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Policiais que participaram do vídeo revelaram que tudo foi encenado para gerar mais visualizações ao canal do delegado no Youtube
22/09/2021 às 16:35
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O delegado Da Cunha, investigado por enriquecimento ilícito com o uso de vídeos da polícia na internet | Redes sociais/Facebook
Um vídeo publicado no Youtube pelo delegado Carlos Alberto da Cunha, 43, conhecido como Da Cunha, que mostra a suposta prisão de um chefe do PCC e a libertação de um refém sequestrado, não passa de uma encenação. É o que concluiu uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo publicada nesta quarta-feira (22), após ouvir outros policiais envolvidos na ação.
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No vídeo, que está em destaque no canal do delegado, Da Cunha, aparece invadindo um barraco da favela da Nhocuné, na zona leste da capital, e prendendo um sequestrador supostamente ligado à liderança do PCC. Uma vítima de sequestro que seria submetida ao "tribunal do crime" e havia sido capturada um dia antes, é libertada na operação realizada em julho de 2020. O vídeo ganhou grande notoriedade após ser reproduzido em canais de TV aberta.
Contudo, depoimentos obtidos de policiais envolvidos na ação e também da vítima sustentam que o vídeo foi encenado para promover o canal do delegado e gerar mais seguidores para ele na internet.
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A vítima sequestrada, na verdade, já tinha sido liberada por outros policiais (Patrick e Ronald) momentos antes. Mas a fim de parecer que foi Da Cunha quem a libertou, o homem foi colocado de volta ao local para então filmarem a ação e depois publicarem nas redes sociais.
Para convencer a vítima, os policiais afirmaram que a gravação seria juntada ao processo. “Depois soube que a gravação não era para o processo, mas, sim, para o canal do YouTube do delegado Da Cunha e isso lhe deixou extremamente indignado, especialmente porque o delegado mentiu sobre a gravação. [...] Frisa que o policial que realmente o libertou do cativeiro [nem] sequer participou daquela gravação”, disse ele em depoimento ao Ministério Público.
Os depoimentos fazem parte de um inquérito da Promotoria para investigar se Da Cunha obteve enriquecimento ilícito por meio do uso indevido dos vídeos de operações da Polícia Civil.
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Membros da equipe de Da Cunha também confirmaram a farsa em depoimento à folha. O delegado Denis Ramos de Carvalho e o chefe dos investigadores, Renato Araújo de Lima disseram que tentaram convencer Da Cunha a não fazer as gravações e chegaram a pedir para sair da equipe do delegado investigado.
“Pediram para serem transferidos diante daquela situação vexatória de simulação de ocorrências que já haviam sido realizadas legitimamente por policiais civis apenas para dar visibilidade de forma inverídica ao dr. Carlos Alberto da Cunha, que se portava mais como um repórter/apresentador e ainda simulando ser o autor das ocorrências policiais, desprezando o trabalho das equipes policiais do Cerco”, diz um trecho do relatório de depoimentos do investigador.
Ainda segundo os colegas de equipe, Da Cunha só aparecia para trabalhar quando havia operações que poderiam gerar vídeos com mais visualizações na internet.
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Da Cunha foi afastado do cargo em julho deste ano após uma série de procedimentos da Corregedoria contra ele, a maioria por uso impróprio das redes sociais. Pouco depois, o policial pediu licença do cargo e filiou-se ao MDB para as eleições. Diz querer ser governador.
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