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Bruno Hoffmann

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Theatro Municipal: Abertura de calçadões para carros gera críticas

Especialista explica por que é uma ideia ruim abrir vagas de zona azul em calçadões do centro: 'Pedestre é quem confere vida à cidade'

20/01/2023 às 13:29  atualizado em 20/01/2023 às 14:53

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Theatro Municipal de São Paulo

Theatro Municipal de São Paulo | Divulgação

A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta semana que vai abrir 275 vagas de estacionamento de zona azul nos calçadões históricos no entorno do Theatro Municipal, na região central da cidade, para frequentadores noturnos do equipamento cultural. A intenção é oferecer o espaço para carros no período entre 19h e 2h. 

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Só que a iniciativa de permitir automóveis em lugares que antes eram apenas para pedestres gerou uma onda de críticas de especialistas em mobilidade urbana, em um momento em que se discute em nível mundial a diminuição da circulação de carros nas grandes cidades, principalmente nas áreas centrais das metrópoles.

A coluna conversou com Rodrigo Iacovini, coordenador da Escola da Cidadania do Instituto Pólis, uma instituição que promove estudos e pesquisas sobre questões urbanas. Segundo ele, nada justifica a decisão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

De acordo com a Secretaria de Mobilidade e Trânsito (SMT) e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), serão 275 vagas ao total: 200 na Alameda Barão de Itapetininga e nas ruas Conselheiro Crispiniano e Marconi e mais 75 em vias do entorno.

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Leia a entrevista com Rodrigo Iacovini, do Instituo Pólis:

Por que você considera uma péssima ideia do prefeito a abertura de vagas de zona azul nos calçadões em volta do Theatro Municipal?

O centro de São Paulo tem passado por um período delicado. Quem transita pela região percebe a diferença dos últimos anos, principalmente por conta da pandemia, que fez com que comércios fechassem, que deixasse de haver festas nas ruas, de haver encontros. Deu uma baixada dessa vida pública na pandemia e no pós pandemia. Agora é preciso fazer algo no sentido contrário: retomar essa vida pública, retomar esse espaço com mais incentivo tanto para o pedestre quanto para a ocupação desse espaço. Quando se instala vagas para carros, mesmo que seja no período noturno, isso gera obstáculos, gera uma circulação de carros que vai fazer com que o pedestre não se sinta à vontade de circular ali. Até pode causar acidentes, porque um pedestre pode correr de uma rua para a outra imaginando que não passa carro, mas passa, mesmo que seja em baixa velocidade.

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Uma das alegações da prefeitura é que a região próxima ao teatro tem baixa frequência de pedestres no período noturno.

Por que será que não tem muito movimento ali? Justamente porque são áreas que têm estabelecimentos fechados, que muitas vezes não tem iluminação adequada. Deveria ser estimulada a presença dos pedestres naquela área, e não colocar vagas de estacionamento porque está baixa a presença de pedestres.

Mas há alguma justifica considerável para abrir vagas para carros nesses calçadões?

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Nenhuma, é completamente sem necessidade. O Theatro Municipal muitas vezes é usado por classe média e classe média alta, e essas classes podem voltar a usar o transporte público. Existem várias linhas de ônibus e de Metrô em volta do Theatro Municipal. Mesmo os que são mais resistentes em usar o transporte público, têm táxi e motoristas por aplicativo. Não é verdade que isso [falta de vaga de estacionamentos] impacta na presença do Theatro Municipal. As classes mais baixas, quando conseguem frequentar o Municipal, vão de ônibus, vão de Metrô, mas vão.

Qual o papel que mais gente na rua tem para o bem-estar de um lugar?

O pedestre é quem confere vida para as cidades. As movimentações, as dinâmicas, o cotidiano da cidade são levados pelos pedestres. Se um lugar é agradável, gostoso e vivo, é porque tem muito pedestre circulando. E vice-versa: os pedestres circulam por onde é agradável, por onde não tem obstáculos, se sente seguro para andar. É um círculo virtuoso. Quanto mais tem condições do pedestre andar, mais ele anda, e com isso mais vida tem a cidade, mais se torna um ambiente agradável. Várias pesquisas e estudos comprovam isso. Essa é a razão de muitas cidades estarem justamente procurando ampliar o espaço para o pedestre, como Barcelona e Nova York. Embora sejam realidades diferentes das cidades brasileiras e de São Paulo, a lógica faz sentido para lá e para o Brasil também. Não é à toa que a própria prefeitura [de São Paulo] tem projetos de qualificação de áreas centrais.

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Já houve tentativas anteriores de permitir carros novamente nos calçadões do centro da Capital?

Ao longo das décadas houve diferentes tentativas de desconstituir o calçadão e voltar a ser uma área de circulação de automóveis. Isso, infelizmente, é porque vivemos sob uma "carrocracia", um governo do carro na nossa mobilidade. Isso tanto polui, danifica o meio ambiente e impacta o clima da cidade quanto dificulta a mobilidade das classes mais baixas. Além disso, o carro impede essa vida mais ampla e gostosa de cidades que o pessoal muitas vezes curte muito quando vai para a Europa, para se sentar, tomar um café. O carro é o grande vilão dessa história, e de novo estão entando forçando uma entrada e retomar um espaço que já foi tomado pelo pedestre.

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