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Erguida em meio ao deserto, Akhetaton foi projetada para ser o símbolo das reformas religiosas de Akhenaton. Em apenas vinte anos, porém, a cidade foi praticamente esvaziada. | Wikimedia Commons
Por décadas, arqueólogos acreditaram que uma epidemia devastadora havia dizimado a antiga cidade egípcia de Akhetaton — atual Amarna — levando seus habitantes a um abandono repentino.
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No entanto, um novo estudo publicado no American Journal of Archaeology acaba de questionar essa versão amplamente aceita.
Conduzida pelas pesquisadoras Dra. Gretchen Dabbs e Dra. Anna Stevens, a pesquisa oferece uma nova perspectiva sobre o desaparecimento da cidade fundada pelo faraó Akhenaton, conhecido por romper com o tradicional panteão egípcio e instituir o culto exclusivo ao deus-sol Áton.
Erguida em meio ao deserto, Akhetaton foi projetada para ser o símbolo das reformas religiosas de Akhenaton. Em apenas vinte anos, porém, a cidade foi praticamente esvaziada.
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Durante muito tempo, especialistas atribuíram o abandono a uma praga, hipótese apoiada em textos antigos que mencionavam surtos em outras regiões do Oriente Próximo.
O Archaeology News lembra que algumas orações hititas e as chamadas Cartas de Amarna citam uma “doença terrível” que teria se espalhado entre cidades como Megiddo, Byblos e Sumur — mas nenhuma dessas fontes faz menção direta a Akhetaton.
Para investigar se a teoria da epidemia se sustentava, as pesquisadoras realizaram uma ampla análise bioarqueológica e arqueológica em quatro cemitérios de Amarna.
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Entre 2005 e 2022, 889 sepultamentos foram examinados, representando uma amostra de aproximadamente 12 mil túmulos existentes na região.
O objetivo era simples: identificar sinais de mortalidade em massa, sepultamentos emergenciais ou evidências biológicas de doenças infecciosas — padrões típicos de populações afetadas por epidemias.
Os resultados surpreenderam. Em vez de sinais de infecção generalizada, os restos humanos mostraram marcas de estresse social e físico.
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Muitos indivíduos apresentavam problemas de coluna, desgaste nas articulações e crescimento comprometido — indícios de trabalho pesado e desigualdade, não de doença contagiosa.
Segundo o estudo, os enterros coletivos observados refletiam tradições culturais — como a disposição conjunta de mulheres e crianças —, e não uma resposta emergencial a uma praga.
As modelagens demográficas utilizadas mostraram taxas de mortalidade e expectativa de vida dentro do esperado para uma cidade com a dimensão e o tempo de ocupação de Akhetaton. Isso indica que o fim da cidade não foi abrupto, mas sim planejado e progressivo.
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Há evidências de que os habitantes tiveram tempo de recolher seus pertences e deixar o local de forma organizada, o que reforça a hipótese de um abandono político e religioso após a morte de Akhenaton.
O estudo conclui que a queda de Akhetaton foi motivada por fatores políticos e ideológicos. Após a morte do faraó, houve uma reação contra suas reformas religiosas e uma restauração do culto aos antigos deuses.
Com isso, a cidade — símbolo da adoração ao deus Áton — perdeu seu propósito e foi gradualmente esquecida.
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“As evidências arqueológicas e biológicas não sustentam a hipótese de uma epidemia em Amarna”, apontam Dabbs e Stevens. “Os sinais indicam transição, não colapso.”
O trabalho das pesquisadoras oferece uma lição importante: nem sempre as histórias mais trágicas resistem ao olhar atento da ciência.
Amarna, a cidade que nasceu da fé e da ousadia de um faraó, talvez tenha desaparecido não por causa da doença — mas por causa da própria política que a ergueu.
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