Se você se enxerga como um “cargo”, já perdeu para a IA — ela só não bateu na sua porta ainda. A pergunta que importa é outra: qual é o seu valor econômico pessoal?

O dia em que inverti a lógica do trabalho

Há 14 anos, eu começava minha carreira corporativa como analista de dados em uma das maiores montadoras do mundo. Na área financeira, eu precisava fazer o fechamento mensal — tarefa comum no financeiro — e só entregava o resultado no D+4: se o fechamento era no dia 1, o material saía lá pelo dia 5.

De todo esse tempo, três dias e meio eram só para manipular e organizar dados em planilhas Excel — um trabalho que, até hoje, muita gente sofre para executar.

Como eu tinha background de código, desenvolvimento e engenharia, automatizei a planilha. No dia 1, eu apertava um botão e, em meio dia, o resultado estava pronto. Sobrou três dias e meio para fazer análise. Eu inverti a lógica do meu trabalho: saí do modelo de tarefa repetitiva para o de inteligência aplicada, mergulhando na análise profunda dos dados.

Cargo x valor

Quem se pensa como um cargo atrelado a tarefas repetitivas já foi substituído pela IA — essa onda só não chegou à sua organização ainda.

Quem entende seu valor econômico pessoal, esse está garantido no futuro da era da IA.

A pessoa que entrou no meu lugar, por exemplo, já não precisava organizar a planilha: a automação fazia isso. O trabalho dela evoluiu naturalmente para um papel cognitivo de maior valor. Se ela se definisse como “organizador de planilha”, não teria função.

O valor econômico que ela gerava eram as melhores análises sobre aquele fechamento. Foi o que aconteceu comigo: eliminei tarefas repetitivas e adicionei tarefas de alto valor cognitivo, o que me fez crescer na organização.

A régua da complexidade cognitiva

Olhe para o seu trabalho pelos níveis de complexidade cognitiva.

Tudo o que é repetitivo será facilmente substituído pela IA — inclusive análises repetitivas ou comuns. Hoje, seu trabalho está muito mais em dois eixos:

• 1. o valor que você gera na ponta, e
• 2. sua capacidade de treinar modelos de IA para executar o restante,
• do que na simples execução efetiva da tarefa.

O caso da radiologia

Há anos se fala que médicos radiologistas seriam substituídos por IA. Parte do trabalho já foi. Tenho um grande amigo na área de IA trabalhando na Overjet, uma das startups mais bem investidas nesse campo nos Estados Unidos, para radiologia dental. O diagnóstico hoje sai dez vezes mais rápido e mais barato do que um radiologista fazia, no entanto nunca se contratou tantos radiologistas!

Pois é o radiologista quem dá a análise final, revê cada ponto determinado pela IA e calibra o sistema para ficar cada vez melhor. O valor econômico pessoal do radiologista não era olhar a imagem, e sim dar o melhor diagnóstico — e isso hoje é amplificado pela IA: mais diagnósticos, em menos tempo, com mais qualidade.

Conclusão

Se você se enxerga como tarefa, a IA te substitui. Se você se enxerga como valor, a IA te amplifica.

A pergunta que você precisa responder — e agir a partir dela — é simples e definitiva: qual  é o seu valor econômico pessoal?