A+

A-

Alternar Contraste

Quinta, 27 Novembro 2025

Buscar no Site

x

Entre em nosso grupo

2

WhatsApp
Home Seta

Entretenimento

Theatro Municipal reinventa ópera barroca e confronta colonialismo

Montagem dirigida pela coreógrafa francesa Bintou Dembélé atualiza obra de Rameau com hip hop e dança de rua

Mari Ribeiro

27/11/2025 às 17:30

Continua depois da publicidade

Compartilhe:

Facebook Twitter WhatsApp Telegram
Ingressos para 'Les Indes Galantes' custam a partir de R$ 39

Ingressos para 'Les Indes Galantes' custam a partir de R$ 39 | Rafael Salvador/Divulgação

Em um dos momentos mais marcantes da temporada lírica de 2025, o Theatro Municipal de São Paulo, no centro histórico da capital paulista, apresenta uma nova produção de “Les Indes Galantes”, ópera-balé de Jean-Philippe Rameau com libreto de Louis Fuzelier, criada em 1735 e considerada um dos pilares do barroco francês.

Continua depois da publicidade

A montagem integra oficialmente a Temporada França-Brasil 2025 e reforça o intercâmbio artístico entre os dois países. As apresentações acontecem nesta quinta-feira (27/11) e 2, 3 e 4 de dezembro, às 20h, além dos dias 29 e 30 de novembro, às 17h, com ingressos entre R$ 39 e R$ 252.

O espetáculo ganha direção cênica e coreográfica de Bintou Dembélé, referência internacional da dança urbana e pioneira do hip hop na França. A artista desenvolve uma leitura contemporânea que confronta o contexto colonial do século XVIII com linguagens das periferias urbanas atuais.

A abordagem retoma questões que Dembélé já havia explorado em sua elogiada participação na montagem da Ópera de Paris em 2019, quando se tornou a primeira coreógrafa negra a dirigir uma produção completa da instituição.

Continua depois da publicidade

No Municipal, a produção cria um diálogo entre música barroca, corpo político e memória histórica. A coreografia mescla estilos das danças urbanas, como krump, popping e break, às estruturas de ópera-balé, formato caracterizado pela integração entre canto, drama e dança. O resultado pretende tensionar, sem apagar, a visão eurocêntrica e idealizada dos povos retratados na obra original.

A direção musical é do maestro Leonardo García-Alarcón, especialista em repertório barroco e fundador da Cappella Mediterranea, conjunto europeu que se apresenta nesta produção ao lado do Coral Paulistano, regido por Maíra Ferreira, e de artistas convidados da Structure Rualité e do Choeur de Chambre de Namur.

O elenco reúne cantores europeus e brasileiros, incluindo Laurène Paternò, Ana Quintans, Mathias Vidal e Andreas Wolf, em múltiplos papéis, característica tradicional das óperas-balé do período.

Continua depois da publicidade

A cenografia e a luz são assinadas por Benjamin Nesme, enquanto o figurino fica a cargo de Charlotte Coffinet e da figurinista brasileira Laura Françozo, que integram elementos históricos com referências urbanas e contemporâneas.

Apresentada pela primeira em Paris em 1735, “Les Indes Galantes” é uma obra emblemática do Iluminismo francês. Estruturada em prólogo e quatro “entradas”, O Turco Generoso, Os Incas do Peru, As Flores da Pérsia e Os Selvagens da América do Norte, a ópera-balé apresenta histórias de amor ambientadas em territórios que a Europa do século XVIII considerava “exóticos”.

A montagem do Municipal propõe revisitar esses imaginários à luz do debate sobre colonialismo, identidade e representação.

Continua depois da publicidade

Espírito colaborativo

Segundo Andrea Caruso Saturnino, superintendente geral do Complexo Theatro Municipal, a produção sintetiza o espírito colaborativo da temporada.

“Após um ano repleto de entusiasmo, elaboração de novos paradigmas críticos e intercâmbios entre Brasil e França, marcado também pelo concerto Bizet e Seus Contemporâneos com participação de músicos da Academia da Ópera de Paris e da Orquestra Sinfônica Municipal, e pela muitíssimo bem sucedida turnê do Balé da Cidade na França, temos a alegria de apresentar ao público mais uma obra pouco executada no Brasil, “Les Indes Galantes”, de Rameau com a genial direção cênica de Bintou Dembelé, mesclando barroco e urbano, com o nítido intuito de acrescentar novas camadas de leitura à ópera”, explica.

O olhar crítico é central também para a própria diretora Bintou Dembélé, que observa a atualidade das tensões presentes na obra:

Continua depois da publicidade

"Les Indes Galantes poderia ser resumido pela frase: ‘são jovens dançando sobre um vulcão em erupção’. Esse vulcão é real e ameaça entrar em erupção a qualquer momento. A obra já continha as sementes do nosso mundo atual."

Para Dembélé, seu trabalho investiga a memória e os corpos atravessados por histórias coloniais: “Todos somos o ‘selvagem’ de alguém; quando tomamos consciência disso, a desconstrução desse mecanismo pode começar.”

Desafios musicais

No plano musical, García-Alarcón destaca que a ópera revela intensidades humanas que desafiam a métrica rígida do barroco.

Continua depois da publicidade

“Emoções extremas como amor, ódio, raiva e o medo da morte ou do abandono transcendem o tempo mensurável. A ópera é um esforço utópico de harmonizar o ritmo da música e da dança com o ritmo profundamente humano das emoções.”

Com poucos registros de montagens no Brasil, “Les Indes Galantes” chega ao Theatro Municipal como uma oportunidade rara de contato com uma obra monumental do repertório francês, agora ressignificada por meio da dança urbana e de um olhar crítico que aproxima passado e presente.

Recentemente, o Theatro Municipal de São Paulo reinventou o clássico “Porgy and Bess” com um elenco majoritariamente negro.

Continua depois da publicidade

Serviço
“Les Indes Galantes”, de Jean-Philippe Rameau
Onde?
Theatro Municipal de São Paulo - Praça Ramos de Azevedo, s/n - República, São Paulo - SP
Quando? 27/11, às 20h; 29/11, às 17h; 30/11, às 17h; 2/12, às 20h; 3/12, às 20h; 4/12, às 20h
Quanto? De R$ 39 a R$ 252 (inteira)
Duração aproximada: 150 minutos (com intervalo)
Classificação indicativa: Livre

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Conteúdos Recomendados