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Cotidiano

Em 4 anos, São Paulo ganha 9 mil moradores de rua

População em situação de rua cresceu 60% na cidade de São Paulo entre 2015 e 2019 - e número pode ser bem maior do que o anunciado pela prefeitura

14/03/2020 às 01:00  atualizado em 15/03/2020 às 12:12

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Segundo censo realizado pela gestão Covas em 2019, metade da população em situação de rua acaba ficando sem teto por causa de conflitos familiares, 33% são por problemas com álcool e drogas e, na sequência, vêm desemprego, perda de moradia e passagem pelo

Segundo censo realizado pela gestão Covas em 2019, metade da população em situação de rua acaba ficando sem teto por causa de conflitos familiares, 33% são por problemas com álcool e drogas e, na sequência, vêm desemprego, perda de moradia e passagem pelo | Ettore Chiereguini/Futura Press

Quem anda pelo centro de São Paulo costuma ter a sensação de que há muito mais moradores em situação de rua do que há poucos anos, ao passar em locais como a Praça da Sé, o Largo de São Bento e a Estação da Luz. A percepção não está errada. A população de rua em São Paulo cresceu 60% em apenas quatro anos. Em 2015, segundo dados da prefeitura, esse público era de 15.905. Em 2019, a quantidade saltou para 24.344.

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"O número cresceu demais de alguns anos para cá, de uma forma que chama muito a atenção", diz Caio Ferreira, da Missão Belém, uma associação católica de acolhimento aos sem-teto (leia mais ao lado).

De acordo com um censo realizado pela gestão Bruno Covas (PSDB) no ano passado, metade dos afetados acaba desabrigada por causa de conflitos familiares. Trinta e três por cento são por problemas com álcool e drogas. Na sequência vêm desemprego, perda de moradia e passagem pelo sistema penitenciário.

No início de 2017, recém- empossado no cargo, o então prefeito João Doria (PSDB) chegou a anunciar o fim da cracolândia, região na Luz conhecida pelo alto número de usuários de crack. Só que suas ações consideradas violentas no local criaram um efeito oposto: o de disseminar mini cracolândias por diversas áreas do centro e outros bairros da cidade.

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"Antes, havia uma base do fluxo [ponto de venda de droga]. Aquela ação desastrosa serviu só para aumentar mini fluxos, mini cracolândias pela cidade. E o prefeito Bruno Covas está parecido com o Doria, fechando muitos serviços que havia para a população de rua na Luz", diz Edvaldo Gonçalves de Souza, coordenador estadual do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR).

O coordenador do MNPR discorda da existência de 24 mil moradores de rua. "Esse número é totalmente irreal. Nós estimamos que a população seja de cerca de 40 mil pessoas. A prefeitura não contou as pessoas que vivem em barracos embaixo de viadutos, em barracas improvisadas, em cemitérios".

Após contato da Gazeta, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) explica as ações da prefeitura. "A SMADS possui 134 serviços específicos para população em situação de rua. Destes, cerca de 90 são voltados ao acolhimento, com 17,2 mil vagas".

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A secretaria afirma que em 2019, após a realização do censo, a prefeitura adotou um pacote de medidas que contemplam ações integradas entre diversas áreas, como Assistência Social, Direitos Humanos, Habitação e Cultura.

Para os usuários de drogas, a gestão diz que o Programa Redenção realizou 20.788 atendimentos, entre eles 12.974 internações voluntárias em leitos de desintoxicação em hospitais contratados, entre outras ações, de maio de 2017 a março deste ano.

Nova chance a quem mora nas ruas da Capital

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Com a intenção de recuperar os moradores de rua para que mudem de realidade, a Missão Belém já atendeu 60 mil pessoas em 15 anos de existência. O trabalho da associação católica é o de acolhimento material e espiritual a pessoas que perderam quase tudo. Em geral, para o crack.

São cerca de 600 pessoas atendidas por mês na sede da missão, em um prédio na Praça da Sé. Quem busca por ajuda fica uma semana vivendo no local e, depois, se assim quiser, segue para um dos sítios da instituição no interior de São Paulo, onde fica por seis meses. Para ganhar a confiança desse público, os voluntários da Missão Belém passam uma semana vivendo a vida deles, com todos os perigos e agruras de viver pelas ruas.

Já acolhidos, nenhum deles recebe remédio para deixar as drogas. "Temos dois eixos para recuperar os irmãos: a vivência do Evangelho e a vivência familiar", diz Caio Ferreira, responsável pela comunicação da instituição. A taxa de recuperação é de 53% dos atendidos.

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Macaque in the trees
Rafael e Givaldo, ex-moradores de rua e hoje voluntários da Missão Belém

A Gazeta conversou com dois ex-moradores de rua que se recuperaram no movimento religioso: Givaldo José da Silva, de 39 anos, que iniciou o processo em 2010, e Rafael de Jesus, 34 anos, que foi à missão em 2013. Hoje, ambos são voluntários da instituição. "Na rua eu não tinha a atenção de ninguém. Hoje tenho família, tenho profissão. Quero ajudar os outros a terem a mesma oportunidade", diz Givaldo. "Me envolvi no crime, nas drogas, passei seis anos nas ruas. Hoje estou realizando meus sonhos. Me casei, vou ter um filho, refiz contato com a minha família. Quem me olhava anos atrás nunca imaginaria isso", conta Rafael.

O projeto é mantido por doações e pela venda de trufas da marca Amor em Cacau. As informações para doação e compra das trufas de fabricação própria estão em missaobelem.org/caminho. É possível entrar em contato com o movimento religioso também pelo WhatsApp: (11) 96413-5022.

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