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A relação entre os escudos de Bahia e Corinthians ajuda a entender como a identidade de um clube também se constrói a partir de referências externas. | Wikimedia Commons
Embora seja um dos clubes mais tradicionais do Brasil, com uma torcida apaixonada e o título de campeão brasileiro de 1988, o Esporte Clube Bahia carrega, no peito, um pedaço da história de outro gigante do futebol.
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Pouca gente sabe, mas o escudo tricolor, tão familiar aos torcedores baianos, nasceu olhando para o Parque São Jorge.
Foi o Corinthians quem serviu de inspiração para a criação da versão com a bandeira do Estado da Bahia no centro do emblema, adotada em 1931 e mantida, com poucas mudanças, até hoje.
Nos anos 1930, o escudo do Bahia ainda passava por ajustes até chegar ao formato que se tornaria marca registrada do clube.
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Em vez de partir do zero, a solução veio de longe: os dirigentes baianos se encantaram com o modelo do Corinthians, que já exibia a bandeira do Estado de São Paulo no centro de um escudo redondo, com o nome do clube e o ano de fundação contornando o círculo.
Foto: Divulgação/Redes SociaisCoube a Raimundo Magalhães desenhar o novo emblema tricolor, em 1931. Ele se apoiou diretamente na base corintiana: manteve o formato redondo, o nome completo “Esporte Clube Bahia”, o ano de fundação (1931) e a bandeira centralizada.
A diferença ficou, sobretudo, por conta das cores e da substituição da bandeira paulista pela bandeira da Bahia, respeitando a identidade local. A estrutura, porém, seguia o “esqueleto” do escudo alvinegro.
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Na prática, o que o Corinthians havia feito com a bandeira paulista, o Bahia reproduziu com a bandeira baiana. A ideia de estampar o símbolo do Estado dentro do escudo, que hoje parece natural, naquela época era novidade e ajudava a aproximar o clube de sua terra, reforçando pertencimento e orgulho regional.
O tempo passou, o escudo pegou, caiu no gosto da torcida e acabou virando parte oficial da identidade do Bahia. Tanto que seu desenho foi parar no estatuto do clube, em artigo específico.
O texto descreve o emblema como tendo a forma de um círculo, com margens azul e branca, uma borda externa azul onde aparecem o nome do clube e o ano de fundação, e, ao centro, a bandeira do Esporte Clube Bahia.
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O estatuto ainda abre espaço para que o escudo receba complementos conforme o time acumule conquistas, permitindo a inclusão de estrelas ou outros símbolos acima do emblema para representar títulos importantes. É uma forma de reconhecer, na própria camisa, as glórias esportivas sem alterar a base do desenho que atravessou gerações.
Enquanto isso, em São Paulo, o Corinthians seguiu outro caminho. Aquele escudo “original” que inspirou o Bahia é o modelo usado entre 1919 e 1939, bem mais simples que o atual.
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Depois, o clube paulista acrescentou elementos ligados às suas raízes como clube de remo: âncora, remos cruzados e outros detalhes que deixaram o emblema mais carregado visualmente. A partir daí, os escudos deixaram de ser quase gêmeos para se tornarem apenas parentes distantes.
Curiosamente, o Bahia manteve-se muito mais fiel à inspiração inicial do que o próprio Corinthians. Se alguém pega hoje o escudo corintiano da década de 1920 e o coloca lado a lado com o do Esquadrão de Aço, é fácil perceber o parentesco: o formato, a disposição do nome e o destaque para a bandeira seguem praticamente a mesma lógica.
A relação entre os escudos de Bahia e Corinthians ajuda a entender como a identidade de um clube também se constrói a partir de referências externas.
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É como se um arquiteto, ao projetar uma casa moderna em Salvador, usasse a planta de um prédio histórico de São Paulo como base.
Manteria a estrutura redonda, o conceito de um elemento central e as proporções gerais, mas mudaria a cor da fachada, os acabamentos e os detalhes internos para que a construção combinasse com o bairro, o clima e a cultura local.
No caso do Bahia, o “prédio” é o escudo que a torcida aprendeu a amar. A estrutura vem de São Paulo, o coração é baiano, e o resultado é um emblema que, ao mesmo tempo, reverencia sua fonte de inspiração e escreve uma história própria.
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Um segredo que muitos torcedores só descobrem após olhar com mais atenção para o círculo tricolor que brilha no peito.
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