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Cotidiano

Covid-19 causa perdas irreparáveis a 284 mil crianças no Brasil

Arpen-Brasil identificou 12,2 mil crianças de até 6 anos que perderam pai ou mãe entre março de 2020 e setembro de 2021

Yasmin Gomes

03/11/2025 às 23:59

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Usando dados demográficos, de natalidade e de mortalidade, os pesquisadores estimam que 1,3 milhão de crianças e adolescentes de até 17 anos perderam algum cuidador

Usando dados demográficos, de natalidade e de mortalidade, os pesquisadores estimam que 1,3 milhão de crianças e adolescentes de até 17 anos perderam algum cuidador | Divulgação/AltemarAlcantara/Prefeitura Manaus

Mais de 700 mil brasileiros morreram por Covid-19, mas o impacto da pandemia vai muito além das vítimas diretas. Um novo estudo comprova que 284 mil crianças e adolescentes perderam pais, avós ou cuidadores entre 2020 e 2021. Desses, 149 mil ficaram órfãos de pai, mãe ou de ambos.

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A pesquisa, feita por cientistas do Brasil, Reino Unido e Estados Unidos, revela também as grandes desigualdades regionais da orfandade no país. Segundo os autores, o objetivo é chamar atenção para um problema silencioso: os efeitos sociais e emocionais da pandemia sobre quem ficou para trás.

A professora Lorena Barberia, da Universidade de São Paulo (USP), explica que as vítimas indiretas costumam ser esquecidas.

“Os impactos de uma emergência sanitária aparecem primeiro entre os mortos, mas há também aqueles que sofrem com essas perdas”, afirma.

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Usando dados demográficos, de natalidade e de mortalidade, os pesquisadores estimam que 1,3 milhão de crianças e adolescentes de até 17 anos perderam algum cuidador por diferentes razões durante o período — e 284 mil delas especificamente devido à covid-19.

Entre as vítimas da doença:

  • 70,5% perderam o pai;
  • 29,4% perderam a mãe;
  • 160 crianças ficaram sem os dois pais;

A taxa nacional é de 2,8 órfãos a cada mil crianças.

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Os estados com maior índice de orfandade são Mato Grosso (4,4), Rondônia (4,3) e Mato Grosso do Sul (3,8). Já as menores taxas estão em Rio Grande do Norte (2,0), Santa Catarina (1,6) e Pará (1,4).

Infância interrompida

Durante o auge da pandemia, a promotora Andrea Santos Souza, que atua na área da Infância e Juventude em Campinas, no interior de São Paulo, percebeu o impacto de perto. Além dos casos de pobreza e violência doméstica, começaram a chegar pedidos de guarda de tios e avós após a morte de pais e mães.

O trabalho dobrou. Era preciso localizar as crianças, encaminhá-las para programas de assistência e verificar se as famílias recebiam benefícios como o Bolsa Família ou o Auxílio Emergencial.

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Segundo ela, a orfandade ampliou desigualdades. A maioria das vítimas era filhos de trabalhadores de limpeza, transporte, alimentação e serviços informais, que não puderam se isolar. Profissionais da saúde também estão entre os grupos mais afetados.

Cruzamento de dados

O trabalho da promotora chamou atenção de pesquisadores do Imperial College de Londres, que a convidaram a colaborar com o estudo. Com base nos registros brasileiros, foi possível validar os modelos estatísticos e confirmar as estimativas.

Um diferencial importante foi o uso das informações dos cartórios. Desde 2015, as certidões de nascimento no Brasil já são emitidas com o CPF, permitindo cruzar os dados dos filhos com os dos pais, algo raro no mundo.

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Com isso, a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) identificou 12,2 mil crianças de até 6 anos que perderam pai ou mãe por covid-19 entre março de 2020 e setembro de 2021. Embora o levantamento cubra apenas parte da população, ele reforça a gravidade dos números nacionais.

A pesquisa completa mostra que, por trás das estatísticas da pandemia, há centenas de milhares de infâncias interrompidas.

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