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O GSI tinha debaixo do seu guarda-chuva a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e era responsável pela segurança pessoal do presidente e do vice-presidente da República
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A desconfiança levou Lula a editar uma medida tirando a segurança presidencial do GSI. | Marcelo Camargo/Agência Brasil
Após a saída do general Gonçalves Dias da chefia do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), integrantes da cúpula do Exército defendem que o órgão siga sob o comando de um militar e retome atribuições que eram da pasta até o início do ano.
O GSI tinha debaixo do seu guarda-chuva a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e era responsável pela segurança pessoal do presidente e do vice-presidente da República.
Ambas as funções, porém, foram retiradas de lá, no contexto de crise de confiança entre o governo eleito e os militares. A Abin passou a responder à Casa Civil. Já a coordenação da segurança pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou à cargo da Polícia Federal.
A avaliação dos militares é que o GSI ficou esvaziado. Essa visão é compartilhada pelo general da reserva Marcos Antônio Amaro, o principal cotado para suceder Gonçalves Dias, pelo comandante do Exército, Tomás Paiva, e pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
Dias pediu demissão da chefia do GSI após a divulgação de imagens do circuito de segurança do Palácio do Planalto registradas durante os ataques golpistas de 8 de janeiro.
Amaro indicou em conversas com aliados que defenderá o retorno da Abin e do comando da segurança do presidente ao GSI, caso seja escolhido para chefiar o órgão. Se a pasta seguir esvaziada, há dúvidas se toparia assumir o posto.
Lula esteve com Amaro na última quinta-feira (20), pouco antes de embarcar para Portugal. Na rápida conversa, o presidente deixou claro que Amaro estava cotado para comandar o órgão, mas afirmou que o governo ainda estudava a estrutura da pasta para decidir o que fazer com ela.
O petista ainda disse, segundo relatos, que tomaria a decisão final quando retornasse da viagem à Europa, na noite de quarta (26), e que procuraria Amaro novamente na volta.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, alas do governo divergem sobre quem deve comandar o GSI. Uma parte defende que a estrutura passe a ser chefiada por um civil, outra alega que é melhor que continue sob a tutela de um general para evitar atritos com as Forças Armadas. Há ainda quem defenda a extinção do órgão.
Segundo ministros do Palácio do Planalto, a tendência é que Lula mantenha o comando do GSI com um militar, com o intuito de preservar a relação com os fardados. Ainda é considerado o fato de o órgão cuidar de assuntos ligados às Forças, como monitoramento de fronteiras, usinas nucleares e ataques cibernéticos.
No Exército, a avaliação é que o órgão deveria ser comandado por um general quatro estrelas da reserva, para garantir que o chefe tenha patente superior à de seus subordinados -o GSI possui ao menos um general três estrelas.
A cúpula da Força ainda se mostrou favorável a aumentar o número de civis em cargos de comando no órgão.
Generais ouvidos pela reportagem afirmam que Gonçalves Dias (três estrelas) não foi indicado pelo Exército para assumir o GSI, tendo sido uma escolha do próprio Lula pela proximidade que os dois tinham.
Amaro, porém, é indicação pessoal do general Tomás Paiva. A indicação foi feita na última quinta durante reunião entre os ministros Múcio, Flávio Dino (Justiça) e Ricardo Cappelli (GSI, interino), além do comandante militar e do ex-ministro Gonçalves Dias.
"O general Tomás Paiva tem longa história de prestação de serviços ao país. Foi ajudante de ordens do presidente FHC, é um democrata. Ele se mostrou absolutamente aberto e pronto a colaborar com qualquer decisão, encaminhamento que a gente der aqui sob a orientação do presidente", afirmou Cappelli à Folha.
"Foi uma reunião para que não restasse qualquer dúvida ou insegurança com relação a essa harmonia e colaboração", continuou.
Cappelli apresentará a Lula um estudo sobre como definir melhor as funções do GSI, que, para ele, tem como principais atribuições atuar na segurança e fornecer informações de inteligência ao presidente.
Na segunda-feira (24), o ministro interino disse que o presidente não pediu a ele que houvesse uma desmilitarização da pasta. "O GSI ao longo de seus mais de 85 anos de história sempre foi liderado por generais do Exército brasileiro. E eu creio que é preciso a gente superar no Brasil esse falso antagonismo entre civis e militares."
O importante, defendeu Cappelli, é definir melhor as atribuições do gabinete. "E é plenamente possível que militares e civis, como já acontece hoje, convivam harmonicamente, independente de quem vai ter a liderança no processo", completou.
Cappelli também afirmou na tarde de segunda que recebeu de Lula a missão de "acelerar a renovação de quadros" do GSI.
"Isso é absolutamente natural em toda mudança de governo. Estamos acelerando e, em paralelo, estamos reunindo informações sobre as funções, as atribuições do GSI, para que o presidente possa tomar a decisão sob a manutenção da atual estrutura -eventuais ajustes, alterações- na sua volta ao Brasil."
Ainda na segunda, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) afirmou que não há "debate no governo sobre mudança ou não no perfil do GSI".
Favorito para assumir o GSI, Marcos Antônio Amaro dos Santos já havia sido cotado anteriormente para ocupar essa função, durante a transição. Após uma primeira sondagem, não foi procurado novamente.
Amaro chegou ao segundo cargo mais importante do Exército, a chefia do Estado-Maior da Força, antes de ir para a reserva em abril de 2022. Com quatro estrelas, ainda comandou o Comando Militar do Sudeste.
Ele desenvolveu relação próxima com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Os laços foram criados quando o general assumiu a Secretaria de Segurança Presidencial em 2010 -função que ocupou por cinco anos.
Ainda participou do processo de criação da Casa Militar, em 2015, sendo nomeado chefe do órgão por Dilma. Deixou o cargo após o processo de impeachment contra a presidente.
Amaro deveria ter ido à reserva antes do fim de seu período como oficial-general quando, em março de 2021, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu nomear o general Paulo Sérgio Nogueira para o Comando do Exército.
Pelos critérios utilizados na Força, Amaro era mais antigo que Paulo Sérgio e, pela tradição militar, deveria ser levado à reserva após um militar mais moderno assumir o principal cargo do Exército.
Num arranjo interno, porém, ele conseguiu permanecer na Força por mais um ano.
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