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Exclusivo: comercial na Globo induz idosos a produto sem eficácia científica

Propaganda de suplementos alimentares afirma que está em mídias televisivas, de rádio e na internet

Leonardo Siqueira

21/08/2025 às 13:59  atualizado em 21/08/2025 às 14:00

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Anvisa disponibiliza no seu portal a lista de empresas autorizadas a vender suplementos alimentares

Anvisa disponibiliza no seu portal a lista de empresas autorizadas a vender suplementos alimentares | Reprodução Globo Novelas

Idosos estão sendo induzidos ao erro ao comprar suplementos alimentares da empresa Vitae Gold Produtos Naturais LTDA por telefone. É o que argumenta o Procon em nota solicitada pela Gazeta. Segundo o órgão, esses produtos podem causar efeitos colaterais à saúde. 

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É comum ver anúncios da empresa em grandes canais como o Globoplay Novelas. O valor do frasco chega a quase mil reais. Em um dos vídeos publicitários, a atriz e cantora Lucinha Lins argumenta que os compostos vão “ajudar você que sofre com dores nas articulações, artrite, artrose, reumatismo, fibromialgia”. 

O MSM (Metilsulfonilmetano) auxilia no tratamento de artrose e pode ser encontrado em ovos, carnes, cebola, couve e gérmen de trigo. Mas sozinho não possui todas as propriedades par combater a doença | Freepik
O MSM (Metilsulfonilmetano) auxilia no tratamento de artrose e pode ser encontrado em ovos, carnes, cebola, couve e gérmen de trigo. Mas sozinho não possui todas as propriedades par combater a doença | Freepik
Embora apresente diversos benefícios para a saúde, a cúrcuma é contraindicada para pessoas que estejam tomando remédios anticoagulantes ou bloqueio das vias biliares | Freepik
Embora apresente diversos benefícios para a saúde, a cúrcuma é contraindicada para pessoas que estejam tomando remédios anticoagulantes ou bloqueio das vias biliares | Freepik
O consumo de creatina e qualquer componente que prometa uma melhora significativa, deve ser confirmado por um médico | Freepik
O consumo de creatina e qualquer componente que prometa uma melhora significativa, deve ser confirmado por um médico | Freepik

O grande problema é que a propaganda de TV não deixa muito claro que o produto não é um medicamento, com exceção de um aviso em letras miúdas. O que pode induzir idosos a pensar que vão ter solução significativa para os problemas de saúde citados, e isso é uma infração grave, diz o Procon.

Pouco retorno 

A publicidade do produto Vitae 7.1 da empresa Vitae Gold argumenta que o suplemento possui sete ativos para cuidar da saúde do comprador. Ainda promete ajudar com inúmeros problemas de saúde com duas cápsulas ao dia.

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“Ele [Vitae 7.1] é um poderoso anti-inflamatório natural responsável por eliminar as inflamações do corpo. Tratando problemas como artrite, artrose, osteoporose, fibromialgia, dor de coluna, dores nos ossos, nas juntas e articulações”, disse à Reportagem uma vendedora por WhatsApp. 

Depois continuou: “Excelente para o coração, prevenindo AVC e infarto. Vai controlar diabetes, colesterol e pressão alta. Muito bom para a memória, visão e imunidade”.

Porém, o médico especialista em nutrologia Matheus Azevedo explica que, para diminuir as dores de regeneração, é preciso uma combinação de medicamentos reais e exercício físico.

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Os compostos do produto Vitae 7.1 (Creatina, magnésio, chlorella, colágeno, vitamina C e Metilsulfonilmetano) só têm algum efeito quando fazem parte de uma dieta.

Azevedo explica que “os compostos podem ajudar como coadjuvantes, mas não substituem tratamentos médicos”.

O próprio fabricante reconhece em letras miúdas, na parte debaixo do vídeo publicitário: “O Vitae.7.1 não é um medicamento e seus efeitos não são comprovados cientificamente. As informações apresentadas foram obtidas por meio de estudos das vitaminas que contém no produto”. 

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Para Azevedo, o potencial de contribuição existe, mas é modesto. No caso de artrose e artrite, a composição do produto com Metilsulfonilmetano e colágeno tipo II tem suporte científico somente em doses superiores ou tratamentos padronizados. Nesse caso, ajudam levemente na inflamação e na dor articular.

Porém, a dosagem apresentada está aquém da usada em estudos clínicos que demonstram eficácia. 

“Em suma, [o suplemento] pode atuar como coadjuvante no suporte geral articular, mas não substitui suplementação ou medicamentos específicos para artrite, artrose ou osteoporose”, explica.

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Em nota à Gazeta, a Vitae Gold informa que a propaganda do produto obedece às regras e normas nacionais. Leia a nota na íntegra ao final dessa reportagem.

Entrega o que promete?

Em análise feita pela Gazeta no portal Reclame Aqui, a empresa tem 143 reclamações até o momento. Dessas, 79 pessoas avaliaram a empresa com uma nota média de 4,72 numa escala que vai até 10. Dos avaliadores, somente 30% responderam que voltariam a fazer negócio com a Vitae Gold. 

As reclamações que ganharam maior destaque são: sobre a insistência abusiva de ligações para fazer a venda e a ineficácia do produto. Das 34 sobre ineficiência, uma cliente escreveu: “Acreditei em uma promessa enganosa”.

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A consumidora continuou por meio do portal: “O produto que foi vendido não teve resultado nenhum, fiz o tratamento completo de um ano do ora pro nóbis e não tive melhora nenhuma”.

Porque essa propaganda é perigosa para idosos, segundo o Procon?

A prática é conhecida como publicidade enganosa. Aquela que utiliza técnicas psicológicas como mensagem implícita ou indireta para vender um produto. A publicidade promete um resultado e o cliente não o tem, diz o Procon. 

Sibele Monice, consultora de comunicação, marketing, brand e proprietária da SOUL Design Lab, argumenta que a publicidade não demonstra nenhuma garantia para o consumidor. A atriz que aparece no vídeo valida o produto mesmo não sendo médica.

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“O locutor promete uma série de benefícios sem nenhum dado comprovado ou testemunho. É um risco para quem consome e para a imagem da Lucinha Lins. É quase um produto milagroso. Uma promessa que o produto pode não cumprir”, explicou Monice.

De qualquer forma, para adquirir o kit com seis potes, é preciso desembolsar R$ 5.988 ao ano. Isso porque a empresa vende o produto em 12x de R$ 499, totalizando R$ 998 por unidade. 

Ao entrar em contato pelo WhatsApp, a vendedora oferece uma promoção de 70% de desconto. O valor muda para 12x de R$ 190, ou seja, R$ 380 o frasco.

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O Procon foi questionado se a publicidade induz idosos a pensarem que o produto funciona como medicamento e se manifestou: 

“A forma de comercialização induz o consumidor em erro, uma vez que não se trata de medicamento e sim de suplemento alimentar. É caso que pode ser caracterizado como publicidade enganosa”. 

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A nota continua: “Pois, mesmo se tratando de suplemento alimentar, por ser direcionado ao público idoso, pode causar efeitos colaterais por conta da interação medicamentosa, que é o uso simultâneo com outros medicamentos”. 

Por último, enfatiza que qualquer produto para a saúde (medicamentos ou suplementos) só deve ser consumido depois de avaliação médica.

Como escolher o produto ideal

Desde setembro de 2024, a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 843/2024 e a Instrução Normativa (IN) 281/2024 introduziram um marco regulamentar para os alimentos no Brasil.

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Até o dia primeiro de setembro de 2025, todos os suplementos alimentares que antes eram regulados pelas Vigilâncias Sanitárias locais deverão notificar a Anvisa.

Com isso, o órgão vai poder estruturar uma base de dados sobre os produtos e facilitar o monitoramento, inspeção e auditorias. Ou seja, todos os produtos deverão ser regulamentados pela Anvisa

“Nenhuma das funções pré-aprovadas está associada com finalidade medicamentosa ou terapêutica”, disse o órgão sobre o suplemento Vitae.7.1

A Anvisa mostra os caminhos para o consumidor driblar propagandas que prometem uma grande melhora no sistema fisiológico. Qualquer alegação de cura, tratamento e prevenção de doenças precisa ser vista com desconfiança.

O produto necessita ter no rótulo um alerta de que se trata de um suplemento e não um medicamento. Ainda recomenda: 
    
Desconfiar de propagandas que fazem promessas milagrosas ou apenas exaltam os benefícios do produto. Provavelmente trata-se de um anúncio irregular.     

Lembrar que o influenciador, em geral, não é um profissional de saúde e não conhece as particularidades do seu quadro clínico. Se há dúvidas quanto à suplementação, procure um nutricionista ou outro profissional de saúde habilitado para essa finalidade.     

Procurar auxílio dos conselhos profissionais ou sociedades médicas, por exemplo, para verificar as credenciais profissionais (nome, registro profissional etc.) de alguém que aparece protagonizando anúncios de um produto do âmbito da saúde.      

Por isso, ouvir um profissional da saúde de confiança é a melhor forma de usar qualquer suplemento. Somente médicos podem entender o quadro clínico específico da pessoa para receitar o melhor tratamento. 

Até a publicação dessa reportagem, não foram encontrados suplementos alimentares com os termos “Vitae Gold” e "Vitae 7.1” no banco de dados da Anvisa. A rede Globo foi procurada, mas até a publicação dessa matéria não obtivemos resposta. 

Resposta da Vitae Gold Produtos Naturais LTDA

"A Vitae Gold Produtos Naturais Ltda., em atenção ao e-mail recebido sobre a publicidade do produto Vitae 7.1, informa que, embora tenha solicitado previamente, não lhe foi encaminhada a íntegra da minuta da reportagem, o que inviabiliza o pleno exercício do direito de resposta e do contraditório, pois impede a análise contextual e precisa do material a ser publicado.
 
Em relação à hipotética nota atribuída ao PROCON, causa estranheza que a instituição tenha se manifestado em relação a matéria que foge a sua alçada. A afirmação de que o produto, por ser direcionado ao público idoso, poderia causar efeitos colaterais em razão de interação medicamentosa, por se tratar de matéria de natureza técnico- farmacológica, extrapola a competência legal daquele órgão, cuja atribuição não inclui a avaliação de interações entre substâncias, competência esta que é própria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e de entidades científicas especializadas.

A publicidade do Vitae 7.1 a que se refere a pretensa reportagem foi veiculada em conformidade com o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária (CBAP), apresentando informações verídicas, proporcionais e acompanhadas da advertência expressa de que “o Vitae Gold 7.1 não é medicamento e seus efeitos não são comprovados cientificamente”, além de observar as disposições da RDC nº 243/2018 e da IN nº 28/2018 da ANVISA, limitando-se a citar propriedades nutricionais reconhecidas dos ingredientes, sem qualquer alegação de efeitos terapêuticos ou curativos.
 
Ressalta-se, ainda, que a Resolução da ANVISA mencionada encontra-se sob discussão judicial, em trâmite perante a Justiça Federal, medida que busca reconhecer nulidades procedimentais do órgão e assegurar o contraditório e a ampla defesa, tendo em vista que não foi oportunizada manifestação prévia da empresa antes da imposição das restrições. Até decisão judicial definitiva, não há qualquer conclusão técnica ou legal que determine a nocividade do produto.

É importante ainda esclarecer que o site Reclame Aqui, por sua própria natureza, não é uma fonte oficial para atestar que determinado produto esteja sendo vendido sem autorização da ANVISA, ou que sua propaganda seja irregular ou ilegal. Ele é essencialmente uma plataforma de registro de reclamações de consumidores, que normalmente expressam percepções e experiências pessoais — muitas vezes subjetivas, não verificadas e sem respaldo técnico ou documental.

Embora seja possível utilizá-lo como ponto de partida para identificar casos, relatos e tendências de insatisfação do público, essas informações não têm valor probatório por si só e não substituem a checagem junto a órgãos oficiais. Portanto, pode servir como fonte inicial de pauta ou indicativo de problemas recorrentes, mas não como prova conclusiva de irregularidade ou ilegalidade, sob pena de configurar divulgação de informação não verificada.

A Vitae Gold reafirma seu compromisso com a transparência, com o respeito ao consumidor e com a estrita observância das normas regulatórias, ressaltando que não há respaldo técnico ou documental para alegações de publicidade enganosa ou risco à saúde, e adverte que a divulgação de informações falsas, sem comprovação técnica ou respaldo jurídico, pode configurar ilícito passível de responsabilização nas esferas cível e penal, conforme a gravidade do dano e a repercussão da inverdade.
 
Permanecemos à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais e solicitamos que esta manifestação seja publicada na íntegra, a fim de assegurar equilíbrio e completude das informações apresentadas ao público.
 
 Atenciosamente,
Vitae Gold Produtos Naturais Ltda.
Assessoria Jurídica – Tahech Advogados."

 

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