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Sebastian Rojas durante entrevista ao podcast Direto da Gazeta | Thiago Neme/Gazeta de S. Paulo
Sebastian Rojas se tornou a referência máxima da fotografia de surfe no Brasil. Na atividade desde o início dos anos 1980, o profissional perdeu as contas de quantas etapas no País e no exterior já clicou, principalmente para a revista Fluir.
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Nesse tempo, viveu grandes momentos e enfrentou episódios tensos, seja pela animosidade inicial de nativos do Havaí, seja pelo risco de morrer ao se deparar com ondas gigantes. Sempre soube que tinha que respeitar e entender a natureza e a comunidade local para conseguir o registro perfeito.
Nesta entrevista ao podcast Direto da Gazeta, ele explicou ainda quais são os equipamentos ideais para ser um fotógrafo aquático e qual foi a evolução durante as últimas décadas.
O profissional também destacou seu atual projeto de registrar fotógrafos em um mar artificial no interior de São Paulo. As ondas, porém, garante ele, não deixam nada a desejar ao que já viu pelo mundo.
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Nascido em São Paulo e criado em Santos, Sebá cresceu na beira do mar, brincando com ouriços e conchinhas. Logo se apaixonou pelo surfe, mas apenas como uma atividade amadora. Também gostava de tirar fotos da natureza.
O momento decisivo para sua carreira como fotógrafo de surfe profissional aconteceu ao receber um convite do diretor de fotografia da Fluir, Bruno Alves, na praia do Tombo, em Guarujá, em 1984. O diretor estava à procura de um fotógrafo aquático.
“Começamos a conversar na praia, e ele tinha até a mesma camerazinha que a minha, uma Mikonos 3, subaquática. Ele me convidou para um bate-papo na redação, e lá me jogaram rolos de filme de slide na mão e me pediram para eu fotografar no Guarujá, mas também em Maresias, em Paúba, a região toda do litoral norte”, lembrou.
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Ele lembrou que o seu grande diferencial inicialmente passou a ser fotografar dentro do mar, já que já havia vários fotógrafos que faziam seus cliques da faixa de areia.
A dificuldade, claro, era maior, ainda mais pelas câmeras mais simples da época, que só registrava uma foto por vezes. Mesmo assim conseguiu grandes ângulos que renderam imagens de capa.
Com o tempo, foi se inspirando nos melhores profissionais do mundo para melhorar a sua técnica. Mas isso não bastava. Percebeu que precisava melhorar o equipamento, o que fez sua carreira deslanchar ainda na década de 1980.
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“Às vezes eu via que fotos de colegas fotógrafos era bem melhores do que as minhas. Eu ficava pensando: ‘ué, mas eu estava ao lado dele’. Foi quando decidi reinvestir todo dinheiro ganho com a fotografia com equipamentos, já que eu tinha uma loja de fotografia que me garantia um ganho certo”, recordou Sebá.
Na sequência comprou uma outra câmera Nikon com uma caixa estanque que já permitia fazer três ou quatro fotos por segundo dentro d'água, além de trocar lentes e fazer sequência. Ele também investiu em uma teleobjetiva manual de 800mm para fotografar de fora d'água, reconhecendo a necessidade de cobrir campeonatos e ter um volume maior de material publicado.
Poucos anos depois passou para uma Canon autofocus com motor ultrasonic, e nunca mais parou de se atualizar.
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As primeiras viagens internacionais ficaram marcadas na sua mente, principalmente para o Havaí, a Meca do surfe mundial.
“Era impressionante eu estar no Havaí, porque nunca tinha visto tubos tão grandes e performances tão arrasadoras quanto dos surfistas locais. Eu ficava tão emocionado que às vezes esquecia até um pouco da técnica, perdia fotos, pela emoção de ver aquela beleza, aquelas ondas enormes”, disse, empolgado.
Ele, porém, logo precisou aprender o restrito código de ética dos surfistas locais, que não permite que forasteiros tenham prioridade nas ondas e nem sejam mal-educados fora da água.
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“O Havaí tem um lema que todo mundo tem que seguir: respeite para ser respeitado. Você tem que respeitar os locais, deixá-los pegarem as ondas deles, a prioridade é deles. Você vai nas que sobram”, alertou.
Sebá já viu muitas brigas entre locais e estrangeiros, já que foi algumas dezenas de vezes para o Havaí, e garantiu que a situação atual é mais pacífica.
“Já foi bem pior, hoje melhorou bastante. Os locais estão mais tranquilos, até porque a galera de fora está mais consciente em relação ao respeito que tem que ter”.
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O fotógrafo lembrou que viveu momentos tensos dentro das águas, principalmente uma experiência no Havaí em que tomou um “caldo” (quando o corpo é levado para embaixo d’água pela força das águas e demora para subir) muito violento.
Nesse dia, ele estava fotografando a sessão de treino dos surfistas, e, ao decidir sair do mar, viu uma série maior se aproximando e decidiu esperar que ela passasse antes de sair completamente.
Ao ir para cima dessa onda, ele percebeu que a onda estava quebrando em um local muito raso. Temendo ser amassado na bancada de coral se mergulhasse, teve a ideia de colocar o pé na bancada e dar um impulso para cima quando a onda o pegasse. Ele esperava ser levado para a beira, mas em vez disso, foi de cabeça embaixo d'água. “Eu apaguei na hora”.
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Quando acordou, alguns segundos depois, ainda estava submerso. Conseguiu nadar até a praia, com dificuldade. “A sensação foi de ser atropelado por um caminhão”.
Foi levado a um hospital com um corte profundo na cabeça, com o corpo todo ensanguentado. Em vez de pontos, teve a pele grampeada, numa técnica sugerida pelo médico local, porque desse jeito não precisaria cortar o cabelo.
“No dia seguinte eu estava lá tirando as fotos. Mas dessa vez só fora do mar”, lembrou.
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A dureza foi quando voltou para o Brasil e precisou encontrar um hospital que soubesse tirar os grampos da cabeça. “Aquilo foi doloroso”.
Hoje, aos 65 anos, e depois de ajudar a formar outras centenas de profissionais em cursos e workshops, Sebá permanece em plena atividade. Atualmente, reveza entre Guarujá e o interior de São Paulo, onde costuma registrar os surfistas na piscina de ondas artificial do condomínio Fazenda da Grama, em Itupeva, no interior de São Paulo.
Além das câmeras, também registra os visitantes com iPhones e até com drones, o que cria uma experiência diferente nas imagens.
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Ele garantiu que as ondas do condomínio são de altíssimo nível e uma experiência profunda para surfistas de qualquer nível. “Às vezes é até melhor que a onda do mar”, destacou.
“O que me encanta na piscina é ter 700 tubos por dia, e são ondas lindas. No mar às vezes você fica duas horas para conseguir cinco tubos”.
"Isso permite que o surfista saia com um pacotão de fotos, com material para o ano inteiro. E eu também surfo na piscina todo dia que estou lá”, completou.
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