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A "Cachoeira de Sangue" é um espetáculo impressionante na geleira de Taylor, Antártida. | Wikimedia Commons
Um dos mistérios mais enigmáticos da Antártida acaba de ganhar uma explicação definitiva. A chamada “Cachoeira de Sangue”, uma queda d’água avermelhada que escorre pela Geleira de Taylor, intriga cientistas desde 1911 e agora revela segredos surpreendentes.
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Pesquisadores americanos confirmaram que a tonalidade intensa não vem de algas, como se acreditava no passado, mas de nanoesferas ricas em ferro presentes em um reservatório subterrâneo de água super-salgada, preservado há mais de um milhão de anos.
Além de desvendar a origem do fenômeno, a descoberta abre novas pistas sobre como a vida pode resistir em ambientes extremos, revisitando um ecossistema oculto no coração gelado do continente branco.
A "Cachoeira de Sangue" é um espetáculo impressionante na geleira de Taylor, Antártida.
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Descoberta em 1911 por Thomas Griffith Taylor, sua cor avermelhada e a fluidez no frio polar intrigaram os cientistas por mais de um século. Ela escorre para o Lago Bonney na região de McMurdo.
Por muito tempo, acreditou-se que o vermelho da água fosse causada por algas. No entanto, análises mais recentes mostraram que a verdadeira razão era a oxidação do ferro abundante em sua composição, que "enferruja" ao ser exposto ao oxigênio do ar. Este fenômeno é crucial para entender seu mistério.
A origem da água vermelha vem de um reservatório subterrâneo, super-salgado e muito antigo, localizado abaixo da Geleira de Taylor. Geólogos mapearam o fluxo da água, confirmando que esse reservatório se formou há mais de um milhão de anos e permanece líquido em seu interior.
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A alta concentração de sal, superior a 13%, é o segredo para a água não congelar, mesmo com temperaturas chegando a -7 graus Celsius. "Embora pareça estranho, a água libera o calor à medida que congela, e esse calor aquece o gelo ao redor", explica a pesquisadora Erin Pettit.
Um estudo recente aprofundou a composição da água, usando microscópios de transmissão de elétrons. Ken Livi, da Universidade Johns Hopkins, descobriu o ferro não como mineral, mas em minúsculas nanoesferas. Essa foi uma revelação crucial para o mistério.
Essas partículas são objetos arredondados, cem vezes menores que uma célula sanguínea humana, com características físicas e químicas únicas.
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"Para ser um mineral, os átomos devem estar dispostos em uma estrutura cristalina muito específica. Essas nanoesferas não são cristalinas, então os métodos usados anteriormente para examinar os sólidos não as detectaram”, afirma Ken Livi.
A Geleira de Taylor abriga um complexo ecossistema. Microrganismos que se alimentam de ferro e enxofre vivem nessas águas antigas há milhões de anos. Estudar esses ambientes isolados oferece insights valiosos para a busca de vida extraterrestre.
A "Cachoeira de Sangue" tornou-se um laboratório natural para simular condições em outros planetas, como Marte. Pesquisadores, como a microbióloga Jill A. Mikucki, usaram métodos idênticos aos dos rovers marcianos para analisar as amostras e entender este fenômeno.
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A descoberta das nanoesferas, contudo, revelou limitações nos equipamentos de missões espaciais. "Nosso trabalho revelou que a análise conduzida pelos veículos rover é incompleta", afirma Ken Livi.
Isso afeta a determinação da verdadeira natureza dos materiais ambientais. Livi acrescenta que essa incompletude é mais notável em planetas gelados como Marte.
Lá, os materiais formados podem ser nanométricos e não cristalinos, dificultando a detecção pelos métodos atuais dos rovers. Dessa forma, novos instrumentos são essenciais para uma exploração mais profunda.
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