidade exaustivamente testada do GT40 Mk II se mostraram a fórmula correta. Em 1966, três Ford GT40 cruzaram a linha de chegada juntos, selando uma vitória histórica e humilhante para a Ferrari.
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O triunfo da Ford em Le Mans foi o resultado de um esforço monumental de engenharia, focado não apenas em construir um carro rápido, mas em desenvolver um sistema à prova de falhas.
A vitória do GT40 representou a aplicação da força industrial e de metodologias de teste rigorosas em um ambiente até então dominado pela tradição e pela arte da construção artesanal.
O projeto provou que, com recursos, estratégia e uma busca incansável pela confiabilidade, era possível construir um carro do zero para vencer os melhores do mundo.
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