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A origem dessa configuração remonta à Segunda Guerra Mundial. | Wikimedia Commons
Em Gibraltar, um pequeno território britânico espremido entre a Espanha e o mar Mediterrâneo, o cotidiano tem uma cena que parece saída de filme. Ali, aviões decolam e pousam exatamente onde passam carros, pedestres e ciclistas, bem sobre a principal avenida da cidade.
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O Aeroporto de Gibraltar é considerado um dos mais inusitados do mundo porque a sua pista cruza a Winston Churchill Avenue, a rua que liga o centro urbano à fronteira com a Espanha. Toda vez que um voo se aproxima, o trânsito precisa parar como se fosse uma passagem de trem.
Gibraltar tem apenas 6,8 quilômetros quadrados de área, o que limita qualquer obra de grande porte. Quando surgiu a necessidade de um aeroporto, não havia espaço para uma pista tradicional afastada da malha urbana. A solução foi construir parte da estrutura sobre um aterro no mar e deixá-la atravessar a avenida principal.
O resultado é um dos cruzamentos mais impressionantes da Europa: de um lado, a cidade e a fronteira; de outro, a pista que leva voos para destinos como Londres, Manchester e Casablanca. No meio, semáforos e barreiras que param tudo sempre que um avião precisa pousar ou decolar.
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O procedimento é simples para quem está no solo, mas causa surpresa em quem vê pela primeira vez. Quando um avião se aproxima, os sinais vermelhos se acendem, barreiras descem e todo o fluxo é interrompido. Em poucos minutos, a pista se transforma em cenário exclusivo da aviação.
Carros, ciclistas e pedestres aguardam, em média, entre cinco e dez minutos até que a operação termine. Nesse intervalo, é comum ver celulares apontados para o céu. Turistas registram tudo, enquanto moradores seguem a rotina com naturalidade, acostumados ao ruído e ao vento forte gerados pelos jatos.
Para quem está do lado de fora, a experiência é marcante. Em questão de segundos, um Boeing 737 passa rugindo a poucos metros de altura. A rajada de ar sacode veículos, o barulho toma conta da avenida e o cheiro de querosene reforça a proximidade com a aeronave.
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A pista do aeroporto tem apenas 1.829 metros, uma das mais curtas da Europa para voos comerciais. Ela começa praticamente no mar, atravessa a Winston Churchill Avenue e termina encostada na base do famoso Rochedo de Gibraltar. É um cenário que não permite erros.
Os ventos cruzados vindos do Mediterrâneo tornam a aproximação ainda mais desafiadora. Por isso, os pilotos que operam ali precisam de certificação específica, treinados para pousar e decolar com precisão milimétrica em uma pista curta e cercada de obstáculos.
A origem dessa configuração remonta à Segunda Guerra Mundial. Na época, a Força Aérea Britânica construiu uma pista de emergência em Gibraltar para fins militares. Com o passar dos anos, o espaço foi sendo ampliado e adaptado para uso comercial, sempre esbarrando na falta de terreno.
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Sem alternativas de expansão, o Reino Unido aprovou a ideia de cruzar a avenida com a pista. A decisão gerou protestos da Espanha, que reivindica a soberania sobre o território há séculos, mas não impediu a continuidade do projeto. Hoje, o aeroporto é visto como símbolo da permanência britânica na região.
Quem acompanha um pouso do lado de fora entende por que o lugar virou atração. A aproximação costuma ser baixa sobre a baía, dando a sensação de que a aeronave quase toca a água antes de alcançar o asfalto. Logo depois, o avião freia com força para parar em menos de dois quilômetros.
As decolagens também chamam atenção. A aeronave acelera no limite com o Rochedo de Gibraltar à frente, uma formação rochosa gigante que influencia o vento e cria turbulências locais. Do ponto de vista do turista, a cena é cinematográfica; para os pilotos, é mais um teste de habilidade.
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Apesar da fama mundial, o aeroporto de Gibraltar não é movimentado como grandes hubs europeus. Em geral, são de quatro a seis voos por dia, o que significa que o trânsito fica bloqueado por algo entre 20 e 30 minutos ao longo de toda a jornada.
Ainda assim, quem precisa cruzar a fronteira entre Gibraltar e Espanha sabe que um voo fora do horário previsto pode provocar atrasos inesperados. Uma travessia simples de poucos minutos pode ganhar mais um quarto de hora de espera se uma operação aérea estiver em andamento.
Com o tempo, o que era apenas necessidade virou curiosidade turística. Muitos visitantes ajustam o horário da caminhada para ver de perto um pouso ou uma decolagem. Próximo às barreiras da avenida e nas imediações da Border Road estão alguns dos pontos preferidos para fotos e vídeos.
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Nesses locais, a sensação de proximidade é ainda maior. A visão do avião cruzando a pista, a poucos metros da área onde os pedestres aguardam, cria uma experiência que dificilmente seria permitida em outros aeroportos pelo mundo.
Projetos para construir um túnel sob a pista existem há décadas, como forma de liberar a avenida e reduzir o impacto no trânsito. Mas os custos estimados, superiores a 200 milhões de euros, são considerados altos demais para um território pequeno como Gibraltar.
Por enquanto, a solução continua no papel. Tudo indica que, por muitos anos, moradores e visitantes seguirão convivendo com semáforos que fecham não para a passagem de um trem, mas para a manobra de um avião comercial sobre a cabeça de quem está na rua.
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A peculiaridade local não se limita ao aeroporto. A fronteira terrestre entre Gibraltar e Espanha também chama atenção. Em poucos passos, o viajante atravessa uma linha e muda de país, moeda, tomada e até o lado da pista em que os carros circulam.
De um lado, o padrão britânico, com libras esterlinas, tomadas de três pinos e direção na mão esquerda. Do outro, o cotidiano espanhol, com euros, tomadas europeias e circulação pela mão direita. Entre esses dois mundos, a pista do aeroporto segue cortando a cidade ao meio e ajudando a contar a história única de Gibraltar.
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