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Se o barco do 'mito honesto' afundar, os marinheiros já estão cada um pegando seu bote; os únicos que ficam sem salva-vidas, como sempre, somos nós
02/07/2021 às 15:41 atualizado em 27/06/2023 às 11:31
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Deputada Joice Hasselmann (PSL) durante apresentação do superpedido de impeachment | Leonardo Hladczuk/Futura Press/Folhapress
O que é preciso ser para governar um país? Bom, poderia elencar dezenas de predicados que fariam com que um ser humano fosse credenciado a administrar uma nação, porém, no Brasil só é necessário ser honesto. Esse raciocínio, segundo a deputada federal Joice Hasselmann (PSL), foi o que a fez apoiar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas últimas eleições. Ainda nas palavras da parlamentar: “ele era burro e tosco, mas era honesto”.
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Joice esqueceu de citar que o então deputado federal não tinha uma atuação brilhante na Câmara apesar de 27 anos de mandato. Em vez de propostas para o País, Bolsonaro ficou famoso por apologia à tortura e por falar a uma colega: “Não te estupro porque você não merece”. Mas é honesto. Interessante que o mesmo país onde o “rouba, mas faz” elegeu Paulo Maluf prefeito da Capital duas vezes e uma vez governador do estado de São Paulo. Tudo mudou quando denúncias de corrupção pipocaram aos montes nos governo de Lula e Dilma (ambos do PT). Mensalão, petrolão, Lava-Jato, chega! Os brasileiros cansaram dessa roubalheira toda e optaram pelo tosco, mas honesto. Burro, mas honesto. Preconceituoso, mas honesto. Defensor da tortura, mas honesto.
Porém essa imagem ilibada do político “incorruptível”, do mito, que no dicionário tem como sinônimo a palavra mentira, começa a ruir. Depois do abafamento do caso da rachadinha no gabinete dos Bolsonaros, chega à PGR (Procuradoria Geral da República) a grave denúncia do crime de prevaricação do governo Bolsonaro no caso da Covaxin. Ministério da Saúde teria dispensado a Pfizer e outras fabricantes de vacina contra a Covid-19 para dar preferência para a vacina indiana, cujo o contrato seria superfaturado. Ainda no tema vacina, há a denúncia de que um agente do Ministério teria cobrado propina de 1 dólar por dose da vacina da Astrazeneca.
A resposta do presidente a todas essas acusações é a mesma que o Lula disse na época do mensalão e Dilma no petrolão: “Não sabia de nada”. A diferença é que o suposto esquema de corrupção agora envolve diretamente a escolha entre vida e morte dos brasileiros. Culpando funcionários do Ministério da Saúde, Bolsonaro tenta não derrubar o mito que o elegeu. E enquanto isso, partidos de esquerda, direita e até do centro se unem em um superpedido de impeachment na Câmara. Se o barco do honesto afundar, os marinheiros já estão cada um pegando seu bote para se salvar. Os únicos que ficam sem salva-vidas, como sempre, somos nós.
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