O jumento - também conhecido como asno ou jegue -, domesticado há mais de 7 mil anos, sempre foi essencial no trabalho rural, mas perdeu espaço com a mecanização do campo e o avanço da tecnologia. Abandonados, muitos passaram a vagar pelas estradas…Até que a China descobriu uma nova utilidade pra eles.

O ejiao, um produto da medicina tradicional chinesa, promete curar desde anemia até impotência sexual, mas não há comprovação científica. O problema é que ele é feito com colágeno extraído da pele dos jumentos, e, sem animais suficientes na Ásia, o mercado passou a buscar matéria-prima no Brasil, onde encontrou uma mina de ouro.

Os jumentos são comprados por valores baixíssimos e levados a abatedouros na Bahia, onde têm a pele retirada e enviada à China. São transportados em condições precárias, sem alimento, vacinas ou cuidados veterinários, o que favorece surtos de zoonoses. Entre elas, o mormo, doença letal que pode atingir humanos; 95% dos casos graves são fatais em menos de 48h.

Os dados são alarmantes, a população de jumentos caiu 94% entre 1997 e 2024, segundo a Declaração de Maceió, assinada por 12 especialistas, que alertam para
o risco de extinção e pedem a suspensão do abate.

Mas e daí se os jegues desaparecessem? Isso afetaria bem a biodiversidade, eles são adaptados a ambientes áridos e servem de presa para onças-pardas, equilibrando cadeias alimentares já fragilizadas.

Buscando uma solução, uma pesquisa da UFPR, liderada por Carla Molento, desenvolve uma forma de produzir o colágeno por fermentação de precisão, usando leveduras que reproduzem o DNA dos jumentos, um método sem sofrimento animal.

Enquanto isso, a UFBA mantém um grupo de jumentos resgatados, estudando o leite de jumenta como alternativa nutritiva e sustentável. A verdade é que há muitos motivos para proteger esses animais, tanto ecológicos como de saúde pública. Afinal, foram nossos companheiros e aliados por muito tempo.