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Grupo de pagode formado na Cracolândia vira símbolo de inclusão

O coletivo social 'Pagode na Lata' formou um grupo de samba e pagode com moradores, trabalhadores e usuários da região

Julia Teixeira

31/10/2025 às 10:55

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O pagode na Lata é formado por moradores, trabalhadores e usuários da região da Cracolândia

O pagode na Lata é formado por moradores, trabalhadores e usuários da região da Cracolândia | Divulgação

Em 2017, moradores, trabalhadores e usuários da região da Cracolândia criaram um coletivo social para unir cultura e redução de danos para aquela população. E assim surgiu o “Pagode na Lata”, uma roda de samba com propósito de inclusão social. 

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O coletivo deu continuidade ao trabalho do extinto Programa De Braços Abertos, que visava a redução de danos de usuários de crack da Cracolândia, oferecendo moradia, alimentação e trabalho remunerado. Desde então, o Pagode na Lata assumiu o papel de lutar por aquela população. 

O coletivo Pagode na Lata nasceu em 2017 na Cracolândia unindo cultura e redução de danos.
O coletivo Pagode na Lata nasceu em 2017 na Cracolândia unindo cultura e redução de danos.
Criado por moradores, trabalhadores e usuários da Cracolândia o Pagode na Lata faz inclusão social pelo samba.
Criado por moradores, trabalhadores e usuários da Cracolândia o Pagode na Lata faz inclusão social pelo samba.
Música que acolhe e inspira o Pagode na Lata é a fusão de samba, pagode, rap e funk com identidade social. Fotos: divulgação
Música que acolhe e inspira o Pagode na Lata é a fusão de samba, pagode, rap e funk com identidade social. Fotos: divulgação

Em entrevista ao Metrópoles, Marquinho Maia, um dos fundadores do coletivo, defendeu a existência do projeto nascido na Cracolândia.

“Criamos o grupo para não perder o vínculo com os ex-trabalhadores e usuários da região que faziam parte do projeto de redução de danos, pois é de extrema importância trazer autonomia e liberdade para as pessoas”, explicou.

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Pagode que transforma vidas em São Paulo

Com nove integrantes e duas pessoas na equipe de produção, o Pagode na Lata realiza apresentações quinzenais na capital paulista, trazendo releituras de clássicos do samba e do pagode. 

O grupo também mistura estilos como rap e funk, com uma proposta que vai além da música: devolver dignidade e oportunidades a pessoas historicamente excluídas das políticas públicas.

"O Jurandir, que toca pandeiro, viveu 25 anos na Cracolândia. Isso representa mais da metade da vida dele. Desde que entrou no grupo, foi se reerguendo. Hoje, não mora mais na rua, paga seu aluguel, tem conta em banco e autonomia financeira", conta Marquinho Maia.

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Ele acrescenta que Jurandir chega no horário, participa dos ensaios e retomou o contato com a família. "Essa é a prova viva de que a política social e cultural dá certo. É o que mais nos motiva", afirma um dos fundadores do coletivo.

Música que acolhe e inspira

Inspirado pelo samba e pelo pagode, o Pagode na Lata é composto por músicos que sempre tiveram ligação direta com a arte. A rotina inclui ensaios semanais e shows aos fins de semana, com repertório pensado para refletir a realidade social do grupo e do público que o acompanha.

"Selecionamos músicas que abordam temas sociais, direitos humanos, gênero, raça e tudo o que nos representa. As canções precisam ter sentido e identidade. Por isso, também criamos fusões com o rap e o funk", explica o fundador.

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Prestes a completar oito anos de trajetória, o grupo celebra a visibilidade conquistada e a melhoria dos cachês pagos nas apresentações. No início, cada músico recebeu apenas R$ 7. Hoje, o valor permite uma vida mais estável e organizada para todos os integrantes.

Laços com o território e desafios atuais

Formado por Marquinho Maia, Raphael Escobar, Leonardo Lindolfo, Cacá, Jair Racionais, Jura Emídio, Marcos Pirata, Raul Zito, Fábio Rodrigues e Robson Favela, o coletivo mantém forte vínculo com o território de onde surgiu.

"Nossa história está profundamente ligada à Cracolândia. Quando chegávamos lá e começávamos a tocar, o ambiente inteiro se transformava. As pessoas paravam para assistir", conta Carlinhos.

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"Qualquer objeto virava instrumento — de um cachimbo a uma lata. A música despertava lembranças e emoções intensas. Era comum ver lágrimas e abraços", recorda o fundador.

Hoje, porém, essa relação se enfraqueceu. Segundo Maia, as intervenções da Prefeitura de São Paulo mudaram a configuração da região e espalharam seus antigos frequentadores por vários pontos da cidade, dificultando o trabalho social e cultural.

"A política aplicada à Cracolândia é desumana e desastrosa. Ela não acabou, só foi fragmentada em vários fluxos. É uma ação eugenista, que considero uma forma de tortura", critica.

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Maia reforça a necessidade de políticas públicas efetivas para atender pessoas em situação de dependência química. Desde o fim da concentração na Rua dos Protestantes, o cenário se transformou.

"Antes, as pessoas estavam em um único local, o que facilitava o atendimento e o acesso à cultura. Agora estão dispersas. Denunciamos essa violência e essa ausência de cuidado. O tratamento precisa ser feito pela saúde e pela assistência social, não pela repressão", completa.

Em julho, a Secretaria de Segurança Pública informou que o espaço foi isolado para reforçar a presença policial e evitar crimes. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que as ações conjuntas entre saúde, assistência social e segurança têm reduzido o fluxo de usuários na cidade.

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Na ocasião, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi ainda mais enfático: "Estamos fazendo o que nunca foi feito, o que ninguém teve coragem de fazer. Reafirmo meu compromisso: a Cracolândia vai acabar". 

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