A+

A-

Alternar Contraste

Segunda, 14 Julho 2025

Buscar no Site

x

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp
Home Seta

Cotidiano

Terreno de prédio que desabou em SP segue com entulho

Quase dois anos depois do incidente que deixou 7 mortos e 291 famílias desabrigadas, o espaço é ocupado por uma alta pilha de entulho que preenche os 600 m² do terreno

08/01/2020 às 14:37

Continua depois da publicidade

Compartilhe:

Facebook Twitter WhatsApp Telegram
Depois que desabou, a prefeitura anunciou que pretendia construir ali um novo prédio com moradias para famílias pobres

Depois que desabou, a prefeitura anunciou que pretendia construir ali um novo prédio com moradias para famílias pobres | Paulo Pinto/Fotos Públicas

Depois de quase dois anos de negociações, o governo federal deve ceder à Prefeitura de São Paulo o terreno do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou no centro da cidade em maio de 2018, para a construção de moradia social.

Continua depois da publicidade

A gestão Bruno Covas (PSDB) avalia erguer ali um prédio de 14 andares, com 56 apartamentos de dois quartos cada um.

Quase dois anos depois do incidente que deixou sete mortos e 291 famílias desabrigadas, o espaço é ocupado ainda hoje por uma alta pilha de entulho que preenche os 600 m² do terreno.

Construído nos anos 1960, o icônico prédio de vidro de 24 andares pertencia ao governo federal - já foi sede da Polícia Federal e agência do INSS. Abandonado desde o fim dos anos 2000, o edifício foi invadido por sem-teto e se tornou moradia precária para centenas de famílias.

Continua depois da publicidade

Depois que desabou, a prefeitura anunciou que pretendia construir ali um novo prédio com moradias para famílias pobres. No ano passado, porém, o governo federal jogou água na ideia da gestão Bruno Covas (PSDB).

Conforme a Folha de S.Paulo revelou, a gestão Jair Bolsonaro (à época no PSL, hoje sem partido) havia decidido vender o terreno, a despeito do projeto da prefeitura. "O imóvel está no plano de alienação do governo federal com alta prioridade", disse a SPU (Secretaria do Patrimônio da União) à época.

Agora, porém, o governo federal voltou atrás. À reportagem da Folha, o órgão informou que pretende ceder o espaço à administração municipal.

Continua depois da publicidade

"Até dezembro de 2019, o governo mantinha a intenção de vender o terreno onde esteve erguido o edifício Wilton Paes de Almeida, porém a Superintendência do Patrimônio da União em São Paulo (SPU/SP) participou de uma reunião com o Secretário de Habitação do Município, na qual o secretário manifestou a intenção de lançar no plano de habitação deste ano um prédio para famílias de baixa renda no local onde houve o desabamento", disse a SPU à reportagem, em nota.

"Naquela oportunidade, o secretário de Habitação ficou com a responsabilidade de apresentar na SPU/SP o projeto e a fonte de recurso para construção do prédio até fevereiro de 2020, condições necessárias para que a SPU possa promover a doação do terreno à prefeitura e assim, com essa parceria, o governo federal também contribuir com esse relevante projeto habitacional da cidade", afirmou.

À reportagem, a prefeitura disse que deve mandar o projeto arquitetônico e o cronograma ao governo até o fim deste mês, mas que ainda não há previsão de quando as obras devem começar, porque primeiro é preciso esperar a transferência do terreno para o município.

Continua depois da publicidade

A gestão Covas diz, porém, que pelos estudos preliminares e o Plano Diretor, "já se sabe que não será possível construir um prédio com as mesmas dimensões do antigo Wilton Paes de Almeida".

De acordo com o projeto, ainda em desenvolvimento, o local comporta um prédio de 14 andares com 56 apartamentos de dois quartos cada um.

As famílias desabrigadas com a queda do edifício não terão prioridade, mas podem ser contempladas com moradias se seguirem os critérios estabelecidos pela prefeitura.

Continua depois da publicidade

Isso deve dar um alívio, ainda que mínimo, à fila da habitação na cidade, que tem déficit estimado em 474 mil moradias.

Também vai dar rumo a mais um ponto degradado no centro da capital. O terreno onde ficava o prédio está abandonado e os tapumes que cercam o entulho com frequência são depredados ou furtados --moradores da região dizem que o local virou ponto de uso de drogas.

Na tarde da última segunda-feira (6), homens instalavam novos tapumes para repor o que foi furtado e fechar o terreno. Foi uma vaquinha: o prédio da frente cedeu as placas de madeira e o prédio ao lado arcou com a mão de obra - R$ 300.

Continua depois da publicidade

"A prefeitura esqueceu isso aqui. Ontem mesmo o entulho ocupava metade da calçada. Nós é que estamos pagando para consertar e limpar essa bagunça", diz o síndico do prédio vizinho, Aparecido Dias, 71.

A prefeitura afirma que faz varrição na região de segunda a sábado, em três turnos.

A queda do Wilton Paes de Almeida revelou uma fachada de um prédio que ficou escondida por 50 anos, a do edifício Caracu, onde funcionou um escritório da marca de cerveja de mesmo nome. Na empena cega que voltou a aparecer em maio de 2018, um grande anúncio dos anos 1950 dizia que "Beber Caracu é beber saúde".

Continua depois da publicidade

Painéis publicitários do tipo são hoje proibidos pela legislação municipal, e o anúncio foi apagado em setembro do mesmo ano.

Agora, a fachada ganha um imenso grafite, assinado pelo coletivo de artistas Os Tupys, grupo que faz arte de rua na cidade desde os anos 1980.

"Foi um presente. A gente conseguiu dar contexto e profundidade ao nosso trabalho", diz o artista Carlos Delfino, 53, do grupo, que explica o desenho:

Continua depois da publicidade

O pano de fundo é um labirinto, "que é a própria cidade", diz Delfino. "Mas é um labirinto que está explodindo", afirma, se referindo a um vulcão pintado na base, que embaralha e distorce o labirinto.

"O vulcão é um símbolo forte, porque está ali, é uma ameaça, mas entra em erupção quando você não espera. Você não tem controle", diz ele, no que seria uma referência à queda do edifício.

Há uma cadeira voando pelo ar, "que é outro símbolo, que representa a política, quem ocupa a cadeira", afirma. E, sobre tudo isso, o desenho de uma mão com uma moeda, "a mão do dinheiro que tentou cobrir tudo", diz ele.

Continua depois da publicidade

De acordo com Delfino, a pintura do mural foi feita a convite da própria prefeitura.

Se um novo prédio for erguido onde antes era o Wilton Paes de Almeida, a empena some de novo e, com ela, o mural dos Tupys. Mas isso não preocupa o artista.

"Desde o começo dos anos 1980, ocupamos vários lugares na cidade, e todos os nossos trabalhos foram apagados. Isso faz parte", diz.

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Conteúdos Recomendados