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Geovana Borges

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Não é sobre tráfico, é sobre desigualdade institucionalizada

Quase 60% sairiam do tráfico caso tivessem renda

26/11/2025 às 03:00

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Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro; pesquisa do Data Favela foi lançada no último dia 17 de novembro

Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro; pesquisa do Data Favela foi lançada no último dia 17 de novembro | Fernando Frazão/Agência Brasil

O maior raio-X já feito sobre o crime nas favelas, ouvindo 3.954 moradores, expõe uma verdade incômoda, não existe ‘território dominado’, existe território abandonado. 

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A pesquisa do Data Favela lançada no dia 17 de novembro, desmonta clichês repetidos por quem nunca pisou nos becos e vielas. Revela que a violência não nasce da favela, mas do vazio deixado pelo Estado e da indiferença do setor privado, que só aparece para lucrar, nunca para investir em dignidade. 

Enquanto governantes disputam narrativas, e empresas se escondem atrás de responsabilidade social de fachada, a população segue à própria sorte. Mudar esse cenário exige coragem coletiva: poder público, privado e sociedade civil agindo juntos, sem desculpas.

Maior raio-X da história ouve 3.954 pessoas no crime e desmonta clichês sobre favela e tráfico

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A pesquisa mostra que, em todo o ecossistema, 79% dos entrevistados são homens e 21% mulheres; e menos de 1% se declarou LGBTQIAPN+.

A mãe é a figura mais importante para 43% dos respondentes; filho (as) representam 22%, e referências femininas (mães, avós, tias, companheiras) somam 51% dos vínculos afetivos mais citados. 

Além disso, 84% afirmam que não deixariam um filho entrar para o crime.

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  • Pesquisa inédita mostra que 58% dos envolvidos com o tráfico sairiam do crime com trabalho e renda.  
     
  • Metade do crime é jovem: 50% dos entrevistados têm entre 13 e 26 anos, a maioria nascida e criada na favela.
     
  • Tráfico paga pouco: 63% ganham até dois salários mínimos e um terço faz “bico legal” para complementar renda, 84% dos que vivem do crime não aceitariam ver os filhos na mesma vida, aponta Raio-X da Vida Real. 
     
  • Falta de dinheiro, não de família: 49% entram no crime por necessidade econômica, não por “família desestruturada”.

Negros, religiosos e trabalhadores: quem é, de fato, o Brasil que está no crime segundo o Data Favela.

  • Tráfico e saúde mental: 39% têm insônia, 33% sofrem de ansiedade e 19% relatam depressão;
     
  • Sistema de justiça no espelho: curso mais desejado por pessoas no crime é Direito, revela pesquisa.
     
  • Queria ter estudado: 41% dos entrevistados dizem que mudariam a vida voltando para a escola

Os dados revelam preferência por guardar dinheiro fora de bancos. A casa própria aparece como o principal sonho de consumo - seja para si ou para a família. 

A pesquisa também mostra que, em várias categorias, poucas marcas concentram a maior parte das preferências dos entrevistados. O lazer coletivo é predominante.

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A percepção sobre o próprio futuro é majoritariamente otimista: 63% avaliam positivamente seu futuro pessoal; 60% têm visão favorável ou muito favorável sobre o futuro da favela; 68% afirmam que não sentem orgulho do que fazem.

Os dados do Data Favela não deixam espaço para desculpas, sabemos onde falhamos, quem foi deixado para trás e o preço que pagamos por essa omissão coletiva. 

Como executiva do terceiro setor, reafirmo que nenhuma política de segurança será eficaz enquanto tratarmos a favela como problema, e não como potência. 

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O poder público precisa assumir seu papel, o privado, seu dever de investir além do marketing social, e a sociedade civil, sua capacidade de mobilização. Se cada um continuar terceirizando responsabilidades, nada mudará. 

Mas, se finalmente nos unirmos, podemos transformar esse retrato duro em um novo futuro possível.

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