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Conheça o convento onde as freiras usavam joias e emprestavam dinheiro a juros

Visita ao Convento de Santa Clara revela detalhes únicos da vida conventual e financeira

Marcos Ferreira

06/07/2025 às 08:14

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História do convento restaurado mostra o papel ativo das mulheres na sociedade insular

História do convento restaurado mostra o papel ativo das mulheres na sociedade insular | Imagem gerada por IA

Em meio às ruas do Funchal, um dos edifícios mais antigos da cidade voltou a ganhar destaque após uma profunda restauração. O Convento de Santa Clara, com origens no século XV, foi reaberto ao público, revelando muito mais do que belas capelas e elementos arquitetônicos.

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No silêncio das suas pedras centenárias, emergiu uma narrativa pouco conhecida sobre as freiras que, além de religiosas, também atuavam como emprestadoras de dinheiro, cobrando juros e armazenando joias como colateral.

Essa combinação de fé e pragmatismo financeiro transforma o convento numa peça fundamental da história da Madeira. A reabilitação permitiu redescobrir um passado onde as mulheres, mesmo enclausuradas, encontravam formas de influenciar o mundo exterior.

Administrando bens, organizando empréstimos e acolhendo garantias em ouro e pedras preciosas, as religiosas construíram uma rede de relações que escapava aos limites do mosteiro.

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Um convento com muitas camadas

O edifício que hoje se apresenta restaurado ao público não é apenas uma construção bonita  é um símbolo de continuidade e resistência. Desde a sua fundação, o convento acolheu gerações de religiosas que viviam sob a regra de Santa Clara, respeitando a disciplina da clausura e mantendo práticas espirituais diárias.

Ao mesmo tempo, a estrutura arquitetônica foi sendo enriquecida com ornamentos, adaptações e reformas que revelam o crescimento institucional da ordem.

As várias fases da construção podem ser observadas na diversidade dos elementos visuais do convento: dos pisos em pedra às talhas douradas, das paredes caiadas às janelas góticas.

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Cada parte do edifício narra um trecho da história, refletindo não apenas mudanças estéticas, mas também momentos de prosperidade ou dificuldade. Essa sobreposição de tempos torna o espaço especialmente valioso do ponto de vista patrimonial.

A recente obra de restauro teve como objetivo central devolver essa riqueza à comunidade. Para isso, foi preciso respeitar os materiais originais, entender a lógica interna do edifício e adaptar algumas áreas para novas funções culturais.

O resultado é um espaço onde o visitante pode caminhar por corredores seculares e, ao mesmo tempo, acessar informações atualizadas sobre a vida conventual e as histórias ocultas ali preservadas.

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A economia entre muros

Entre os aspectos mais notáveis desse convento está o modo como ele se inseria na economia do Funchal, mesmo sendo um espaço de clausura. As religiosas, sem romper com os princípios da sua vocação, criaram formas de sustentar o convento através de uma prática financeira pouco usual: conceder empréstimos em troca de garantias valiosas, como joias e objetos preciosos. Essa prática revela uma face pouco explorada da vida religiosa feminina.

A administração dessas transações era feita com cuidado e método. As freiras avaliavam as peças recebidas, documentavam os valores e estipulavam os prazos de retorno.

Os juros cobrados serviam para manter as despesas do convento, demonstrando que essas mulheres sabiam bem como operar dentro das regras, mas com autonomia. Eram religiosas, mas também gestoras, conscientes do valor do patrimônio que lhes era confiado.

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Essa faceta econômica lança nova luz sobre o papel das instituições religiosas femininas no passado. Longe de serem passivas, as freiras eram, em muitos casos, ativas e engajadas na manutenção do seu espaço e na relação com o exterior.

Suas ações financeiras mostram uma combinação de sabedoria prática e adaptação às necessidades locais, quebrando a visão tradicional de clausura como isolamento absoluto.

Um novo destino cultural

Hoje, o Convento de Santa Clara não é apenas um local de memória; é também um ponto de encontro entre o passado e o presente. Com a sua reabertura, ele passa a desempenhar um papel relevante na vida cultural do Funchal, acolhendo visitas, atividades educativas e projetos de divulgação histórica.

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A transformação de espaço sagrado em bem público permite que mais pessoas conheçam essa história rica e multifacetada.

A visita ao convento é uma experiência que convida à reflexão sobre o tempo, a fé e o poder das mulheres em contextos inesperados.

Os novos percursos expositivos ajudam a contextualizar a atuação das freiras e tornam acessível ao público uma narrativa que por muito tempo ficou restrita aos arquivos e aos muros do mosteiro. Trata-se de uma valorização tanto do patrimônio físico quanto do capital simbólico que ele representa.

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A reabilitação do convento é, portanto, mais do que uma obra de conservação. É um gesto de resgate e valorização da história feminina, religiosa e financeira da Madeira.

Ao dar visibilidade às práticas dessas mulheres, o projeto convida a um olhar mais complexo sobre o passado e a reconhecer que, mesmo em lugares de silêncio e oração, houve vozes que souberam se fazer ouvir.

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