A+

A-

Alternar Contraste

Quinta, 15 Maio 2025

Buscar no Site

x

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp
Home Seta

Cotidiano

Elefantes brancos: prédios de R$200 milhões estão abandonados na USP há mais de 10 anos

Edificações de 40 mil m² acumulam lodo e descaso; USP atribui abandono à crise econômica e afirma que vai tocar obras, mas sem dar prazo

Gabriela Barbosa

15/05/2025 às 14:45  atualizado em 15/05/2025 às 16:41

Continua depois da publicidade

Compartilhe:

Facebook Twitter WhatsApp Telegram
Os prédios milionários estão abandonados desde 2014

Os prédios milionários estão abandonados desde 2014 | Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo

Para onde vai o dinheiro público da educação superior? Na USP, melhor universidade da América Latina, para dois prédios abandonados. Desde 2014, duas construções, que custaram mais de R$100 milhões cada, acumulam lodo e mato selvagem no Butantã.

Continua depois da publicidade

O primeiro prédio, que tem 36 mil m², foi projetado para ser um grande centro de convenções. A obra deveria ter sido entregue em 2016 e garantiria mais espaço para eventos importantes da universidade, em seus auditórios com capacidade para mais de mil pessoas.

O prédio do Centro de Convenções tem 36 mil m² e acumula lodo em sua estrutura (Foto: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo)
O prédio do Centro de Convenções tem 36 mil m² e acumula lodo em sua estrutura (Foto: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo)
O prédio que deve abrigar o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) é ainda maior que o Centro de Convenções (Foto: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo)
O prédio que deve abrigar o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) é ainda maior que o Centro de Convenções (Foto: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo)
A mata do Campus rodeia e toma conta do terreno dos prédios (Foto: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo)
A mata do Campus rodeia e toma conta do terreno dos prédios (Foto: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo)

Já o segundo, com estrutura mais moderna, revestida de vidro, foi construído para abrigar o Museu de Arqueologia e Etnografia (MAE). A obra começou em 2013, custando mais de R$120 milhões à USP, e foi abandonada já em estágio avançado.

Os gigantes formam uma paisagem curiosa no principal campus da instituição: prédios grandiosos, mas que ninguém pode ter acesso. Até hoje, nenhum aluno entra, nenhuma aula é ministrada, nenhum evento acontece. É um espaço completamente desperdiçado, até o momento.

Continua depois da publicidade

R$ 200 milhões foram só o começo

Segundo a USP, os gastos ocorreram durante a gestão do então reitor João Grandino Rodas. O professor ficou à frente da universidade de 2010 a 2014.

Dessa cifra milionária, R$ 105 milhões foram investidos no primeiro prédio, o Centro de Convenções. As obras começaram em 2012, e a primeira etapa, responsável pela construção de 70% do prédio, foi entregue em 2014. 

Mas ainda faltam cerca de R$ 40 milhões para a conclusão do projeto, prevista para 2016, diz a universidade. A equipe da Gazeta esteve no campus e observou o prédio por fora, um enorme bloco de concreto, sem muitas janelas e faltando acabamento. 

Continua depois da publicidade

O prédio ainda carece de acabamento e acumula lodo e mato selvagem (Foto: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo)O prédio ainda carece de acabamento e acumula lodo e mato selvagem (Foto: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo)

A USP abriu uma série de licitações para que empresas privadas finalizassem a obra. Com isso, a vencedora poderia realizar eventos particulares no prédio. A reitoria informa, no entanto, que nenhuma companhia teve interesse no investimento.

Já o prédio do museu custou R$ 123,5 milhões à USP e deveria ter sido entregue em 2017. A universidade admitiu que a construção foi abandonada já em estágio avançado, devido a cortes no orçamento.

Há um projeto em curso para retomar a obra ainda esse ano. O orçamento previsto, que ainda deverá ser confirmado, é de R$300 milhões para finalização e abertura do MAE. 

Continua depois da publicidade

Para onde foi tanto dinheiro?

Assim como o orçamento milionário, os planos para os prédios abandonados também eram grandiosos. Somente o Centro de Convenções estava projetado para ter três grandes auditórios, com 1.450, 620 e 218 assentos, e um estacionamento para 700 veículos.

Sobre os gastos com o prédio do museu, a USP não conseguiu estipular o percentual de conclusão da obra. Tampouco outros detalhes como capacidade, infraestrutura e equipamentos da edificação foram informados. 

No local, o que se vê é um prédio moderno, com fachada em vidraçaria, e que ocupa grande espaço no campus. Uma estrutura curiosa são aparentes placas solares instaladas no teto da construção.

Continua depois da publicidade

O prédio do museu ocupa um grande espaço no Campus e aparenta ter placas solares no teto (Foto: Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo)O prédio do museu ocupa um grande espaço no Campus e aparenta ter placas solares no teto (Foto: Reprodução/Google Earth)

Ambos os prédios integram um projeto maior da universidade: a Praça dos Museus. Com 53 mil m² de área, essa é mais uma tentativa da USP de reviver a área mais remota do Campus Butantã, agora no novo Plano Diretor, aprovado em 2024.

Por que as obras foram abandonadas?

A USP afirma que as obras foram paralisadas por conta da crise econômica que afetou as universidades estaduais em 2014. A reitoria explica que houve uma queda na arrecadação do imposto ICMS, principal fonte de recursos da instituição. 

Naquele ano, o então reitor Marco Antonio Zago aprovou diversos cortes com o objetivo de conter a crise econômica. Um deles foi suspender a contratação de docentes e demais funcionários, e outro foi abandonar as obras em andamento.

Continua depois da publicidade

O corte sofrido pela universidade foi de R$ 140 milhões em relação ao que era esperado para aquele ano, sobrando cerca de R$ 4,4 bilhões no orçamento.

Tentativas frustradas de finalização

Depois de sete anos de paralisadas, as obras finalmente tiveram a oportunidade de finalização em 2021. Naquele ano, o Governo do Estado enviou R$ 500 milhões à USP — além do orçamento anual — para retomada de obras, mas esse dinheiro não foi utilizado na Praça dos Museus.

Em 2022, a USP traçou um plano para tentar reverter os efeitos da crise de 2014. Para isso, reservou cerca de R$ 2 bilhões de seu orçamento anual para finalizar os prédios. Entretanto, o projeto não saiu do papel e a Praça dos Museus ficou de lado novamente.

Continua depois da publicidade

Apesar das oportunidades, a USP não explicou por que, até agora, as obras dos dois prédios nunca foram retomadas. Com o novo Plano Diretor, mais uma vez há a tentativa de reviver aquele espaço.

O que a população pensa da situação

O descaso incomoda quem passa diariamente nos arredores dos prédios abandonados. Victor, estudante de Oceanografia, repara nas construções há anos. “Eu nem sei exatamente o que é aquela obra, só sei que ela está aí desde 2018, quando comecei a frequentar a USP”.

O aluno acredita que o local não deveria ser utilizado como centro de convenções ou museu. “Uma construção desse tamanho poderia servir de moradia para estudantes, porque o Crusp [atual residência estudantil] tem uma estrutura precária e não consegue abrigar todos os alunos”, completa. 

Continua depois da publicidade

O prédio do Centro de Convenções é completamente rodeado por tapumes que impedem a entrada (Foto: Reprodução/Google Street View)O prédio do Centro de Convenções é completamente rodeado por tapumes que impedem a entrada (Foto: Reprodução/Google Street View)

Já Ian Carvalho, que faz pós-doutorado, já ouviu boatos de que aquele local seria usado para eventos e teria anfiteatros, mas não concorda com esse uso.

“Desde que estou aqui, há mais de sete anos, nunca vi nenhuma obra acontecendo naquele espaço. Acredito que existem outras coisas que a USP poderia se preocupar antes de um anfiteatro desse tamanho, como mais um restaurante universitário”, diz Ian.

Os estudantes concordam que, abandonadas ou não, essas obras não deveriam ser prioridade para a universidade. Apesar disso, expressam sua insatisfação com o fato do projeto estar parado há mais de dez anos.

Continua depois da publicidade

Paula Flores, que mora perto da USP há muitos anos, afirma que viu o processo de construção dos prédios. “Eu vi a obra começar, soube que ia sair um centro de eventos, mas fiquei pensando: será que precisa de tudo isso?”, diz.

“É um descaso muito grande que vejo aqui. Quando passo pelo campus, percebo quantas coisas estão abandonadas”, Paula expressa sua insatisfação. “A universidade tem tanto dinheiro, mas aqui existem prédios sem pintura, faltam computadores. É muito triste.”

*Essa matéria foi escrita em colaboração com a repórter Jenny Perossi

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Conteúdos Recomendados