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Marcelo Marrom

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Não é biscoito e sim bolacha

Sou um carioca que mora em São Paulo há muitos anos; nascido e criado em Niterói, eu e minha família viramos uma espécie de anfitriões para todos aqueles da família que, vez ou outra, vêm visitar a terra da garoa

27/09/2025 às 09:30

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Rua 25 de Março é uma das mais famosas de São Paulo; local é conhecido pela movimentação do comércio

Rua 25 de Março é uma das mais famosas de São Paulo; local é conhecido pela movimentação do comércio | Marcello Camargo/Agência Brasil

Sou um carioca que mora em São Paulo há muitos anos - quase 20, pelas minhas contas. Nascido e criado em Niterói, eu e minha família viramos uma espécie de anfitriões para todos aqueles da família que, vez ou outra, vêm visitar a terra da garoa.

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É quando eles - os meus familiares - vêm passar um tempo por aqui que eu viro quase um guia turístico e cultural. Preciso explicar a cada um que chega que, por aqui, não é "biscoito", e sim "bolacha". Não é "sinal de trânsito", e sim "farol".

Sou apaixonado por esta cidade. Até o cinza que me cerca me encanta. Vejo poesia em tudo: nas pinturas artísticas expostas em paredes gigantes, no cardápio combinado - Deus sabe lá como - entre todos os donos de restaurante que, por algum motivo, determinaram que quarta-feira é dia de feijuca. Enfim, cada detalhe me encanta.

Até o dia em que, após tanto tempo morando em São Paulo, fui pela primeira vez passear na 25 de Março.

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Eu já havia visto a famosa rua pela televisão e escutado os mais diversos relatos sobre a experiência de imersão naquele lugar onde tudo se encontra. Confesso que evitei esse passeio por longos anos - até que meu tio Jorge, morador de São Gonçalo, flamenguista apaixonado e amante do Carnaval, se interessou pelo local.

Tio Jorge é daqueles que sabe todos os sambas da Grande Rio dos últimos 20 anos. Sabe a letra, o enredo e ainda dá diagnósticos apontando os erros e acertos que levaram a escola à derrota ou à vitória.

Ah, tio Jorge... Ele, que na infância me levou pela primeira vez ao Maracanã; ele, que foi meu fiador no primeiro apartamento alugado. Devo muito a tio Jorge. E foi por isso que não pude negar quando, ao telefone, ele me pediu para levá-lo à 25 de Março assim que chegasse a São Paulo. Marcamos o inusitado passeio.

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Não consigo descrever o que é aquele lugar. Muita gente vendendo muita coisa. Uma pessoa gritando “Olha o Homem-Aranha!”. Uma loja que vende panelas e colchonetes ao mesmo tempo. Enfim, o caos estabelecido - o inferno na Terra. Meu tio, por sua vez, estava encantado e comprava quase tudo que via pela frente.

Um apito que reproduzia o som de uma criança gritando “neném”; um cachorro de pelúcia que mexia a cabeça quando a música tocava... Tudo parecia fazer sentido para meu tio, que, ao ser questionado sobre o que precisava comprar, havia me respondido que só queria “dar uma olhadinha nas coisas”.

E como toda boa história precisa de uma surpresa, guardei a minha para o final.

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Dois meses depois desse fatídico passeio, tio Jorge me ligou esbravejando, com um certo ar de revolta e decepção com a minha pessoa. O motivo? Explico agora.

Ele havia comprado um tênis e, ao usá-lo pela primeira vez, acabou virando piada entre os amigos. O tal tênis, de uma marca famosa pelas três listras em sua logomarca, apresentava quatro listras. O solado já estava descolando no primeiro uso. Com uma voz nada doce, ele afirmou:

“Não aceito nada falsificado.”

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Pensei na resposta que daria, repensei, e soltei a frase:

“Então dá uma olhadinha na rainha de bateria da sua escola este ano.”

Achei que perderia a amizade do meu querido tio - mas ele caiu na risada e ainda sugeriu comprar um tênis igual para a Virgínia.

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“Quem sabe, com a sola descolando, o samba no pé não aparece?”,  disse ele.

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