Exclusivo: Tiago Splitter fala sobre expectativas como técnico da NBA

O escândalo de apostas que sacudiu a NBA nesta semana culminou em prisões e afastamentos de peso,  e abriu espaço para uma mudança inédita no comando técnico de uma franquia.

Chauncey Billups, técnico do Portland Trail Blazers, foi preso em desdobramentos de uma investigação federal que apura um esquema de poker e apostas ligado a organizações criminosas, e foi imediatamente afastado. Em consequência direta, Tiago Splitter, ex-pivô campeão da NBA pelo San Antonio Spurs e integrante da comissão técnica do clube, foi indicado para assumir interinamente o cargo. Splitter passou a ser, oficialmente, o “primeiro técnico brasileiro da história da NBA”.

Pioneiro pelo Brasil

A promoção de Splitter tem caráter histórico: ele se torna o primeiro brasileiro a comandar um time da NBA, ainda que interinamente, título que carrega peso simbólico para o basquete nacional.

Em entrevista exclusiva à Gazeta, realizada antes do anúncio oficial de sua promoção, mas na qual Splitter já havia sido questionado sobre expectativas de assumir um comando, o treinador falou sobre o novo desafio

“Passei um ano em Paris, voltei agora e estou na dinâmica da NBA com o Portland, com um staff novo de técnicos que eu não conheço muito, estão me adaptando um pouquinho a eles”, disse Splitter.

Na conversa, ele reforçou também uma visão prática sobre o momento: “a gente tem um grupo bacana de jogadores que querem melhorar, que querem aprender e a gente vai brigar todas as noites para conseguir vitórias”.

Escândalo das apostas

O processo revelado pelos promotores federais e seguido pela imprensa americana descreve duas frentes investigativas. Uma envolve um sofisticado esquema de poker, supostamente operado por membros de famílias mafiosas de Nova York, que teria usado tecnologia para fraudar mesas de alto risco; nessa apuração o nome de Billups aparece relacionado à participação em jogos e à acusação de atuação como “face card”, figura usada para atrair vítimas aos jogos.

Em outra frente, há acusações de uso de informação privilegiada para apostas em partidas da NBA, com prisões já efetuadas, entre elas a de Terry Rozier e do ex-jogador e assistente Damon Jones. O Departamento de Justiça formalizou indiciamentos que listam vários nomes e descrevem o modo de operação do esquema.

As implicações do caso vão além de Portland. O Departamento de Justiça e o Federal Bureau of Investigation tornaram públicos indiciamentos que citam jogos suspeitos de manipulação e atores que teriam fornecido informações privilegiadas em partidas de 2023 e 2024; vários jogos estão sob investigação e a liga anunciou cooperação com as autoridades.

Entre os eventos elencados nas apurações estão partidas cujas variações de escala e participação de certos atletas e técnicos teriam sido alvo de exploração pelos criminosos. As prisões e as acusações representam um dos maiores eventos de integridade esportiva envolvendo a NBA desde 2024, quando Jontay Porter já havia se declarado culpado em processo relacionado e recebido sanções.

Em comunicado, a franquia e a liga colocaram-se à disposição das autoridades e destacaram a prioridade pela integridade do esporte. A mudança imediata no comando, com Splitter à frente, foi anunciada de forma a garantir continuidade de operações e minimizar o impacto esportivo.

A repercussão do caso promete desdobramentos jurídicos e esportivos: além de processos criminais e possíveis penas, clubes e a própria NBA terão de avaliar protocolos de prevenção, monitoramento de apostas e medidas disciplinares internas.

Oportunidade para Portland

Para o entorno do basquete brasileiro, a ascensão de Splitter representa ao mesmo tempo uma oportunidade simbólica e um lembrete das fragilidades que a liga trabalha para sanar internacionalmente.

O Portland Trail Blazers vive um momento de reestruturação. A equipe havia iniciado a temporada com Billups no comando e vinha ajustando elenco e rotinas, mas o afastamento abrupto altera o planejamento técnico e tático em plena fase de competição. 

Splitter, que vinha atuando como assistente e tem passagens por comissões técnicas na Europa e nos EUA, disse que pretende manter o foco nos jogadores e na rotina de preparação: “É um time bem novo, com vontade de jogar bem basquete”.