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A história do clube, portanto, não começa apenas com bola e traves começa também com uma cidade marcada por liberdade, encontros e raízes negras | Fábio Maradei/Santos FC
Há mais de cem anos, o Santos Futebol Clube começava a ganhar forma pelas mãos de três jovens esportistas da cidade: Mário Ferraz de Campos, Francisco Raymundo Marques e Argemiro de Souza Junior.
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Ao lado deles, outros 39 participantes se reuniram para decidir qual nome batizaria o time que, sem imaginar, levaria a identidade de Santos para o mundo.
Entre as primeiras sugestões de nome surgiu a proposta inusitada: África Futebol Clube. Um nome que refletia não só a forte ligação marítima do porto santista com o continente africano, mas também marcas profundas da formação histórica da cidade.
Mas, por que 'África Futebol Clube'? Qual é o motivo em que levaram a eles pensarem neste nome? A Gazeta te conta logo abaixo:
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Naquele período, a cidade de Santos vivia consequência direta do fim da escravidão, ainda envolta em fluxos culturais, sociais e humanos que cruzavam o Atlântico há séculos.
Ainda assim, a sugestão do “África FC” não surgiu do nada: ela dialogava com um território que, poucas décadas antes, havia abrigado o maior símbolo da resistência negra em São Paulo — o Quilombo Jabaquara.
Porém, a ideia não avançou. Em 14 de abril de 1912, o nome da entidade foi sugerido por Edmundo Jorge de Araújo e prevaleceu até os dias atuais: Santos Foot-Ball Club, que mais tarde foi abrasileirado.
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O Quilombo Jabaquara, formado em 1880, se tornou um dos maiores redutos de libertos e fugitivos do Sudeste brasileiro.
Surgiu porque Santos, já naquela época, era reconhecida como “reduto de caifases e militantes abolicionistas”, acolhendo entre 2 mil e 20 mil pessoas subtraídas da escravidão ao longo de apenas seis anos. A cidade portuária virou abrigo, trânsito e esperança para quem buscava liberdade.
O terreno que abrigava o quilombo era arrendado por um italiano, Benjamim Fontana, e frequentemente alvo de disputas jurídicas envolvendo ele e Quintino de Lacerda — ex-escravizado, líder comunitário e figura central na organização do lugar.
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Mesmo com pressões e incertezas, Jabaquara foi símbolo de autonomia e luta em plena transição do país para o pós-abolição.
Hoje, a área do antigo quilombo está ocupada pelo bairro Jabaquara, e seu potencial arqueológico permanece inexplorado.
Em 2005, uma placa foi instalada na rua Prof. Celso da Cunha Alves, nº 94, marcando o ponto em que estaria sua entrada, preservando a memória daquele que é considerado o segundo maior quilombo do Brasil.
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Quando, em 1912, alguém sugeriu o nome “África Futebol Clube”, a proposta não foi apenas curiosa — ela carregava, de forma intuitiva ou consciente, todo esse pano de fundo.
Santos era uma cidade moldada por fluxos africanos, marcada pela luta abolicionista e pela presença de milhares de negros libertos que haviam refeito suas vidas nos arredores da futura Vila Belmiro.
Assim, o nome “África FC” não foi um devaneio isolado, mas uma expressão do ambiente cultural da época. Revelava uma cidade que respirava diversidade, resistência e relações profundas com o legado afro-brasileiro.
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Décadas depois, o destino selaria esse elo quando o Santos, já com Pelé e seus craques, viajaria à Nigéria em 1969 e se tornaria parte de um dos episódios mais simbólicos entre o futebol brasileiro e o continente africano.
A história do clube, portanto, não começa apenas com bola e traves — começa também com uma cidade marcada por liberdade, encontros e raízes negras.
E por mais que o nome oficial tenha homenageado Santos, o espírito africano que rondou aquela primeira reunião permanece como uma nota histórica que ajuda a explicar quem o Alvinegro Praiano sempre foi: um time conectado ao mundo, às pessoas e às histórias que o formaram.
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