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Morte do ex-segurança negro George Floyd, nos Estados Unidos, tem causado comoção e protestos em Nova York e pelo mundo | JOHN MINCHILLO/ASSOCIATED PRESS
A morte do ex-segurança negro George Floyd, nos Estados Unidos, tem causado comoção e protestos por todo o mundo. Floyd foi morto por um policial branco durante uma abordagem. Um vídeo mostrando o policial com o joelho no pescoço de George, enquanto o ex-segurança dizia que não conseguia respirar, correu o mundo e trouxe à tona manifestações contra o racismo e a violência policial.
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Além das redes sociais, milhares foram às ruas com cartazes que diziam “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam) e o protesto chegou com força inclusive no Brasil. Mesmo com tantos casos de violência contra negros e pobres no Brasil, alguns se questionaram por que um caso internacional causa mais comoção do que nossa própria tragédia diária. Entre os milhares de casos estão, recentemente, a morte de João Pedro, adolescente negro, que teve a casa invadida e fuzilada com 70 tiros supostamente pela polícia no Rio, o massacre de Paraisópolis, o caso da menina Ághata Felix e o desaparecimento de Amarildo.
Para a antropóloga Raissa Albano de Oliveira, idealizadora e participante do Coletivo Cartografia Negra, apesar da população ser formada a maioria por pretos e pardos, os brasileiros não se reconhecem como tal. “A sociedade brasileira passou e passa por um profundo processo de embranquecimento, elaborado pelos colonizadores e pela branquitude desde a formação do Brasil enquanto nação e ele se mostra extremamente eficaz quando percebemos o quão difícil é para os sujeitos pretos se enxergarem enquanto sujeitos pretos e não enquanto café com leite, morena clara, morena escura, entre outros termos do gênero. Para a população brasileira ser afro-brasileira sempre esteve ligado a ser um cidadão de segunda classe, sempre atrelado a características ruins ou estereotipadas. Então como eu vou ter um povo ativo se eu as pessoas não se reconhecem enquanto parte de um povo em diáspora, como eu posso querer um povo que se comove se não se reconhece ... esse Brasil que não se reconhece como um dos lugares mais pretos do mundo não vai se comover”, analisa.
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Para Valter Roberto Silvério, professor titular do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a negação da existência do racismo no Brasil também contribui para a falta de comoção dos brasileiros. “A mídia brasileira sempre operou com uma técnica de dizer que o problema racial é um problema que ocorre fora do Brasil. Em função da negação que existe no Brasil da existência de racismo, pelo menos até muito recentemente. Então me parece que o trabalho da mídia televisiva e das mídias digitais retiram o problema do Brasil e colocam esse problema como se fosse norte-americano.”
DIFERENTE NO BRASIL.
O presidente Jair Bolsonaro, recentemente, comentou as manifestações antirracistas e disse que no país norte-americano é diferente do que no Brasil, que por lá o racismo estaria “mais na pele”.
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Para Raissa, essa declaração do presidente pode ser analisada pelo ponto de vista das classes e desigualdades sociais que existem no País. “O Brasil é uma sociedade que não se reconhece e não quer se reconhecer enquanto racista. Aqui não houve apartheid legal como nos Estados Unidos. Mas houve e há, sim, um apartheid que tem mecanismos elaborados e se revela quando existem bairros brancos e bairros negros, existe quem é sistematicamente assassinado e quem não é, quem tem acesso a moradia, alimentação e saúde dignas”, finaliza a antropóloga.
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