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Carro viralizou nas redes sociais após andar sobre o mar de São Vicente (SP) | Divulgação/Redes sociais
O mecânico Caio Strumiello ganhou fama nas redes sociais ao construir um carro capaz de andar tanto na terra quanto sobre a água.
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Conhecido como o “Rei da Gambiarra”, ele mistura criatividade, experiência técnica e o famoso jeitinho brasileiro para transformar sucata em invenções improváveis — e funcionais.
O vídeo mais recente que viralizou mostra justamente sua criação mais ousada: um carro anfíbio artesanal cruzando as águas da Praia do Gonzaguinha, em São Vicente, no litoral de São Paulo.
Entre risadas, comentários espantados e muitos compartilhamentos, Caio virou personagem de memes, reportagens e debates sobre até onde a criatividade pode ir quando esbarra na burocracia.
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O veículo que chamou atenção foi montado a partir de um casco de barco, adaptado para receber rodas e dois motores: um de motocicleta e outro estacionário, semelhante aos usados em máquinas de caldo de cana. A combinação, que poderia parecer improviso demais, foi calculada nos mínimos detalhes por Caio.
Segundo o próprio inventor, o projeto foi pensado para não agredir o meio ambiente. Ele afirma que todo o sistema foi concebido para funcionar sem contato direto dos motores com a água do mar, evitando vazamento e contaminação.
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“Fiz todos os cálculos. Os motores ficam abaixo do nível do mar, mas não têm contato com a água. Não fiz isso para poluir. Isso foi pensado”, contou em entrevista ao g1.
A experiência com navegação, adquirida ainda na juventude, também pesou. Caio asegura que usou o conhecimento acumulado em anos lidando com barcos para garantir que o veículo tivesse flutuação, equilíbrio e estabilidade suficientes para enfrentar as marolas da orla sem virar piada — ou perigo.
Se nas redes sociais o carro anfíbio virou símbolo de criatividade e ousadia, na realidade o final da história foi menos romântico. A Guarda Civil Municipal (GCM) foi acionada após a circulação de imagens do veículo navegando próximo aos banhistas.
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A preocupação das autoridades era dupla: segurança pública e impacto ambiental. Além disso, o carro não tinha qualquer documentação ou licença para trafegar na areia nem para navegar como embarcação. Resultado: foi apreendido e levado para um pátio da prefeitura.
A Capitania dos Portos informou que qualquer embarcação precisa de registro e licença específicos. No caso de Caio, não havia autorização prévia nem regularização do veículo, o que reforçou a decisão de apreensão.
Ao tentar retirar o veículo, Caio esbarrou em mais uma barreira: a burocracia. Sem o documento exigido, não conseguiu reaver sua criação. A frustração virou desabafo.
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“Vou acionar meu advogado. É difícil criar algo neste país. Se o Santos Dumont tivesse feito o avião aqui, teriam apreendido também”, disse, indignado.
A frase resume o conflito que ganhou as redes: de um lado, quem vê o mecânico como um inventor popular, perseguido por regras rígidas; de outro, quem defende que segurança, legislação e proteção ambiental precisam vir antes das experiências radicais.
Se a apreensão significou o fim daquele carro anfíbio, não marcou o fim das ideias. Pelo contrário, virou combustível para um novo projeto.
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Caio já está construindo um segundo modelo de veículo anfíbio, desta vez com pedal e motor elétrico. A aposta é em algo mais leve, sustentável e, quem sabe, mais fácil de regularizar. Ele tem compartilhado nas redes sociais o passo a passo da construção e, com ironia, provoca: “Será que vão apreender esse também?”
Os vídeos mostram um inventor que não se deixou abater pela primeira derrota. Entre comentários de apoio, críticas e brincadeiras, Caio segue alimentando a curiosidade do público e reforçando sua imagem de “Rei da Gambiarra” — alguém que não tem medo de errar, testar e recomeçar.
O carro que anda na água pode ser o projeto mais midiático, mas está longe de ser o único. No dia a dia da oficina, Caio também desenvolve veículos adaptados para pessoas com deficiência e idosos.
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Entre suas criações estão uma cadeira de rodas motorizada e um carro projetado especialmente para um homem com problema na bacia, adaptado para reduzir dor e facilitar os movimentos. São invenções caseiras, porém feitas com olhar atento às necessidades de quem tem mobilidade reduzida.
Em comum, todos os projetos carregam um forte apelo social: acessibilidade, autonomia e inclusão. Em vez de focar apenas em soluções comerciais, Caio tenta usar sua engenhosidade para devolver dignidade e independência a quem muitas vezes é ignorado pela indústria tradicional.
A história de Caio Strumiello vai além da curiosidade de um carro navegando no mar. Ela expõe um debate maior sobre inovação, limites da legislação e o espaço dado — ou negado — a inventores independentes no Brasil.
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De um lado, há regras claras para evitar acidentes, proteger o meio ambiente e organizar o tráfego. De outro, existe uma cultura criativa, acostumada a “se virar” com poucos recursos, que acaba trombando com a burocracia quando tenta sair do improviso e ganhar as ruas — ou o mar.
Caio se tornou, sem querer, o rosto dessa discussão. Entre memes, críticas e apoio popular, ele segue desafiando limites e autoridades com engenho, coragem e uma boa dose de ironia.
Se o futuro dos seus carros anfíbios ainda é incerto, uma coisa é clara: o “Rei da Gambiarra” já garantiu seu lugar na galeria de personagens que traduzem, como poucos, a criatividade e as contradições do Brasil.
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