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Na Índia, trabalhadores podem ganhar até quatro vezes o salário médio do país por uma carga de areia | Reprodução Youtube | Insider Português
Yona Elvis busca areia em uma água tão turva que não seria possível enxergar nem com óculos de mergulho. O minerador retira uma quantidade equivalente a dois elefantes por turno e ajuda uma cadeia que movimentou 23 bilhões de dólares em 2022.
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A areia é o material mais extraído no mundo — e o menos monitorado. Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) de 2019, a demanda mundial pelo sedimento foi de 50 bilhões de toneladas.
Porém, os números são imprecisos. As Nações Unidas se basearam em dados de produção do cimento — mistura de areia e cascalho. A estimativa é de que a extração é maior.
No sudoeste de Camarões, Yona Elvis mora em uma casa feita da mesma areia que ele minera todos os dias. Em várias partes do mundo, a profissão não é regulamentada, o que dificulta o monitoramento.
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Não existem registros oficiais de ferimentos ou mortes pela profissão em Camarões. Mesmo assim, moradores locais dizem que óbitos são frequentes.
“É um trabalho que exige energia física, coragem e perseverança. Quando temos esses três atributos, nosso trabalho não parece tão difícil”, conta Elvis para a equipe do site Business Insider.
Todos os dias, o minerador encontra seu parceiro Niombe no Rio Wouri e vai até a área mais profunda. Depois, os dois empurram um enorme bastão para ancorar o barco.
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Com apenas um shorts justo, Elvis mergulha em uma água tão turva que seria impossível enxergar mesmo com óculos profissionais de mergulho. O camaronês vai até o fundo, enche um balde de aço e volta até o barco.
“Eu trabalho como um homem cego. Sei que tem uma pedra aqui, outra ali, mas isso se torna uma rotina porque eu faço isso todos os dias”, diz o mergulhador que trabalha há 12 anos nessa profissão.
Elvis recebe cerca de 12 dólares por dia — valor maior do que ganharia com a pesca de camarões — para mergulhar 300 vezes com baldes que, cheios, pesam 15 kg.
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O rio tinha grande quantidade do crustáceo, mas depois da mineração de areia o número diminuiu drasticamente, segundo relatos de pescadores.
Do outro lado do planeta, no Rio Mekong, Camboja, barcos retiram mais areia do que pode ser reposta naturalmente. A prática causou colapso nas margens dos rios duas vezes somente em 2021.
“O rio se torna mais profundo e [com o tempo] ele fluirá mais rápido ou mais lento. Isso tem consequências no potencial de inundações ou secas”, explica Parcal Peduzzi, diretor do GRID-Genebra, programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
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O tipo de areia encontrado nos leitos dos rios vem de rochas que se desintegraram ao longo de milhões de anos. Elas deixaram grãos grossos e afiados que conseguem reter mais umidade do que a areia do deserto — o que torna o material perfeito para a construção.
Esse extrativismo afeta a natureza e toda a cadeia de produção em volta do rio. O pescador Tin Yusos ganhou a vida vendendo peixes do rio Mekong, mas nos últimos anos tem enfrentado dificuldades. O número de peixes diminuiu drasticamente.
“O nível da água está bem mais baixo do que nos últimos dois anos. Comparado pelos canos naquele penhasco de concreto. Cerca de três metros mais baixo do que dois anos atrás”, diz o pescador.
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Por outro lado, na capital do Camboja a areia impulsiona o mercado imobiliário. Desde 2003, os empreendedores preencheram 60% do lagos de Phnom Penh — capital do país. A areia é usada para construir vilas e shoppings.
Porém, as pessoas que viveram em volta dos lagos e trabalharam ali a vida toda enfrentam despejo. Dados na ONU mostram que o Camboja enviou 27 milhões de dólares em areia para Cingapura, Tailândia e China.
Com a demanda mundial de areia até 2019, daria para construir um muro de nove andares ao redor do planeta, segundo o relatório do Pnuma feito pelas Nações Unidas.
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Dois anos depois, em 2022, o mercado global de areia passou a valer 23 bilhões de dólares. A expectativa é de que, até 2031, cresça para 46,5 bilhões, conforme o portal Business Insider.
A urbanização ao redor do mundo impulsiona o mercado global de areia. Como o minério está sendo extraído mais rápido do que pode ser reposto por processos geológicos naturais, algumas empresas estão fabricando areia para reduzir os impactos nos rios e lagos.
Rochas provenientes de demolição são trituradas, depois são filtradas para remover impurezas como silte — pedregulhos maiores que argila — e argila que danificam o concreto. Mesmo assim, produzir areia manufaturada ainda pode poluir o solo e a água ao redor.
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