Bira, do Desimpedidos, reflete sobre influência na internet e temporada do Santos

Integrante de um dos principais canais do YouTube do Brasil, o Desimpedidos, Bira esteve na Gazeta de S.Paulo para participar do podcast "G+Esportes", apresentado por Leonardo Sandre.

No bate-papo, ele comentou sobre a mudança de conteúdo do canal ao longo dos anos, sobre a responsabilidade em informar e entreter as pessoas via internet em uma época tão polarizada, e analisou o elenco do Santos para a sequência da temporada. Veja a entrevista completa:

O jornalista também opinou sobre o Neymar e o custo-benefício do craque ao Santos, além da possível mudança de localização do estádio do alvinegro praiano.

Rap e começo no Desimpedidos

Bira contou que iniciou sua carreira como produtor cultural, especialmente na organização de eventos de rap. Com a remuneração baixa, saiu em busca de uma oportunidade que pagasse mais, até que, após uma longa jornada, surgiu o Desimpedidos.

"Trabalhar com cultura no nosso País é bem difícil. O dinheiro, fala mais alto, alguém precisa fazer alguma coisa para pagar as contas e aí acabei disparando o currículo em tudo que é lugar. E gosto sempre de falar que o último currículo que eu entreguei foi na padaria da esquina de casa para ser balconista, porque eu falei: 'Ah, agora já era, diploma para o lixo, não tem o que fazer, a necessidade dita o ritmo' então eu estava ali esperando qualquer coisa mesmo. E aí me ligaram dos Dempedidos".

Assim, começaria uma jornada que já dura mais de seis anos, com muitos quadros, transmissões e momentos folclóricos do canal. Ele contou que Paulo Vita foi quem fez a entrevista com ele, e que, de início, teria reprovado sua contratação, por achar que Bira era muito "fora da casinha".

Também por este fator, acabou contratado, sendo alguém que poderia agregar ao debate com um pensamento diferente. Entrou como estagiário, a princípio encarregado de fazer a captura de imagens para o Bolívia Talk Show, programa de entrevistas e um dos principais do canal.

Como é de costume no Desimpedidos, aos poucos ele foi aparecendo nas câmeras e foi caindo no gosto do público, recebendo cada vez mais espaço, até se tornar uma das grandes figuras.

Mudanças no canal

Ainda na fase com Bolívia e Fred, Bira contou os bastidores e mudanças de conteúdo que passaram pelo canal com o passar dos anos. Com alguns momentos mais focados do humor e outros com análises, hoje o Desimpedidos tem como um dos carro-chefes a transmissão da Série B, no qual Bira é comentarista. O canal também faz as transmissões do Brasileirão na versão online da RecordTV, no portal r7.

Com o atual sucesso da CazéTV com transmissões de mundiais e Brasileirão, o jornalista relembrou que a primeira transmissão no YouTube foi feita pelo Desimpedidos, em parceria com a DAZN, com o Chico (um dos integrantes emblemáticos), na narração com a transmissão dos campeonatos francês e italiano.

Após isso, canal ainda transmite alguns jogos do Brasileirão Feminino e alguns outros torneios.

Fred no BBB e canal sem ele

Questionado se quando Fred foi para o Big Brother Brasil os integrantes já sabiam e estavam com conteúdos preparados, Bira negou e explicou a situação, segurando o riso:

"Ele me ligou uma semana antes dele ir para o programa, é muito louco porque apenas algumas pessoas da produtora sabiam, pouquíssimas, acho que duas pessoas. É muito louco porque a gente começa mesmo a planejar o que fazer sem ele uma semana antes, que foi quando ele ligou para todo mundo. Não tínhamos nada preparado, tivemos que pensar muito rápido em conteúdos", disse.

Bira não escondeu que, ao ver a eliminação do amigo, sentiu um alívio por ele, para que Fred pudesse enfim descansar, e parar de ficar exposto 24 horas para o Brasil inteiro.

"Eu torcia para ele sair logo, porque, era muito ruim aquela exposição. Ver a galera falando um monte de asneira, achando que conhece ele. Eu lembro que na hora que ele saiu lá, que ele foi ainda para outra dinâmica e aí ele desistiu. Nessa hora, estávamos todos na casa dele, inclusive. E na hora que ele desistiu, foi um, 'ufa, vamos buscar ele lá no Rio'. A gente não aguentava mais, dava para ver que o bicho tinha ficado zoado da cabeça mesmo, era muita pressão ali", revelou.

Depois, Fred ainda retorna para as transmissões do Fred+10 e do Desafio do Fred, até sair anos mais tarde do canal e, em 2025, ingressar na TV Globo. Sem Fred e sem Bolívia, o canal passa a ter a atenção mais equilibrada entre todos os integrantes, com todos sendo protagonistas.

Paralelamente, a empresa ainda criou o Camisa 21, que contava com Bolívia e Magal, e que o próprio Bira chegou a participar meses depois. Parte do conteúdo do canal, que acabou se fortalecendo mais no Instagram, foi também adaptado ao Desimpedidos.

Polarização na internet e recepção do público com o conteúdo

Após a notícia do uso de tornozeleira eletrônica para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Bira, ao lado de Lucas Faraldo, produziu um vídeo sobre jogadores que já atuaram com o equipamento e como eram suas restrições.

O gancho para a matéria, porém, foi criticado por muitos eleitores da direita brasileira, alegando que o vídeo tinha um viés em ridicularizar Bolsonaro. Como resultado, a produção repercutiu bastante nas redes, mas o jornalista afirma que chegou a perder seguidores.

"Eu vou ser sincero. Sou um cara que sempre me posiciono. Tem até um comentário que fizeram aí nesse vídeo dizendo que "neutro é shampoo de criança", então eu sempre que acho que é necessário, me posiciono, pois sei a responsabilidade que eu tenho hoje, das pessoas darem algum tipo de credibilidade à minha opinião. Então, eu acho que tem certos assuntos que permeiam o futebol, mas que o extrapolam, e aí eu preciso me posicionar".

Além disso, ele citou outro vídeo como exemplo, que fizeram sobre as guerras de Rússia x Ucrânia e Israel x Palestina, tentando usar também o futebol como gancho, citando jogadores que tiveram de ajudar na guerra, ou até alguns que perderam jogos por não poderem deixar seus respectivos países.

"Eu sou jornalista, sou um cara que estuda, que tem conhecimento sobre a parada. Não é só sobre formação, mas sobre informação mesmo. Acho que conhecimento nunca é demais e cada pessoa que pudesse informar sobre o seu vídeo também é uma responsabilidade muito grande. Ver um conflito escalando e pensar 'como eu consigo explicar para as pessoas do meu nicho o que está acontecendo', é sempre pensar em pautas relevantes".

O jornalista ainda criticou os influenciadores que, com tanto poder de informação em mãos, optam pela omissão e dinheiro fácil.

"Hoje em dia, é a coisa mais fácil você virar influenciador, divulgar o tigrinho, mano, e fazer todo mundo, com o perdão da palavra, acabar com a vida, isso é muito fácil. O difícil mesmo é a gente tentar trazer o diferente, outra perspectiva. Eu gosto muito de quem discorda de mim, de opinião que seja política ou outra coisa, isso é bom para o debate. Gosto sempre de ouvir uma pessoa que pensa diferente de mim, porque eu consigo entender também porque a pessoa pensa diferente. Acho que isso agrega, nem sempre a gente está certo, isso serve também para as crianças e adolescentes que assistem, é ajudar na informação."

Avaliação do Santos em 2025

Quanto ao Santos, Bira afirmou ver uma evolução no time, mas que ainda não é o suficiente. Ele elogiou o trabalho de Cléber Xavier, que segundo o apresentador, tem boas ideias para o Peixe.

Ainda assim, classificou que a meta do Santos segue sendo se livrar do rebaixamento, para evitar se tornar um "clube iôiô", que alterna entre subida e descida da elite nacional. Caso o clube evolua, Bira também afirmou ser possível de sonhar com uma Sul-Americana, ou até, uma Pré-Libertadores.

O elenco, na avaliação do jornalista, é desequilibrado, com boas peças no ataque, mas com fraqueza na defesa, com a necessidade de contratar dois zagueiros. Além disso, a lateral-direita também um ponto fraco apontado, com muitas contratações para o setor, sem nenhum se firmar.

Questionado sobre as críticas ao Guilherme, Bira defendeu o jogador.

"Eu acho bem injusto as críticas ao Guilherme, sinceramente acho que pesaram muito a mão nele,. Acho que o fator dele era total mental. E a galera caiu matando e só piorou. Que bom que o Cléber Xavier e o próprio Neymar, conseguiram ali trocar uma ideia com ele para ele ficar".

Ele relembrou uma entrevista que fez com o atleta e os números dos seus últimos campeonatos. 

"Eu entrevistei o Guilherme quando ele chegou no Santos e perguntei para ele ' por que o Santos na Série B se você teve proposta do Corinthians?' E ele me respondeu: 'O Santos me escolheu. Na hora que recebi uma proposta do Santos, eu falei: 'Cara, é aqui, é aqui que eu vou ser feliz, é aqui que eu vou desenvolver meu futebol'. Então para mim o Guilherme foi o principal jogador do Santos na Série B. Tanto que quando ele lesiona, o Santos engata cinco jogos sem ganhar, e também muito importante no Paulistão. O Santos só fazia gol com ele, ele foi o artilheiro do Paulistão. Não dá para você descartar um cara assim. Acho que a torcida foi muito ingrata assim com ele. Não acho ele um excelente jogador, mas eu acho que ele cumpre o seu papel tático", concluiu.

Custo-benefício de Neymar no Peixe

Quanto ao Neymar, Bira classificou como um dos grandes acertos da atual gestão de Marcelo Teixeira, presidente do Peixe. Mesmo não sendo admirador do mandatário, reconheceu que a vinda do Camisa 10 foi positiva para o clube.

"Eu sou pago para analisar o Neymar dentro de camp e não ele fora. 'Ah ele foi par aa Kings League', para mim não tem problema ele ir para Kings League, desde que ele cumpra as obrigações dele como jogador do Santos. Ele é midiático, tem opiniões políticas que eu discordo totalmente, mas dentro de campo é um dos caras que mais gosto de ver na vida jogando futebol, cria até um paradoxo na minha cabeça".

Ele afirmou que é impossível afirmar com seriedade que o time santista seria melhor sem Neymar, pois o jogador é totalmente acima da curva.

A única ressalva feita pelo jornalista foi das críticas públicas feitas pelo pai do jogador em tom de "favor" ao clube, as qual Bira classificou como infelizes e que só distanciam o Neymar da única torcida em que ele ainda é amplamente querido: a santista.

Por fim, classificou que a experiência de Neymar Jr. e Neymar Pai é muito importante para o Santos também pelo lado de filantropia, de imagem e marketing, visto que em Barcelona, Paris e na Arábia Saudita eles adquiriram muito conhecimento e têm muito a acrescentar ao clube.

Estádio na Capital ou em Santos

Sobre o debate de onde jogar: na capital paulista ou em Santos, Bira classificou como uma questão muito difícil.

"É um grande debate. Eu Acho que a vila nunca tem que ser demolida, nunca tinha que ser reformada, nunca tinha que ser do jeito que é. Ponto. E aí talvez eu fizesse um estádio em São Paulo, usasse um estádio em São Paulo para jogos grandes, de mata-mata. Jogos padrões na Vila Belmiro e de Copas e decisivos na Capital, que e onde o Santos tem mais torcida".

Lançamento de Robinho Jr.

Menino da Vila da vez, o Robinho Jr. gerou debates sobre a sua estreia no profissional. As questões vão além das dentro de campo: ele é filho de Robinho, que foi multicampeão pelo Peixe, mas foi condenado por estupro em um julgamento na justiça italiana.

"A galera gritando: 'Robinho vem aí, o bicho vai pegar". Certo que é o nome do moleque, mas é o nome de um cara que estuprou uma mulher e foi condenado em todas as instâncias e está preso até agora. Então é uma dicotomia gigante."

Dentro de campo, Bira afirmou ver boas características e um futuro promissor ao atleta. Fora dele, comparou Robinho Jr. e a situação do pai dele com a de Oruam, filho de Marcinho VP.

"Guardada as devidas proporções, ele e o Oruam é a mesma situação. Você tem um pai que foi condenado por um crime. A única diferença é que um dos pais era ídolo de um time e o outro sempre foi criminoso, mas a questão é a mesma. Aí esse moleque vai aparecer em show falando 'liberdade para o meu pai'  e entra em uma questão muito complexa: ele está defendendo um criminoso, mas que é o pai dele. E esse moleque [Robinho Jr.] ]também vai defender o pai dele jogando bola. Eu acho que são duas pessoas diferentes, não dá para o filho carregar o B.O do pai, mas eu também acho complicado a galera idolatrar esse moleque no lugar do pai", comparou.

Artista, filme e série que mais gosta

Para finalizar, ele escolheu o artista musical, filme e série preferidos: na música, escolheu FBC, rapper que é amigo e surgiu para a fama junto com ele, entre os torcedores do Santos, escolheu Mano Brown.

Entre os filmes, optou por uma das principais obras nacionais: Bacurau. E nas séries escolheu "no tenéis ni puta idea", disponível na Max, que conta um pouco da jornada de Luis Enrique, técnico do PSG.