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Esta edição da festa teve a marca do ineditismo. A Vai-Vai, maior campeã do Carnaval paulistano, com 15 títulos, foi rebaixada pela primeira vez em sua longa história, iniciada em 1930. Por Folhapress
06/03/2019 às 01:52
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Antes que a Mancha Verde entrasse na avenida do Anhembi, no sábado (2), seu presidente, Paulo Serdan, disse que ninguém tiraria o título da escola desta vez. Ele estava certo. Com posições cada vez melhores nos últimos anos, a Mancha conseguiu seu primeiro título do Carnaval em 2019.
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Esta edição da festa teve a marca do ineditismo. A Vai-Vai, maior campeã do Carnaval paulistano, com 15 títulos, foi rebaixada pela primeira vez em sua longa história, iniciada em 1930.
Tanto a ascensão como a queda têm relação com o momento pelo qual o Carnaval em São Paulo passa, com a crise das escolas tradicionais e ascensão de novos destaques. A segunda colocada deste ano foi a Dragões da Real, da torcida organizada do São Paulo, por exemplo.
Com o descenso da Vai-Vai, todas as quatro mais tradicionais escolas estão fora do Grupo Especial: Camisa Verde e Branco e Nenê de Vila Matilde não subiram do Grupo de Acesso, e Peruche foi rebaixada para o Grupo de Acesso 2.
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A melhora gradual de desempenho da Mancha pode ser entendida, em parte, pela ajuda financeira que passou a receber da Crefisa, patrocinadora do Palmeiras. A escola é uma extensão da torcida organizada do clube.
O dinheiro dado para a organizada faz parte da estratégia da dona da Crefisa, Leila Pereira, de conseguir apoio na política do Palmeiras.
Em 2019, ela doou quase R$ 3,5 milhões para que a Mancha fizesse seu desfile. Desde 2016, quando começou a passar dinheiro para a organizada, já deu mais de R$ 6 milhões por meio da lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura).
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Uma outra empresa do grupo de Leila Pereira, a Faculdade das Américas, é patrocinadora da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, entidade que organiza o desfile.
Para efeito de comparação, a Prefeitura de São Paulo repassou R$ 1,18 milhão para cada escola do Grupo Especial, ou seja, menos da metade do que a Mancha recebeu da patrocinadora palmeirense.
No caso da Mancha, a relação de Leila Pereira com a escola é tão próxima atualmente que a quadra da escola de samba passou a se chamar "arena José Roberto Lamacchia [marido de Leila, dono da Crefisa e conselheiro do Palmeiras] & Leila Pereira".
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No desfile deste ano, a escola usou o enredo "Oxalá, salve a princesa! A saga de uma guerreira negra" para contar a história da princesa africana Aqualtune, avó de Zumbi dos Palmares, e, por meio dela, discutir escravidão, intolerância religiosa e direitos humanos.
A Mancha Verde apostou em fantasias com texturas que remetiam à tradição africana, com cores arenosas e terrosas e padrões de pele de onça e de tigre. A riqueza de detalhes foi um ponto forte.
Uma das alas mais impactantes contava com passistas grávidas com mãos acorrentadas, em representação de escravas usadas para reprodução.
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A Vai-Vai fez um desfile de tema similar, "O Quilombo do Futuro", enredo em que dizia que o futuro pertence aos povos filhos de África.
A escola teve dificuldades com alguns carros alegóricos e chegou a parar em alguns momentos. Mas o ótimo samba, o ritmo intenso da bateria e o enredo garantiram um dos melhores retornos do público, com muita cantoria.
O desempenho inconstante da Vai-Vai nos últimos Carnavais já havia aberto crise interna. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente de honra da Vai-Vai, Edimar Tobias da Silva, diz que a agremiação teria R$ 3 milhões em dívidas (não comentadas pela atual diretoria), o que impactaria diretamente na qualidade do desfile.
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