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O fungo parece se alimentar de radiação | Imagem: Rui Tomé/Atlas Micologia de Coimbra
Já faz cerca de 40 anos que o reator nuclear de Chernobyl explodiu, espalhando radiação letal para zonas próximas. Mas embora os seres humanos não possam chegar perto, alguns fungos não só aguentam a radiação, mas parecem ter evoluído para aproveitar esse recurso.
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É o que mostra uma recente descoberta de pesquisadores do Albert Einstein College of Medicine, nos Estados Unidos, com base em uma amostra coletada por pesquisadores da Academia Nacional de Ciência da Ucrânia.
Os pesquisadores documentaram mais de 30 espécies de fungo que prosperavam na zona de exclusão criada após o acidente nuclear. Entre elas, uma espécie chamada Cladosporium sphaerospermum não só aparecia em maior quantidade, mas parecia ter níveis radioativos maiores.
Os cientistas da Albert Einstein College então expuseram o fungo em doses de radiação no laboratório e percebeu que ele não era afetado da mesma maneira que outros seres vivos. A radiação ionizante arranca elétrons dos átomos, transformando-os em íons.
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Isso pode danificar tecidos como a pele e outros órgãos, e afetar até mesmo o DNA, gerando câncer e mutações genéticas transmitidas para os descendentes. Por outro lado, a radiação também é utilizada para eliminar tumores no tratamento de câncer.
Contudo, o C. sphaerospermum não só ficou numa boa com as doses letais de radiação, mas pareceu crescer melhor. A chave, segundo os cientistas, está na melanina que o fungo possui. Ela parece ser capaz de absorver a radiação e transformar em energia, assim como a clorofila faz nas plantas.
Semelhante à fotossíntese, mas com radiação no lugar de luz, o processo é chamado de radiossíntese. A melanina também parece servir como escudo para os efeitos mais graves da radiação.
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Se viver à base de radiação já parece insano o bastante, cientistas já propõem até usos para o fungo sinistro. Em 2022, cientistas estadunidenses acoplaram uma colônia de C. sphaerospermum no casco da Estação Espacial Internacional (ISS).
A colônia foi exposta a doses inteiras de radiação cósmica sem nenhuma proteção, e o objetivo era testar o fungo como um escudo natural contra radiação.
Mas cientistas ainda não foram capazes de entender como funciona a fixação de carbono com base em radiação, nem estimar os ganhos metabólicos ou definir uma cadeia de produção de energia da radiossíntese.
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“No entanto, a radiossíntese propriamente dita ainda precisa ser demonstrada, quanto mais a redução de compostos de carbono em formas com maior conteúdo energético ou a fixação de carbono inorgânico impulsionada pela radiação ionizante”, escreve Nils Averesch, engenheiro que liderou o time da ISS.
Os fungos parecem não ser os únicos seres a desafiar a biologia no ambiente radioativo de Chernobyl. Cachorros parecem também estar evoluindo rapidamente ao redor da usina.
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