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Como a Ford construiu o GT40 para vencer a Ferrari em Le Mans

Uma análise técnica da engenharia, estratégia e desenvolvimento do carro que destronou a hegemonia italiana nos anos 60

Agência Gazeta

17/08/2025 às 06:24

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A história de um dos carros símbolo da Ford

A história de um dos carros símbolo da Ford | Divulgação

A rivalidade entre Ford e Ferrari na década de 1960 é um dos capítulos mais célebres da história do automobilismo.

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Motivada por uma negociação de compra fracassada, a Ford decidiu desafiar o domínio absoluto da Ferrari na mais prestigiada corrida de endurance do mundo: as 24 Horas de Le Mans. Para isso, foi necessário criar um carro de corrida do zero, um projeto que consumiu milhões de dólares e exigiu soluções de engenharia inovadoras.

Este artigo detalha tecnicamente como a Ford construiu o GT40, o carro que não apenas competiu, mas venceu a Ferrari em seu próprio território.

O nascimento do GT40: do conceito à engenharia

O projeto Ford GT (Grand Touring) começou em 1963 com um objetivo claro: vencer em Le Mans. A designação "40" refere-se à altura total do veículo em polegadas (aproximadamente 102 cm), um requisito aerodinâmico para atingir altas velocidades na longa reta Mulsanne.

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A engenharia inicial, liderada por Eric Broadley da Lola Cars, estabeleceu as bases do carro, mas foi a evolução técnica posterior que garantiu a vitória.

Chassi

A estrutura inicial era um monocoque de aço, um tipo de chassi onde a própria carroceria tem função estrutural, garantindo alta rigidez e baixo peso. Versões posteriores, como o Mk IV, utilizariam estruturas de alumínio em colmeia para reduzir ainda mais o peso.

Motor

O coração do projeto era o motor Ford. A primeira versão, o GT40 Mk I, usava um motor V8 Ford Fairlane de 289 polegadas cúbicas (4.7 litros). Embora potente, ele não era páreo para a Ferrari na reta.

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A solução foi o motor big-block 427 (7.0 litros), uma unidade de alta cilindrada derivada dos carros da NASCAR, que oferecia torque massivo e uma potência superior a 485 cv.

Aerodinâmica

O design de baixo arrasto era essencial. Testes em túnel de vento foram cruciais para otimizar a estabilidade em velocidades acima de 320 km/h, um desafio que causou acidentes nos primeiros protótipos.

Transmissão e Freios

Estes foram os "calcanhares de Aquiles" do projeto. As caixas de câmbio iniciais não suportavam o torque do motor V8. A Ford desenvolveu uma transmissão própria, a Kar Kraft de quatro velocidades, para garantir a confiabilidade.

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Os freios a disco, que superaqueciam e falhavam, foram redesenhados com discos ventilados e um sistema de troca rápida desenvolvido pela equipe de Ken Miles, permitindo a substituição de todo o conjunto em minutos durante um pit stop.

Evolução e otimização: a busca pela confiabilidade

Vencer Le Mans não exige apenas velocidade, mas principalmente resistência para operar no limite por 24 horas seguidas. As primeiras participações do GT40 em 1964 e 1965 resultaram em abandonos por falhas mecânicas.

A virada aconteceu quando a Ford entregou o projeto à Shelby American, de Carroll Shelby. O foco da equipe não foi apenas tornar o carro mais rápido, mas torná-lo indestrutível.

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A chegada do Mk II: A versão de 1966, o GT40 Mk II, foi a que efetivamente venceu a corrida. Ela foi projetada especificamente para abrigar o pesado, porém extremamente potente, motor 427 de 7.0 litros.

Testes de durabilidade

A equipe de Shelby implementou um regime de testes rigoroso. Usando um dinamômetro, eles simularam as 24 Horas de Le Mans inteiras no motor, programando o equipamento para replicar as acelerações, desacelerações e rotações por minuto de cada trecho do circuito. O motor era aprovado apenas se sobrevivesse ao teste completo.

Refinamento em pista

O piloto de testes Ken Miles foi fundamental para o desenvolvimento. Seu feedback preciso ajudou a resolver problemas de dirigibilidade, refrigeração e, principalmente, dos freios. Foi ele quem sugeriu e testou as soluções que tornaram o sistema de frenagem confiável.

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A estratégia para a vitória: Ford vs. Ferrari em 1966

A vitória de 1966 não foi fruto de um único carro, mas de uma operação massiva que contrastava diretamente com a abordagem da Ferrari.

Ford (Força Bruta e Orçamento):

Poderio Industrial: A Ford alocou um orçamento quase ilimitado, mobilizando múltiplas equipes (Shelby American e Holman & Moody) e inscrevendo diversos carros para maximizar as chances de vitória.

Foco na Potência e Durabilidade: A estratégia era simples: usar a potência superior do motor 427 para dominar na reta Mulsanne e garantir que o conjunto mecânico fosse robusto o suficiente para durar 24 horas, mesmo que isso significasse um carro mais pesado e menos ágil nas curvas.

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Ferrari (Tradição e Agilidade):

Engenharia Refinada: A Ferrari competiu com a 330 P3, um carro mais leve e ágil, com um sofisticado motor V12 de 4.0 litros. A aposta da Ferrari era na maior eficiência em trechos sinuosos e na tradição de construir carros de corrida vencedores.

Recursos Limitados: Como uma fabricante de menor porte, a Ferrari não podia competir com o investimento financeiro e humano da Ford.

No fim, a abordagem da Ford prevaleceu. A potência e, principalmente, a confiabilidade exaustivamente testada do GT40 Mk II se mostraram a fórmula correta. Em 1966, três Ford GT40 cruzaram a linha de chegada juntos, selando uma vitória histórica e humilhante para a Ferrari.

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O triunfo da Ford em Le Mans foi o resultado de um esforço monumental de engenharia, focado não apenas em construir um carro rápido, mas em desenvolver um sistema à prova de falhas.

A vitória do GT40 representou a aplicação da força industrial e de metodologias de teste rigorosas em um ambiente até então dominado pela tradição e pela arte da construção artesanal.

O projeto provou que, com recursos, estratégia e uma busca incansável pela confiabilidade, era possível construir um carro do zero para vencer os melhores do mundo.

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