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O receio, para quem precisa voltar ao dia a dia fora de casa, se justifica por uma série de 'aindas' | Ethan Sykes/Unsplash
Depois de um longo e tenebroso inverno, quando a neve se acumulava nas portas das cabanas, moradores do hemisfério norte começavam a sair de casa para ver a primavera despontando no horizonte. Mas nem todo mundo conseguia sair com facilidade – o medo de ter contato com o mundo, com as pessoas, a ansiedade em pôr o pé para fora as mantinham reclusas. A semelhança dessa situação com a flexibilização na pandemia de hoje não é coincidência, é realidade – foi daí que surgiu o termo “síndrome da cabana”, que voltou ao centro das atenções na atualidade.
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“As pessoas ficavam reclusas em suas cabanas sem contato com a sociedade e, na hora de retomar essa vida social, vinham sentimentos de angústia, ansiedade, medo, receio. É mais ou menos o que estamos vivendo hoje com o isolamento social, e agora com a retomada”, explica a psicóloga e hipnoterapeuta Sabrina Amaral.
O termo ‘síndrome da cabana’ pode significar alguma doença, mas Amaral já tranquiliza: é um estado temporário. “Ele é fruto de uma longa exposição dentro de casa. É como se nosso cérebro ficasse treinado, condicionado a associar segurança com estar dentro de casa. Na hora em que você vai sair para trabalhar, ir ao mercado, retomar o contato com a sociedade, o cérebro pergunta ‘será que é seguro sair? Há um conflito interno e os sentimentos de autopreservação”, conta.
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Esse receio, para quem precisa voltar ao dia a dia fora de casa, se justifica por uma série de “aindas”: ainda não há uma vacina, o coronavírus ainda está no ar, ainda há pessoas que ficam doentes e algumas vêm a falecer. Mas, esse medo pode ser superado com alguns passos simples, que a psicóloga desenvolveu, e que ajudam muito a pessoa a voltar ao convívio no mundo lá fora.
“O primeiro deles é respeitar seu tempo. Não se compare com quem já retomou a vida em sociedade. O segundo é focar a atenção no que está sob seu controle: usar máscaras, higienizar as mãos com álcool gel, por exemplo. Isso vai ser um antídoto para a sensação de travamento e receio. Terceiro, faça as coisas aos poucos. Em um dia, vá até a calçada. Depois, dê uma volta pelo quarteirão, depois pelo bairro, para ir retomando o controle sem causar estresse ou angústia. Em quarto lugar, controle seus pensamentos, você não vai escalar o Everest, vai dar uma volta no quarteirão. E em quinto lugar, se isso não ajudar, procure ajuda profissional”.
E procurar ajuda profissional é muito importante, mesmo porque a dificuldade de sair de casa pode despertar doenças psicológicas que estavam escondidas, como depressão, síndrome do pânico e ansiedade. “Você se esconde no seu trabalho, com a criação dos seus filhos, com a sua rotina, chega à noite em casa, dorme, nem tem tempo de conversar com o marido ou esposa, e acorda e começa tudo de novo. Quando você está em casa, não tem outra alternativa a não ser encarar isso de frente. Você vê como é sua vida”, explica.
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Assim, se está difícil voltar ao novo normal (sair de casa usando máscaras e seguir os cuidados sanitários), procure ajuda psicológica. “É como fisioterapia psicológica. Quando você quebra uma perna e fica muito tempo imobilizado, precisa do fisioterapeuta para dar uma ajuda e voltar a movimentar de novo. Com a psicoterapia, é isso. Às vezes, poucas horas de terapia poupa você de meses de sofrimento”, completa.
Tratando a síndrome
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É importante tratar os sintomas assim que aparecem; assim, se mesmo seguindo as dicas, for difícil sair, a ajuda profissional é necessária. "Quando se está doente, não se espera piorar, ter uma febrona, para procurar um médico. Mas, na parte emocional, as pessoas não fazem isso", afirma a psicóloga Sabrina Amaral. E, quanto mais demorar, os sintomas podem se agravar: a pessoa pode desenvolver síndrome do pânico ou agorafobia (o medo de sair de casa). Dependendo do caso, um suporte com medicamentos pode ser necessário. O remédio trata o sintoma de forma mais imediata, e a psicoterapia funciona como um tratamento para que os sintomas não apareçam novamente.
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