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Cotidiano

Reitor da UFPA diz que o mundo precisa ouvir a Amazônia na COP30

Para Gilmar Pereira da Silva "saberes populares não são inferiores aos acadêmicos"

Bruno Hoffmann

07/11/2025 às 07:00

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Gilmar Pereira da Silva é reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA)

Gilmar Pereira da Silva é reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA) | Alexandre Moraes/UFPA

O reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Gilmar Pereira da Silva, afirmou que a COP30, conferência do clima das Nações Unidas, só cumprirá plenamente sua missão se souber ouvir as vozes das populações tradicionais da Amazônia, em vez de impor soluções prontas de fora para dentro.

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'Nenhuma parte do planeta há uma floresta tão preservada como na Amazônia'/Alexandre Moraes/UFPA
'Nenhuma parte do planeta há uma floresta tão preservada como na Amazônia'/Alexandre Moraes/UFPA
'É preciso entender as vozes dos amazônidas'/Alexandre Moraes/UFPA
'É preciso entender as vozes dos amazônidas'/Alexandre Moraes/UFPA
Reitor da UFPA destacou eventos promovidos pela universidade/Aryanne Almeida/UFPA
Reitor da UFPA destacou eventos promovidos pela universidade/Aryanne Almeida/UFPA
Reitor revelou que a UFPA é a universidade do mundo com mais publicações sobre a Amazônia/Aryanne Almeida/UFPA
Reitor revelou que a UFPA é a universidade do mundo com mais publicações sobre a Amazônia/Aryanne Almeida/UFPA

“Os amazônidas têm conhecimentos extraordinários. Não é à toa que a Amazônia ainda mantém grande parte de seu bioma preservado. Isso se deve ao trabalho de indígenas, quilombolas, extrativistas e outras populações tradicionais”, explicou o reitor em entrevista à Gazeta.

Gilmar Pereira da Silva também destacou a produção científica da UFPA sobre a Amazônia, considerada a maior do mundo, ressaltando que os saberes populares não são inferiores aos acadêmicos.

“São saberes e precisam ser olhados de uma mesma altura. É preciso que esses saberes se encontrem e dialoguem”, completou.

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A conferência em Belém começa na próxima segunda-feira (10/11) e vai até a sexta (21/11), para discutir soluções para um futuro mais sustentável.

Gazeta: A COP30 será um evento que, de fato, ouvirá indígenas e ribeirinhos, ou só oficialmente?

Gilmar Pereira da Silva: Estou tranquilo porque há uma construção coletiva quanto a isso. Tenho acompanhado muito de perto o trabalho das comunidades indígenas, principalmente do Ministério dos Povos Indígenas, que tem se mobilizado fortemente e que tem um espaço aqui na universidade, na nossa Escola de Aplicação, que deve receber 3 mil indígenas das mais diversas etnias brasileiras e do mundo inteiro. Os indígenas terão o seu protagonismo, porque eles sabem fazer o seu protagonismo, não porque alguém ofereceu.

A atuação política dessas populações é constante?

Não é à toa que eles conseguiram ajudar a construir a ideia de se ter um Ministério dos Povos Indígenas e que tenha uma ministra dos povos indígenas que está envolvidíssima, trabalhando para que eles tenham esse protagonismo. A ministra Sonia Guajajara tem estado na universidade permanentemente acompanhando as obras, acompanhando os indígenas e demandando ações nesse sentido.

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E em relação aos ribeirinhos?

As populações tradicionais, de um modo geral, vão fazer o esforço para estar aqui. Nós somos uma região de ribeirinho, a própria universidade é uma universidade ribeirinha. Com certeza terão muitas pessoas vindo das comunidades ribeirinhas, mas ainda não há uma visibilidade como deveria ter para essas comunidades, que são fundamentais e importantes para a região.

Como buscar soluções para as florestas e outros biomas brasileiros que não venham apenas de fora para dentro, mas que sejam propostas de fato por moradores?

Ao longo da história todo mundo entende e fala sobre a Amazônia ao seu modo, e todo mundo tem o direito de falar e defender a Amazônia, isso é muito bom, mas é preciso entender as vozes dos amazônidas. Eu trabalho sempre com essa leitura. Os amazônidas têm conhecimentos extraordinários. Não é à toa que a Amazônia ainda tem grande parte do seu bioma preservado. Essa preservação é feita por indígenas, quilombolas, extrativistas e outras populações tradicionais. Eles cuidam da floresta, dos rios, dos animais, da pesca, porque sabem o quanto isso é importante para suas sobrevivências.

O mundo, então, é que precisa aprender com eles?

Esses saberes precisam ser apropriados pela comunidade do planeta, sejam os cientistas, sejam os empresários, sejam os demais trabalhadores do mundo. Eu penso que a solução para a Amazônia está nos amazônidas, e, sobretudo, nas populações tradicionais.

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Quais são os estudos de destaque da UFPA em relação a mudanças climáticas e ao meio ambiente?

São vários, em todas as áreas. Por exemplo, temos uma atuação grande na educação ambiental que tem sido utilizada por diversas outras universidades. A nossa publicação de artigos hoje sobre a Amazônia é a maior do planeta. A UFPA é hoje a universidade do planeta que mais publica e que mais fala sobre a Amazônia.

A UFPA participará oficialmente de quais eventos da COP30?

A universidade tem o seu espaço local aqui, para receber a Cúpula dos Povos. Também vamos receber a Aldeia COP30 e um barco do Greenpeace. Recebemos ainda nesta semana um barco Brasil-França, que é uma parceria UFPA com a Embaixada da França, a Capes e o CNPq. Estaremos ainda na Zona Azul com um estande. Foi uma conquista muito grande. Antes, temos feito debates ao longo deste ano em universidades do Centro-Oeste e do Sudeste do País, em universidades da Amazônia. Há uma construção permanente que parte de uma política que a gente desenhou, que é chamada Ciências e Vozes da Amazônia na COP30.

O que o restante do Brasil tem a aprender com a região Norte no que diz respeito a práticas sustentáveis?

Nenhuma parte do planeta há uma floresta tão preservada como na Amazônia. Isso é resultado da ação do seu povo. Fala-se muito de biodiversidade, pois bem. As populações tradicionais da Amazônia fazem biodiversidade desde sempre. Desde sempre produzem produtos da floresta e dos rios, comercializam esses produtos e vivem com esses produtos, se alimentam com esses produtos, fazem as suas casas a partir desses produtos. A ação em defesa do planeta, quando se trata da Amazônia, está na Amazônia e está nos amazônidas.

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Qual legado o senhor acredita que a COP30 vai deixar para a Amazônia, para o Brasil e para o mundo?

Termos uma capacidade de respeito aos saberes e compreender esses saberes numa perspectiva vertical. Não há saberes mais importantes do que outros. Não há paper escrito pelo cientista mais importante do que os conhecimentos orais das populações indígenas, dos ribeirinhos, das comunidades quilombolas. Não há uma concepção médica sofisticada que é diferente do conhecimento das parteiras que atuam no Amapá, que atuam por aqui. São saberes e precisam ser olhados de uma mesma altura. Não preciso subir uma escada para falar do saber da academia, do saber da UFPA, da UFAM [Universidade Federal do Amazonas]. Muito pelo contrário. Preciso que esses saberes se encontrem e dialoguem.

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