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RIQUEZAS

Sementes ancestrais florescem em SP com a ‘bênção’ de quilombolas do Brasil Central

As notícias do campo por Nilson Regalado

ALINE

Publicado em 05/03/2021 às 19:59

Atualizado em 05/03/2021 às 20:02

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Diferentes tipos de grãos que o Brasil tem / Khudoliy

Responsável por números gigantes nas exportações brasileiras e forte na demanda por novas tecnologias, o agronegócio é só uma nuance da riqueza que se esconde nos confins do Brasil. Em todos os segmentos do agro, há uma silenciosa resistência cultural que atravessa séculos, a preservar ancestralidades dos primeiros povos que habitaram este País e dos negros que para cá vieram. Dessa fusão de indígenas com africanos, de Nhanderu com Oxalá, surgiram sementes crioulas que florescem vigorosas e com características genéticas quase exclusivas.

Perfeitamente adaptadas ao clima, ao solo e aos tratos que o caboclo sabe dar, elas são resistentes a pragas e doenças, o que dispensa o uso de venenos agrícolas. Então, por que o agricultor paga royalties aos grandes laboratórios estrangeiros que desenvolvem sementes de “última geração”, mas exigem tanto agrotóxico? Simples: sementes crioulas são menos produtivas e o investimento em pesquisa para potencializar suas qualidades é escasso...

Mas, as crioulas resistem entre quilombolas, indígenas e pequenos agricultores nos quatro cantos do País. Neste exato momento, sementes de arroz provavelmente trazidas nas caravelas, como tantas outras escondidas na carapinha de negros escravizados, florescem às margens do Rio Pardo, na rica região de Ribeirão Preto, berço do agronegócio exportador paulista.

A área cedida pelo Departamento de Meio Ambiente e Agriculturas Regenerativas do Instituto Nova Era foi transformada em ‘berçário’ para multiplicação de três variedades de arroz doadas pelo povo Kalunga. Os kalunga descendem de negros fugidos das senzalas nos séculos 18 e 19 e habitam a maior comunidade quilombola do Brasil Central, na Chapada dos Veadeiros, no Goiás.

A boa notícia é que as plantas apresentaram alto vigor e cachos repletos de grãos sadios mesmo em terras tão distantes, com clima diferente do Cerrado. Com a boa colheita no Interior Paulista, o arroz kalunga será armazenado até outubro. Quando a natureza reiniciar seu ciclo e o Rio Pardo novamente invadir a várzea, a fertilizar naturalmente a terra, o grão preservado pelos quilombolas por séculos e colhido agora será outra vez plantado no ‘berçário’, a multiplicar as sementes crioulas...

Enquanto isso, os grandes fazendeiros gaúchos comemoram novos investimentos no Porto de Rio Grande, maior exportador de arroz da América do Sul. E contabilizam lucros com os preços recordes do arroz desenvolvido nos anos 1960 por Norman Bourlaug, o pai da Revolução Verde. Bourlaug venceu o Prêmio Nobel da Paz, ao multiplicar exponencialmente a produtividade das lavouras em todo Planeta com tecnologia que, depois, foi “aprimorada” e provocou explosão no consumo de venenos agrícolas...

Filosofia do campo:
“Você não consegue construir a paz com estômagos vazios”, Norman Bourlaug (1914/2009), engenheiro agrônomo norte-americano, pai da Green Revolution e Prêmio Nobel da Paz em 1970.

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