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Novas pesquisas revisitam a trajetória de duas figuras fundamentais da resistência negra no Brasil, revelando fatos sobre Luiza Mahin e debatendo a real existência de Dandara dos Palmares
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Conheça a história dessas heroínas negras | Foto: Youtube/Reprodução
A história oficial do Brasil ganhou duas protagonistas em 2019, quando Luiza Mahin e Dandara dos Palmares tiveram seus nomes inscritos no Livro dos Heróis da Pátria. Mas, enquanto novas descobertas documentais consolidam a presença de Mahin na memória histórica, a figura de Dandara segue cercada por debates, entre a ficção e a tradição oral.
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Entre documentos recém-encontrados e narrativas construídas ao longo do tempo, essas duas mulheres representam não apenas a luta contra a escravidão, mas também a forma como o Brasil revisita sua memória coletiva.
Por muito tempo, Luiza Mahin foi vista como uma personagem envolta em incertezas. Conhecida como a mãe do abolicionista Luiz Gama, sua trajetória oscilava entre o mito e a história documentada.
A ausência de registros oficiais gerou dúvidas sobre sua real existência, mas, ao mesmo tempo, alimentou narrativas que a transformaram em símbolo das lutas negras no século 19.
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Pesquisas recentes mudaram esse cenário. A historiadora independente Lisa Earl Castillo e a professora Wlamyra Albuquerque (UFBA) encontraram documentos inéditos, como um testamento do século 19 que descreve Mahin como “cativa nagô”.
Essa descoberta confirma sua condição de escravizada, oferecendo uma base documental inédita para consolidar sua presença na história brasileira.
Os novos achados também ajudam a ressignificar sua trajetória. Mais do que a “mãe mítica” de Luiz Gama, Mahin se apresenta agora como uma mulher africana real, marcada pelo cativeiro e pela violência da época, mas cuja memória se transformou em bandeira de resistência.
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Essa dualidade entre fato e símbolo reforça a força de sua imagem para os movimentos sociais negros.
Diferente de Mahin, a história de Dandara permanece envolta em debates. Não existem documentos coloniais que confirmem sua presença no Quilombo dos Palmares, apesar da tradição popular descrevê-la como a companheira de Zumbi e líder feminina da resistência.
A ausência de registros é interpretada por muitos pesquisadores como resultado de um apagamento sistemático das mulheres negras nos arquivos oficiais da época.
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Estudos recentes apontam que o nome “Dandara” pode ter surgido de um romance publicado nos anos 1960 e, mais tarde, se popularizado com o cinema e a militância negra. Para especialistas, isso não diminui sua importância simbólica.
Pelo contrário: a figura de Dandara, ainda que construída pela literatura e pela oralidade, se tornou referência de luta, inspirando gerações e sendo incorporada ao imaginário coletivo.
Assim, Dandara existe em outra dimensão da história: como mito político e cultural. Para o movimento negro, sua figura é fundamental na construção de identidade, autoestima e resistência.
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Ainda que sua historicidade seja questionada, seu impacto social é inegável, tornando-a um exemplo de como a memória se reconstrói de acordo com as necessidades do presente.
O caso de Dandara e Luiza Mahin mostra como a fronteira entre mito e realidade é parte essencial da memória histórica. Enquanto Mahin ganha força com a descoberta de novos documentos, Dandara ilustra como personagens criados ou reinventados podem se tornar símbolos potentes na luta social.
A história oficial, portanto, não se limita ao que está nos arquivos, mas também ao que resiste no imaginário coletivo.
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Especialistas ressaltam que figuras mitificadas, como Frei Tomé ou Chico Rei, também exercem papel fundamental na compreensão da cultura de seu tempo.
Mesmo quando não há comprovação documental, esses personagens expressam valores, crenças e identidades que moldaram a vida social em diferentes períodos da história brasileira.
No fundo, estudar personagens como Mahin e Dandara significa compreender não apenas o passado, mas também os usos políticos e culturais que fazemos dele. É nessa disputa entre fatos e memórias que se constrói a identidade nacional, revelando como o Brasil lida com suas raízes negras e com o legado da escravidão.
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