Entre em nosso grupo
2
Continua depois da publicidade
O poraquê pode usar a eletricidade para caçar | Imagem: KoS/Wikimedia Commons
A floresta densa da Amazônia oculta uma variedade de riscos, desde répteis peçonhentos até insetos portadores de doenças. Contudo, um perigo surpreendente está sendo cada vez mais identificado: a crescente descoberta de peixes elétricos na fauna do Brasil.
Continua depois da publicidade
Enquanto a corrente elétrica residencial comum oscila entre 127 e 220 volts, e grandes instalações chegam a 360 volts, esses peixes sul-americanos são capazes de liberar um espantoso potencial de 860 volts, uma descarga com poder potencialmente letal para um ser humano.
Ao contrário do que se pensa, a maioria desses seres aquáticos não usa eletricidade para ferir. O mecanismo serve principalmente para a orientação, a comunicação e até para a localização de comida escondida no fundo dos rios.
O professor Luiz Peixoto, da Universidade Federal do Pará, explicou que cada espécie reconhece unicamente as descargas da sua própria espécie, ou seja, os choques são específicos de cada grupo biológico.
Continua depois da publicidade
Apenas os poraquês empregam a eletricidade na caça, o que provavelmente explica o fato de terem as descargas mais poderosas. Outros tipos, como bagres-elétricos e raias, produzem descargas fracas, de 10 a 50 volts, incapazes de afetar pessoas.
O poraquê conhecido como Electrophorus electricus descarrega 460 volts em suas vítimas. Em 2019, no entanto, pesquisadores da USP e do Smithsonian Institute (EUA) documentaram duas novas espécies que atingem níveis de voltagem ainda mais altos. Dessas, o Electrophorus voltai detém o recorde de 860 volts.
Das espécies mais conhecidas, destacam-se o poraquê, o ituí-cavalo e a tuvira. Entenda como essas enguias elétricas geram o choque e como é possível evitar acidentes.
Continua depois da publicidade
Os biólogos classificam os peixes elétricos em três ordens distintas: os bagres elétricos na África (Siluriformes), as raias elétricas (Torpediniformes e Rajiformes) e os peixes elétricos de água doce da América do Sul e Central (Gymnotiformes), onde se encaixam os exemplares brasileiros.
O mecanismo do choque é possível graças a células especializadas chamadas eletrócitos, que permitem aos peixes emitir e captar campos elétricos. Na maioria das espécies, como no poraquê, essas células derivam de tecido muscular modificado, mas no caso do ituí-cavalo, são células neurais que se transformam.
O professor Luiz Peixoto revelou que, embora existam aproximadamente 280 espécies de Gymnotiformes reconhecidas, grande parte delas foi descoberta recentemente.
Continua depois da publicidade
"Dessa diversidade, cerca de 70 espécies novas foram descritas nos últimos dez anos, devido ao uso de ferramentas tecnológicas aprimoradas, como a tomografia computadorizada", disse Peixoto, em entrevista à Folha de S. Paulo
Apesar da impressionante voltagem, os acidentes com peixes elétricos registrados são raros, e casos fatais envolvendo esses animais aquáticos são ainda mais incomuns, visto que humanos não fazem parte da sua dieta.
A biologia desses peixes é singular. Pesquisadores ainda investigam como eles evitam ser feridos pelas próprias descargas. Inclusive, a enzima acetilcolinesterase, presente nos órgãos elétricos, está sendo estudada por seu potencial no tratamento de doenças neurodegenerativas.
Continua depois da publicidade
Por isso, os cientistas enfatizam a necessidade de preservar não apenas as espécies, mas também seus habitats naturais.
"São animais fascinantes, capazes de produzir eletricidade, e a maior concentração de diversidade está na região amazônica, o que só confirma a relevância do conhecimento biológico sobre eles", concluiu o professor Peixoto.
A floresta Amazônica esconde diversos mistérios que a ciência corre para tentar responder. Um deles é o chamado "Stonehenge da Amazônia".
Continua depois da publicidade
Continua depois da publicidade