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Em 1992, Fernanda Abreu compôs e interpretou uma música que hoje parece profética diante dos recentes acontecimentos na capital fluminense
04/11/2025 às 01:00
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Comando Vermelho, as milícias e outras facções já controlam cerca de um quarto do território carioca | Marcos de Paula/Prefeitura do Rio de Janeiro
Em 1992, Fernanda Abreu compôs e interpretou uma música que hoje parece profética diante dos recentes acontecimentos na capital fluminense. Uma operação de grande escala foi conduzida pelo governo do estado, em cumprimento de diversas ordens judiciais, resultando em um número de mortes sem precedentes na história do Rio de Janeiro.
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O verso “purgatório da beleza e do caos” resume com precisão a realidade dessa cidade outrora “maravilhosa”. Cenas dignas de um cenário de guerra invadiram as salas de estar dos brasileiros: drones lançando bombas, fuzis, blindados e um contingente de 2.500 agentes, algo impensável em qualquer país democrático do mundo.
O Comando Vermelho, as milícias e outras facções já controlam cerca de um quarto do território carioca. Há muito tempo o crime é romantizado, envolto em uma aura de fascínio e elogio, mas essa exaltação transformou-se no grande problema do estado, e, em certa medida, de todo o Brasil. O culto à malandragem, outrora símbolo cultural, tornou-se um estorvo.
O crime organizado sempre esteve entrelaçado ao cotidiano fluminense, basta lembrar que muitas escolas de samba são historicamente financiadas pelo jogo do bicho. De Castor de Andrade, Marcinho VP ao Doca, atual chefe do CV, percorremos poucas décadas e muita ilicitude.
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Na mesma balança, pesam os políticos: quase todos os últimos governadores do Rio de Janeiro foram presos. Nesse caldeirão de contravenções, omissões e condescendências, forjou-se um monstro: o crime organizado que hoje está fortalecido e disposto a enfrentar as forças do Estado. A crise da segurança pública ultrapassa os limites cariocas e assume proporções nacionais.
No cenário polarizado, a direita culpa a esquerda e vice-versa. No entanto, é preciso lembrar que todos os governadores fluminenses presos pertencem a partidos tidos como os de direita. Por outro lado, o petismo evita tratar do tema, preso à narrativa de que o criminoso seria uma vítima da desigualdade ou um opositor do capital.
Já o outro polo político aposta em políticas de combate pesado e ocupação militar, mas sem qualquer proposta social que permita ao Estado se firmar e o crime se afastar. Entre esses extremos, estamos nós, a população, que assiste impotente, sem enxergar uma saída no curto prazo. Rio 40 graus: purgatório da beleza e do caos.
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