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São Silvestre: por que a corrida mais tradicional do Brasil encanta gerações

Disputada em 31 de dezembro pelas ruas de São Paulo, a prova de 15 km reúne quase um século de história, recordes e tradição, e segue atraindo de estreantes a campeões em busca de fechar o ano correndo

Raphael Miras

04/12/2025 às 17:15

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A São Silvestre é, ao mesmo tempo, esporte, celebração e memória coletiva.

A São Silvestre é, ao mesmo tempo, esporte, celebração e memória coletiva. | Wikimedia Commons

A Corrida Internacional de São Silvestre é mais do que uma tradição esportiva: é um ritual que encerra o ano brasileiro há quase um século. Disputada sempre em 31 de dezembro, a prova reúne amadores e atletas de elite em um percurso de 15 km pelas ruas de São Paulo.

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Mesmo sendo conhecida mundialmente, muita gente ainda acredita que se trata de uma maratona, mas a São Silvestre nunca teve esse formato. Ao longo das décadas, a competição cresceu, se modernizou e ganhou uma condição de maior e mais importante corrida de rua da América Latina.

A cada edição, cerca de 30 mil corredores de diferentes países transformam a capital paulista em um cenário vibrante de esporte, história e superação, em uma mistura de festa de Réveillon com desafio esportivo.

A origem de tudo

A prova nasceu associada ao calendário religioso. O Dia de São Silvestre, celebrado pela Igreja Católica em 31 de dezembro, inspirou o nome da corrida. O santo foi papa entre os anos de 314 e 335 d.C., período marcado por grandes mudanças para o cristianismo.

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Criada pelo jornalista Cásper Líbero em 1925, a ideia era trazer para o Brasil uma experiência que havia visto na França: uma prova noturna em que corredores carregavam tochas pelas ruas. Ao adaptá-la para São Paulo, ele abandonou as tochas e manteve o conceito da corrida de rua.

A estreia aconteceu na noite de Réveillon, em 31 de dezembro de 1924, nas ruas de São Paulo. O percurso tinha oito quilômetros e reuniu 60 inscritos. Desses, 48 atletas largaram e 37 conseguiram completar a prova.

As condições eram bem diferentes das atuais: roupas inadequadas, ausência de postos de hidratação e pouco conhecimento sobre técnicas de corrida. Ainda assim, nascia ali a prova que se tornaria a mais famosa corrida de rua da América Latina.

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O primeiro campeão foi Alfredo Gomes, que também entrou para a história como o primeiro atleta negro a representar o Brasil nos Jogos Olímpicos, em Paris, em 1924.

A evolução da prova ao longo das décadas

Em quase 100 anos, a São Silvestre acompanhou mudanças sociais, tecnológicas e esportivas. A cada nova fase, a corrida ganhou ajustes no percurso, nas regras e na forma de receber atletas de diferentes perfis.

A participação feminina só foi permitida em 1975, ano em que a ONU instituiu o Ano Internacional da Mulher. A pioneira a vencer a prova foi a alemã Christia Valensieck, que também ganhou a edição seguinte, em 1976.

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No início, homens e mulheres corriam juntos, mas as classificações eram separadas. Com o amadurecimento da prova, os horários e pelotões foram organizados de forma diferente, garantindo largadas específicas para as mulheres.

Nas 20 primeiras edições, apenas atletas brasileiros podiam participar. A corrida começou a se internacionalizar em 1945, com a presença de competidores do Chile e do Uruguai, abrindo caminho para a chegada de grandes nomes do atletismo mundial.

Outros marcos importantes ajudam a entender a evolução da prova:

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  • 1989: a corrida deixa de ser noturna e passa a ser disputada durante o dia;
  • 1991: o percurso é fixado em 15 km, seguindo exigências da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF);
  • 1998: chips eletrônicos começam a ser usados para cronometragem e controle de tempo.

Com essas mudanças, a São Silvestre se consolidou como uma prova de padrão internacional, sem perder o clima de festa de fim de ano que a tornou famosa.

Recordes, campeões e países dominantes

A São Silvestre se transformou em vitrine para alguns dos principais corredores do mundo. A disputa pelo topo do pódio envolve tradição, estratégia e o domínio de um percurso desafiador.

Na categoria masculina, o Brasil lidera o ranking histórico, com 29 títulos. Em segundo lugar aparece o Quênia, com 14 vencedores, consolidando o país africano como potência nas provas de fundo.

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Entre as mulheres, o domínio é queniano. As atletas do país somam 12 vitórias, seguidas pelas portuguesas, que já conquistaram sete títulos e marcaram época na prova.

Recordistas individuais da São Silvestre

No feminino, o nome mais marcante é o da portuguesa Rosa Mota. Ela é a maior campeã da história da prova, com seis títulos consecutivos entre 1981 e 1986, um feito que até hoje não foi igualado.

No masculino, o queniano Paul Tergat domina o topo da lista, com cinco vitórias nas edições de 1995, 1996, 1998, 1999 e 2000. Sua sequência de conquistas ajudou a consolidar a era dos africanos na São Silvestre.

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Entre os brasileiros, o maior campeão é Marilson Gomes dos Santos, tricampeão nas edições de 2003, 2005 e 2010. Ele também é o último brasileiro a vencer a prova, um marco que o tornou referência para uma geração de corredores de rua.

Como é a São Silvestre hoje

O trajeto da São Silvestre passa por alguns dos pontos mais emblemáticos de São Paulo, como o Estádio do Pacaembu e o Centro Histórico. A largada ocorre na Avenida Paulista, na altura da Rua Augusta, e a chegada é em frente ao Edifício Cásper Líbero, na mesma avenida.

O trecho mais temido pelos corredores é a subida da Avenida Brigadeiro Luís Antônio. A inclinação forte, já na parte final da prova, exige preparo físico, controle de ritmo e boa estratégia para cruzar a linha de chegada com fôlego.

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A São Silvestre é aberta a diferentes perfis de participantes, incluindo atletas com deficiência. Correm pessoas com deficiência visual, amputados, andantes de membros inferiores, com deficiência intelectual, auditiva, de membros superiores e cadeirantes com guias.

Para garantir segurança e condições adequadas, esses atletas têm horários de largada específicos, antes das elites feminina e masculina e do pelotão geral, o que reforça o caráter inclusivo da competição.

A São Silvestrinha: porta de entrada para o atletismo

Criada em 1994, a São Silvestrinha é a versão infantojuvenil da corrida. O objetivo é aproximar crianças e adolescentes do esporte, estimulando hábitos saudáveis, disciplina e cidadania.

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Participam atletas de 6 a 17 anos, divididos por categorias de idade. As distâncias variam de 50 a 800 metros, permitindo que os jovens experimentem o ambiente de competição em um formato adequado à faixa etária.

Guia prático para quem quer correr a São Silvestre

As inscrições para a São Silvestre são feitas pelo site oficial da prova, geralmente a partir do mês de novembro. O interessado precisa preencher os dados pessoais, escolher a categoria correta e pagar a taxa de inscrição.

O atleta inscrito recebe um kit que costuma incluir número de peito e chip de cronometragem. Em algumas edições, a organização oferece ainda camiseta oficial e outros itens de participação.

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Horários de largada

As largadas acontecem na manhã do dia 31 de dezembro, em blocos organizados por categoria. Como exemplo de divisão:

  • Cadeirantes (feminino e masculino): por volta de 8h20;
  • Elite feminina: por volta de 8h40;
  • Elite masculina, atletas com deficiência, pelotão C e pelotão geral: por volta de 9h.

Os horários exatos podem variar de um ano para outro, por isso é importante conferir o regulamento oficial da edição antes da prova.

Premiação e incentivo aos atletas

A São Silvestre oferece premiação em dinheiro para os atletas que terminam nas primeiras colocações da elite. Os valores podem variar a cada edição, mas os campeões costumam receber quantias que podem chegar a cerca de R$ 90 mil.

Em geral, os 10 primeiros colocados nas categorias principais recebem prêmios proporcionais à posição de chegada, o que funciona como incentivo tanto para atletas brasileiros quanto para estrangeiros.

Uma tradição que atravessa gerações

A São Silvestre é, ao mesmo tempo, esporte, celebração e memória coletiva. Ela encerra o calendário esportivo de rua no Brasil e marca a despedida do ano com uma combinação única de desafio físico e festa popular.

Em quase um século de história, a corrida se consolidou como um dos símbolos de São Paulo e um evento que traduz a energia da cidade. Para quem corre pela primeira vez ou para quem já transformou a prova em ritual anual, cada 31 de dezembro guarda um novo capítulo dessa trajetória.

Como uma cápsula do tempo esportiva, a São Silvestre preserva suas origens, se adapta ao presente e segue pronta para receber novas gerações de corredores que cruzam a linha de chegada com a sensação de começar o ano seguinte com o pé direito.

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