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A Pedra da Mina fica encravada entre Minas Gerais e São Paulo. | Reprodução/Google Maps
A tecnologia vai ajudar a desbravar uma região cientificamente ainda desconhecida encravada entre Minas Gerais e São Paulo.
Há cerca de dez dias, uma estação meteorológica entrou em funcionamento no pico da Pedra da Mina, considerado oficialmente o quarto ponto mais alto do Brasil, a 2.798 metros de altitude, na Serra Fina, uma seção da Serra da Mantiqueira, divisa entre os dois estados.
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"A gente não tem informação nenhuma de lá", afirma o professor José Alberto Ferreira Filho, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Tecnologia da Informação da Unifei (Universidade Federal de Itajubá), escola que participa do projeto.
"Não sabemos qual o regime de ventos, temperatura, e, hoje, a eletrônica permite retirar dados como esses e começar a conhecer o local", diz o professor.
A estação é equipada com sensores para temperatura, radiação solar, qualidade do ar, chuvas, raios, velocidade e direção do vento. Os dados são transmitidos via internet. O funcionamento é por bateria solar.
Os recursos para a montagem dos equipamentos são da APSF (Associação dos proprietários da Serra Fina). A área é particular. A região já chegou a ser impactada por turismo predatório no início dos anos 2000.
Os dados coletados pela estação terão aplicação no meio ambiente, agricultura e turismo. "Vamos saber, por exemplo, se o funcionamento de empresas na região está afetando a qualidade do ar", destaca o professor.
"Nesse curto período de funcionamento, a estação ainda não detectou poluição", afirma o meteorologista William Siqueira, que assessorou a montagem do equipamento e monitora os dados.
Um diagnóstico mais preciso ocorrerá ao longo do tempo, sobretudo em função da força do vento no pico, que pode afastar agentes poluentes, interferindo na medição.
A análise dos dados será importante também para compreensão da natureza na região no pico. "Tem uma vegetação, de campos de altitude, raríssimos no mundo. São flores, capins. É um ecossistema raro", aponta o professor Ferreira.
Na área do turismo, a estação ajudará na prática do montanhismo. A depender, por exemplo, da força do vento, chuvas e incidência de raios, é possível tomar a decisão de não partir rumo ao pico.
A região é frequentada por praticantes do esporte, mas a subida até a Pedra da Mina é considerada uma das mais difíceis do país. É necessário percorrer trilhas e fazer escalaminhada, que são pequenas escaladas, num percurso que pode durar de oito a dez horas. O trajeto é feito com guias.
A dificuldade de acesso fez com que um grupo de montanhistas fosse encarregado de colocar a estação em funcionamento.
"Mostramos em solo como montar o equipamento. Os montanhistas subiram e instalaram a estação", conta o meteorologista Siqueira.
A chefe da expedição foi a montanhista Muriel Ribeiro de Cintra, 34, que faz parte da APSF. "A principal dificuldade foi em relação ao sinal da internet", relata.
Segundo a montanhista, que relata já ter enfrentado temperaturas abaixo de zero na Pedra da Mina, foi necessário encontrar o ponto exato em que o sinal não oscilava no pico. Ao todo foram feitas três expedições à Pedra da Mina para a instalação dos equipamentos.
A primeira foi em janeiro. "As chuvas, no entanto, impediram que a montagem fosse feita", conta Cintra.
Na segunda, em junho, a antena para captação era fraca e não foi possível colocar o equipamento em funcionamento. No início de julho, na terceira subida, levaram uma antena mais potente e fizeram a montagem.
No último fim de semana, os fortes ventos no pico, que chegam a atingir 100 quilômetros por hora, arrancaram os painéis solares que fornecem energia à estação. A transmissão de dados deixou de ocorrer.
A informação sobre o estrago foi passada por fiscais que estavam no pico. Segundo a montanhista Cintra, uma nova expedição está prevista para os próximos dias e tentará resolver o problema.
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