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Peça 'Brenda Lee e o Palácio das Princesas' oferece 10 ingressos grátis por dia para pessoas trans | Laerte Késsimos /Divulgação
O premiado musical “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”, inspirado em figura histórica da luta trans no Brasil, reestreia no Teatro Vivo, em São Paulo, a partir de terça-feira (5/8).
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O espetáculo, que ganhou os prêmios APCA de melhor peça, Bibi Ferreira de melhor roteiro e atriz revelação em musicais, além do Prêmio Shell de melhor atriz para Verónica Valenttino, é uma homenagem à ativista Brenda Lee (1948–1996), considerada referência na luta pelos direitos LGBTQIA+.
A peça, que acompanha a história de Brenda Lee e sua luta por acolhimento para a população trans e pessoas com HIV/AIDS nos anos 80, tem dramaturgia e letras de Fernanda Maia, direção e figurinos de Zé Henrique de Paula e música original e direção musical de Rafa Miranda.
O musical traz em cena seis atrizes transvestigêneres: Verónica Valenttino, Olivia Lopes, Tyller Antunes, Andrea Rosa Sá, Elix e Leona Jhovs, além do ator cisgênero Fabio Redkowicz.
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A orquestra é formada por Rafa Miranda (piano), Juma Passa (contrabaixo), Rafael Lourenço (bateria) e Carlos Augusto (guitarra e violão). Já a preparação de atores é assinada por Inês Aranha e a coreografia por Gabriel Malo.
Ao contar a história da travesti Caetana, que ficaria conhecida como Brenda Lee, o espetáculo cria uma discussão sobre a luta das travestis nas ruas de São Paulo, a escassez de oportunidades que as impeliu à prostituição e como essas mulheres foram apoiadas pela protagonista.
Brenda nasceu em Bodocó (PE) em 1948, e mudou-se, aos 14 anos, para São Paulo, onde trabalhou com a prostituição até meados dos anos 1980, quando decidiu comprar um sobrado no Bixiga e abrir uma pensão para acolher travestis em situação de vulnerabilidade, muitas das quais estavam infectadas pelo vírus HIV/AIDS.
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O espaço foi muito importante porque, na época, como se sabia muito pouco sobre a epidemia, a maioria das travestis soropositivas estava condenada ao preconceito, à violência, ao abandono e à solidão. E, por esse trabalho essencial, a ativista passaria a ser conhecida como “anjo da guarda das travestis”.
Mais tarde, o centro de apoio à população trans foi reconhecido como a primeira casa de acolhimento a pessoas com HIV/Aids no Brasil.
Chamada de Palácio das Princesas, a instituição firmou convênios com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e com o Hospital Emílio Ribas. E graças a um trabalho conjunto, essas entidades aprimoraram a forma de atender pacientes soropositivos, independentemente de gênero, sexo, orientação sexual e etnia.
Aos 48 anos, em 28 de maio de 1996, no auge de seu projeto, Brenda foi assassinada e encontrada no interior de uma Kombi estacionada em um terreno baldio, com tiros na região da boca e no peitoral.
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O crime teria sido motivado por um golpe financeiro cometido por um funcionário da casa. Em 2008, foi criado o “Prêmio Brenda Lee”, que contempla personalidades que se destacam na luta contra o HIV e prevenção da Aids.
A criação de “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” é uma continuidade das pesquisas do Núcleo Experimental sobre as possibilidades de interação entre música e teatro. Além disso, consolida a trajetória do grupo, que comemora 10 anos de existência da sede do grupo na Barra Funda, como criador de musicais originais brasileiros.
“Contar a história do Palácio das Princesas é não só manter viva a memória de Brenda Lee, mas retratar uma mulher trans protagonista em sua luta e ativismo. Com a criação deste musical, também pretendemos diversificar o grupo de artistas que trabalham com o Núcleo Experimental, empregando musicistas, atrizes, criativos e técnicos transexuais e transgêneros”, diz Fernanda Maia.
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E a dramaturga ainda completa: “Esse espetáculo significa colocar no centro do processo artístico criativo quem sempre esteve às margens. Fazer isso na forma de musical significa atingir um tipo de público não habituado às histórias da população trans, contribuindo para a diminuição do apartheid social em que nos encontramos.”
A dramaturgia do espetáculo une três planos. O primeiro deles é o dos números musicais, que faz uma homenagem às antigas boates da noite paulistana, locais que nos anos 80 foram um porto seguro da população transgênero e geraram oportunidades de trabalho para as travestis.
Neste plano, as meninas da casa da Brenda contam suas histórias pregressas e falam de seus sonhos e objetivos através de canções.
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Há também o plano da história cronológica em que Brenda abre mão do sonho de ter seu “Palácio das Princesas” para poder acolher as amigas que estavam doentes, e o plano das entrevistas.
“Na dramaturgia, inserimos transcrições de entrevistas reais de Brenda Lee colhidas de registros em vídeo na internet. Nestas entrevistas ela conta quem é, fala sobre sua família, sobre a prostituição, sobre como construiu um patrimônio e o colocou à disposição de outras amigas. Fala sobre o trabalho na casa e sua relação com a morte”, conta Maia.
A dramaturga explica ainda que as moradoras da casa de Brenda Lee no espetáculo (Isabelle Labete, Ariela del Mare, Blanche de Niège, Raíssa e Cynthia Minelli) foram inspiradas pelas princesas de contos de fadas, em alusão ao apelido da casa, e que suas histórias foram construídas a partir dos relatos de travestis reais.
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“Conseguimos um material bibliográfico de apoio, além de depoimentos de pessoas que conheceram pessoalmente Brenda Lee, foram moradoras ou trabalharam na casa. Duas dessas pessoas foram os médicos Jamal Suleiman e Paulo Roberto Teixeira”, diz Maia.
O médico Jamal Suleiman é infectologista e ainda trabalha no Hospital Emílio Ribas. Ele conheceu Brenda Lee quando ela levava suas moradoras ao hospital, no início da epidemia.
Como o hospital ainda não possuía uma estrutura especializada no atendimento de HIV/Aids e como os médicos e enfermeiros não possuíam preparo para o atendimento da população transvestigênere, ainda muito marginalizada, o médico se ofereceu para atender na casa de Brenda.
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Já o médico Paulo Roberto Teixeira, infectologista, atualmente aposentado, foi um dos pioneiros no enfrentamento da epidemia de Aids no Brasil. Graças ao seu grande esforço e à sua luta pela quebra de patentes, os medicamentos antirretrovirais são distribuídos gratuitamente pelo SUS.
As canções originais do musical têm elementos de brasilidade aliados à contemporaneidade, tendo como referência compositores queer, transgêneros e não binários.
Bases eletrônicas deverão aludir à boate, mas as canções das personagens terão contornos melódicos elaborados e harmonias que reforcem o aspecto afetivo da canção.
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Em um grande número final, as “filhas de Caetana” cantam suas vitórias e celebram sua grande protetora, que abriu caminho para que elas pudessem ter uma vida melhor.
Ficou com vontade de assistir? Os ingressos para “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” custam R$ 100, mas a peça oferece 10 ingressos grátis por dia para pessoas trans. O formulário para solicitação dos ingressos será disponibilizado na rede social oficial do Núcleo Experimental todas as sextas-feiras anteriores às sessões da semana seguinte.
O musical “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” é uma obra de ficção, inspirada na história de Brenda Lee. A peça acompanha a mudança da pensão para travestis de Brenda, para a primeira casa de apoio para pessoas com HIV/Aids do Brasil, um local de acolhimento e segurança para pessoas tratadas com violência pela sociedade.
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Serviço
Brenda Lee e o Palácio das Princesas
Onde? Teatro Vivo: Avenida Dr. Chucri Zaidan, 2460
Quando? De 5 de agosto a 1 de outubro; terças e quartas, às 20h / *não haverá sessões nos dias 6, 26 e 27 de agosto
Ingressos: R$ 100, por meio da plataforma Sympla
A peça oferece 10 ingressos grátis por dia para pessoas trans. O formulário para solicitação dos ingressos será disponibilizado na rede social oficial do Núcleo Experimental todas as sextas-feiras anteriores às sessões da semana seguinte.
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