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O rapper Mema Fita, do grupo Beco, em entrevista à Gazeta | Thiago Neme/Gazeta de S.Paulo
O rapper Mema Fita, do grupo Beco, mantém o estilo boom bap, consagrado na zona sul de São Paulo, mesmo sendo jovem. A explicação foi simples e direta: “para mim o rap ainda é protesto”.
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Nesta entrevista, o morador do Capão Redondo contou como começou no hip hop há mais de 10 anos, como desenvolve seu rap com letras brutas e poéticas, e como cria arte com compromisso social ao lado de seus companheiros de grupo, Laz Beats e Cicerone.
Ele também destacou como é acompanhar Eduardo Taddeo, considerado uma lenda viva do rap nacional, em shows pelo Brasil.
Mema Fita destacou ter tido sorte de querer fazer rap e ser do Capão Redondo, bairro que se tornou conhecido por ser um dos berços dos Racionais MC’s.
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O local também abriga nomes como o escritor Ferréz e diversas personalidades ligadas à cultura periférica.
“Já é meio caminho andado [ser do Capão e fazer hip hop]. Falo carinhosamente que a gente está na meca do bagulho, no Capão Redondo. O rap da [zona] leste tem um estilo, da oeste tem outro, e a gente tem o nosso. Crescer no Capão me influenciou muito”, destacou.
Aos 30 anos, disse pertencer a uma geração de transição entre o rap clássico e a nova escola, e resolveu se inspirar no estilo mais antigo por acreditar no poder transformador do rap.
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Ele também contou sobre o orgulho de vestir peças de roupa que remetem às periferias da zona sul. Hoje, para ele, o bairro melhorou em diversos pontos, mas os problemas se transformaram. “Eles [a elite financeira] querem continuar mantendo milhões oprimidos”, afirmou.
Para ele, o rap mais antigo feito no Brasil não é respeitado da mesma forma que o samba e outros gêneros raiz. Há uma distinção clara na maneira como esses gêneros são percebidos e valorizados.
“Todos os estilos musicais tratam os seus ícones e o seu estilo com zelo, com carinho. Aquele negócio de valorizar o samba raiz, o sertanejo raiz. Já o rap mais antigo é visto como velho, como ultrapassado, em vez de ser um clássico. Não é de uma forma respeitosa”, comparou.
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Para ele, os Racionais são o único grupo que recebe o respeito merecido entre os surgidos nas décadas de 1980 e 1990. “Os outros ouvem que esse negócio de criticar a polícia, a violência, não tá com nada. É triste”, completou.
O grupo Beco se mantém nesse estilo poeticamente mais áspero, mas com batidas e videoclipes caprichados.
Há dois anos, Mema Fita passou a acompanhar Eduardo Taddeo em shows pelo Brasil. Ele destacou que sempre se impressiona com a emoção e o respeito que o público tem pelo artista.
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“O rap é a única música que reúne multidões para falar de consciência, tá ligado? Rodo o Brasil com o Eduardo, e vejo o testemunho das pessoas. A música dele tira o cara de uma perspectiva zero para uma perspectiva mil. Só o rap faz isso”.
Para ele, o público vê em Eduardo uma esperança. Contou que já viu gente chorando e gente que saiu de outro estado só para ver um show e voltar para casa no dia seguinte.
“A galera vê no Eduardo uma esperança, saca? Você vê as pessoas chorando, os testemunhos, gente sair de Minas de busão de madrugada para voltar na manhã seguinte só para ver ele. Isso a gente via antes com Lady Gaga”.
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“Pessoal sente um lance assim, como se o Eduardo falasse: ‘ei, tô te vendo, irmão. Você ainda importa. Vou cantar sobre suas mazelas’. Teve melhores, mas inda existe barraco de pau no Brasil”, completou.
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