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'Sem julgamento nenhum': Stepan Nercessian retrata as muitas faces de Assis Chateaubriand no teatro

Em bate-papo com a Gazeta, Stepan Nercessian conta detalhes sobre o espetáculo 'Chatô & os Diários Associados - 100 Anos de Paixão' e revela sua opinião sobre a imprensa atual

Mari Ribeiro

03/08/2025 às 17:00

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Stepan Nercessian fala sobre os desafios de interpretar o temido e amado Assis Chateaubriand

Stepan Nercessian fala sobre os desafios de interpretar o temido e amado Assis Chateaubriand | André Wanderley/Divulgação

Em cartaz com o espetáculo "Chatô & os Diários Associados - 100 Anos de Paixão", uma homenagem à trajetória profissional de Assis Chateaubriand, fundador de um império midiático que transformou a imprensa brasileira, Stepan Nercessian encara pela segunda vez o desafio de dar vida à um grande nome da comunicação brasileira, já que o ator foi responsável por interpretar Abelardo Barbosa, o Chacrinha, nas telas, e, agora, desempenha o papel do jornalista paraibano fundador da TV Tupi, apelidado pelos mais íntimos de Chatô.

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Para a Gazeta, Stepan, que tem mais de 50 anos de carreira e acumula em seu currículo atuações em novelas, filmes e peças de teatro, incluindo musicais, como "O Rei do Rock" e "Chatô & os Diários Associados - 100 Anos de Paixão", contou um pouco sobre os desafios e as diferenças que encontrou ao interpretar os dois personagens, além de outras curiosidades.

Stepan Nercessian encara pela segunda vez o desafio de dar vida à um grande nome da comunicação brasileira, agora, desempenhando o papel de Assis Chateaubriand.
Stepan Nercessian encara pela segunda vez o desafio de dar vida à um grande nome da comunicação brasileira, agora, desempenhando o papel de Assis Chateaubriand.
Para a Gazeta, Stepan, que tem mais de 50 anos de carreira e está em cartaz com a peça 'Chatô & os Diários Associados - 100 Anos de Paixão', revelou algumas curiosidades.
Para a Gazeta, Stepan, que tem mais de 50 anos de carreira e está em cartaz com a peça 'Chatô & os Diários Associados - 100 Anos de Paixão', revelou algumas curiosidades.
Musical transita entre passado e presente para contar a trajetória de Assis Chateaubriand e seu impacto na comunicação brasileira.
Musical transita entre passado e presente para contar a trajetória de Assis Chateaubriand e seu impacto na comunicação brasileira.
Na temporada de São Paulo, o elenco conta com Stepan Nercessian como Chatô, Claudio Lins como Fabiano, Sylvia Massari no papel de Dona Janete e Aline Serra como Juliana. Fotos: Carlos Costa
Na temporada de São Paulo, o elenco conta com Stepan Nercessian como Chatô, Claudio Lins como Fabiano, Sylvia Massari no papel de Dona Janete e Aline Serra como Juliana. Fotos: Carlos Costa

"O Chacrinha é ainda muito vivo na memória das pessoas, inclusive na parte visual, a roupa, a cartola, a buzina. Já do Chateaubriand a gente tem mais informação cultural e intelectual do que visual. Inclusive, eu tive uma dificuldade enorme para ouvir a voz dele, porque existem pouquíssimos materiais dele gravados, então eu só consegui achar um vídeo com uma parte de um discurso dele, e só", disse o artista. 

O ator explica que, para a construção do personagem, queria saber se Assis Chateaubriand tinha sotaque, já que o jornalista era paraibano, criado em Recife, e, por isso, saiu em busca de gravações ou vídeos em que a voz do dono dos "Diários Associados" pudesse ser ouvida.

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"Uma coisa interessante é que quando você faz alguém que se tem muita informação, como é o caso do Chacrinha, as pessoas inevitavelmente fazem um comparativo, e, aqui, com o Chatô, não, porque é como se elas estivessem conhecendo essa figura pela primeira vez", acrescenta.

Na visão de Stepan, é quase impossível retratar esse personagem [Assis Chateaubriand] e uma peça: "Não dá tempo, para se ter uma ideia, tem um livro de 800 páginas [Chatô - O Rei do Brasil, de Fernando Morais] que não contou tudo."

Por isso, o ator, junto da direção do espetáculo, fez um recorte com algumas das várias facetas do jornalista, que chegou a ser o homem público mais influente do Brasil entre as décadas de 40 e 60, analisando os aspectos de sua personalidade, essa bem conhecida pelos brasileiros.

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Chatô foi chamado de tudo de ruim que se possa imaginar, chantagista, crápula, escroque, patife, ladrão, tarado. Mas, palavras positivas, como empreendedor, pioneiro, visionário, gênio e mecenas, também foram usadas para defini-lo.

"Ele tinha um senso de humor, às vezes muito ácido, ele era prepotente, arrogante e tinha fragilidades também. Estudando tudo isso, eu procurei fazer esse esboço de personagem, sem julgamento nenhum, porque é complicado você definir esse cara. Você pode definir, por exemplo, pelas qualidades dele, que são imensas, a contribuição para a comunicação, a visão futurista", complementou Stepan. 

Nascimento 

Nascido no interior de Goiás, Stepan defende a importância de sempre lembrar que, tanto Chacrinha, quanto Chatô, saíram de cidades pacatas. O primeiro, nasceu em Surubim, no estado de Pernambuco, e o segundo, em Umbuzeiro, na Paraíba. "Eu gosto sempre de ressaltar que esses caras vieram do ‘interiorzão’ do Brasil e se tornaram personalidades internacionais", reforça. 

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Questionado sobre se interpretar esses dois personagens marcantes na comunicação mudou sua forma de ver a mídia brasileira, Stepan revelou que, aos 13 anos, trabalhou no jornal "Cinco de Março", em Goiás, e lá ficou encarregado, primeiro, pelos serviços gerais, depois migrou para auxiliar de revisor e, em seguida, passou a atuar como revisor.

"Muito cedo, garoto ainda, eu fui trabalhar em um jornal. Lá, eu vivenciei o dia-a-dia de uma redação, convivi com os maiores intelectuais de Goiás, com os jornalistas mais importantes, então eu pude conhecer esse universo da imprensa, o lado bom e o lado ruim. O Chatô tinha um vício pela notícia e eu entendo muito isso, eu senti o cheiro da tinta, da guilhotina, eu fiz da redação a minha casa", relembrou o ator. 

Para Stepan, a relação da mídia com o poder ganhou uma “sofisticação” se comparada com a época de Assis Chateaubriand. "Naquele tempo, era tudo mais escancarado, todo mundo sabia quando uma pessoa se vendia, de qual lado ela estava, hoje ainda se faz isso tudo, mas com um verniz muito maior. Uma coisa é, por exemplo, a imprensa livre, o jornalista, o cara que vai atrás da reportagem, outra é a indústria da imprensa, que envolve bilhões de coisas, de interesses comerciais, de acordos."

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O ator explica que Chateaubriand, que sempre atuou como um cidadão acima do bem e do mal, não escondia seus interesses políticos. "Ele mudava de lado o tempo todo, e todo mundo sabia, ele mesmo falava quando apoiava fulano ou ciclano. Isso acontece muito, ainda hoje, nos Estados Unidos, você lê ou assiste um jornal e consegue perceber para qual lado ele está favorável, já aqui, no Brasil fica tudo meio misturado". 

Criação de personsagem 

Sobre a criação do "seu" Chatô, Stepan explica que não buscou se inspirar em outras obras já produzidas sobre o personagem, como o filme "Chatô, O Rei do Brasil", de 2015.

"Eu acredito que cada criação é única. E também tem uma outra diferença, o que o filme queria contar e o que a peça quer contar? São outros recortes. Aqui é um musical, eu não canto nem danço, mas é um musical. Então, como o Chateaubriand é inserido na montagem? Diferente do filme, aqui ele tem a função de ajudar a contar uma história, que é a história do Brasil, da imprensa, de como surgiu a televisão, não é a história do Assis Chateaubriand que está sendo contada, é a história de um País", sinaliza. 

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Rindo, o ator ainda complementa. "Eu deixo pro povo me imitar depois, eu fiz o 'Rei do Rock', eu fazia o empresário do Elvis, o Coronel Tom Parker, e aí tinha saído o filme com o Tom Hanks e todo mundo me perguntava 'você se inspirou nele?' e eu falava ‘não, ele que deve estar me imitando, o meu é muito melhor’". 

Importância da imprensa  

Com relação ao possível fim dos jornais, rádios e canais de televisão, Stepan opina que a relevância da imprensa está em constante transformação, mas não acredita que ela esteja em vias de acabar por completo. 

"Algumas coisas às vezes precisam ceder lugar a outras. Quem sabe, como hoje em dia existem colecionadores de discos, um dia não existam colecionadores de jornal, por exemplo?"

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Na visão do ator, porém, o perigo real se encontra na distorção que por vezes a imprensa faz sobre determinados assuntos. "Antigamente era uma minoria que informava, escrevia e dizia tudo que a grande maioria teria que acreditar e isso não era bom. Mas, hoje em dia todo mundo está escrevendo e a gente tem que tomar um certo cuidado, o que também é perigoso, porque só existe uma minoria prestando atenção no que é verdade e no que não é", opina.

Assim, para ele, o mais preocupante não é se os meios de comunicação sobreviverão ou não, mas sim que comunicação é essa.

"Eu penso no que essa sociedade quer, será que ela está em busca da informação verdadeira ou vai ser adepta da manipulação? Vai se encantar pelo virtual, pela Inteligência Artificial, e preferir acreditar em coisas que não são reais? Será que essa sociedade está sendo educada para distinguir uma coisa da outra? Lá atrás a gente se apavorava com a mula sem cabeça e hoje tem um monte de mula sem cabeça por aí, na internet, por exemplo."

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Por fim, Stepan comenta se tem lembranças de algum momento histórico retratado no musical, que passeia desde a década de 40 até meados dos anos 80, com cenas também na atualidade.

"Eu tenho lembranças muito vivas da época da Ditadura Militar, inclusive a memória musical, das canções que são interpretadas na peça. Eu entrei muito cedo no Movimento Estudantil, no Comitê Secundarista, logo que entrei no ginásio, com 13 anos, entrei no Partido Comunista também, então eu vivi muito tudo isso", finaliza. 

 'Chatô & os Diários Associados - 100 Anos de Paixão'

O musical transita entre passado e presente para contar a trajetória de Assis Chateaubriand e seu impacto na comunicação brasileira, enquanto acompanha Fabiano, um jornalista desempregado que, ao encontrar a estátua de Chatô em Recife, é levado por ele para revisitar momentos icônicos da mídia nacional, como a criação de "O Cruzeiro" e a inauguração da "TV Tupi", primeira emissora de televisão do Brasil.

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Em paralelo, o relacionamento de Fabiano com Juliana, uma colega jornalista, se desenrola, explorando conflitos pessoais e profissionais que refletem os desafios do jornalismo contemporâneo. A trama mescla história, romance e música para destacar o legado cultural do comunicador.

Na temporada de São Paulo, o elenco conta com Stepan Nercessian como Chatô, Claudio Lins como Fabiano, Sylvia Massari no papel de Dona Janete e Aline Serra como Juliana.

Com colaboração do Presidente do condomínio acionário dos "Diários Associados", Josemar Gimenez, o musical tem texto de Fernando Morais e Eduardo Bakr, e é baseado na biografia "Chatô – O Rei do Brasil". A direção geral fica por conta de Tadeu Aguiar, a produção é de Naura Schneider e a direção de produção é de Valéria Machado. 

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Ficou com vontade de assistir ao espetáculo "Chatô & os Diários Associados - 100 Anos de Paixão"? A peça fica em cartaz no Teatro Liberdade, em São Paulo, até 17 de agosto, com sessões às sextas, sábados e domingos. Os ingressos custam a partir de R$ 25.

Serviço
'Chatô & os Diários Associados - 100 Anos de Paixão'
Onde?
 Teatro Liberdade - rua São Joaquim, 129 - Liberdade | São Paulo
Quando? Até 17 de agosto | sextas, às 20h; sábados; às 16h e 20h30; domingos, às 18h
Quanto? Plateia Premium - R$ 125 e R$ 250 | Plateia - R$ 110 e R$ 220 | Balcão A - Visão Parcial - R$ 25 e R$ 125 | Balcão A - R$ 25 e R$ 180 | Balcão B - R$ 25 e R$ 150
Duração: 2h20 - 15 minutos de intervalo
Classificação indicativa: 10 anos. 

* Texto sob supervisão de Matheus Herbert 

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