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Vilinha da Vila Mariana: como vive hoje a vila histórica que São Paulo deixou para trás

Conjunto de sete sobrados dos anos 1920 segue vazio e cercado por tapumes, à espera de definição entre tombamento e especulação imobiliária

Raphael Miras

25/11/2025 às 18:30

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Se a vila voltará a ser habitada, se ganhará função cultural ou se será transformada em outro tipo de equipamento ainda é incerto.

Se a vila voltará a ser habitada, se ganhará função cultural ou se será transformada em outro tipo de equipamento ainda é incerto. | Reprodução YT/ Marcel Jurado - FPV BACANA

A poucos metros do movimento constante da Rua Conselheiro Rodrigues Alves, um pedaço raro da São Paulo do começo do século 20 segue em silêncio.

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A Vilinha da Vila Mariana, no número 289, conserva sete sobrados antigos dispostos em torno de um pátio central arborizado, um respiro que lembra cidades pequenas e quintais compartilhados.

Construída entre as décadas de 1920 e 1930, a vilinha é uma das poucas vilas residenciais remanescentes na cidade de São Paulo.
Construída entre as décadas de 1920 e 1930, a vilinha é uma das poucas vilas residenciais remanescentes na cidade de São Paulo.
A arquitetura original segue ali: casas geminadas, fachadas simples, janelas de madeira e um pátio central que funcionava como área de convivência.
A arquitetura original segue ali: casas geminadas, fachadas simples, janelas de madeira e um pátio central que funcionava como área de convivência.
Hoje, o cenário é outro. A área está vazia e cercada por tapumes, um contraste evidente com o entorno movimentado da Vila Mariana, onde prédios altos e novos empreendimentos disputam espaço com o que ainda resta de construções históricas. Fotos: Reprodução YT/ Marcel Jurado - FPV BACANA
Hoje, o cenário é outro. A área está vazia e cercada por tapumes, um contraste evidente com o entorno movimentado da Vila Mariana, onde prédios altos e novos empreendimentos disputam espaço com o que ainda resta de construções históricas. Fotos: Reprodução YT/ Marcel Jurado - FPV BACANA

Desde 2017, no entanto, o que poderia ser um oásis urbano vive entre tapumes e incertezas. O conjunto está fechado, sem moradores, em um limbo jurídico que impede reformas, manutenção ou qualquer uso mais amplo do espaço.

Um pedaço do século 20 no meio da metrópole

Construída entre as décadas de 1920 e 1930, a vilinha é uma das poucas vilas residenciais remanescentes na cidade de São Paulo.

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A arquitetura original segue ali: casas geminadas, fachadas simples, janelas de madeira e um pátio central que funcionava como área de convivência.

O terreno reúne os sete sobrados e uma grande área ao ar livre, que recebia festas, encontros e eventos organizados pelos moradores.

Embora fosse essencialmente residencial, a vila não tinha portões e permanecia aberta ao público, permitindo a circulação de vizinhos e visitantes do bairro.

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Hoje, o cenário é outro. A área está vazia e cercada por tapumes, um contraste evidente com o entorno movimentado da Vila Mariana, onde prédios altos e novos empreendimentos disputam espaço com o que ainda resta de construções históricas.

Do sonho imobiliário ao limbo jurídico

Toda a Vilinha da Vila Mariana pertencia a um único proprietário, que decidiu vendê-la a uma incorporadora em 2017. Com a transação, os inquilinos foram comunicados que deveriam desocupar o espaço, que seria demolido para a construção de um novo empreendimento.

A comunidade local, porém, reagiu. Moradores e vizinhos se mobilizaram, questionaram o projeto e buscaram apoio de entidades ligadas à preservação.

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A pressão resultou em uma ordem judicial que impediu a demolição dos sobrados, interrompendo os planos da incorporadora.

O efeito colateral foi a criação de um impasse. Sem autorização para demolir e sem definição clara sobre o futuro do conjunto, a vilinha passou a viver um período de abandono. Ao mesmo tempo, o caso reacendeu o debate sobre o destino de imóveis históricos em áreas valorizadas da cidade.

Processo de tombamento e disputa por memória

Logo após a decisão que barrou a demolição, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) abriu o processo de tombamento da região.

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A discussão é relativamente recente em termos de processo formal, mas o desejo de ver a área protegida é antigo.

Desde 2006, moradores e ex-moradores da Vilinha da Vila Mariana já haviam se mobilizado para tentar transformar o conjunto em patrimônio histórico.

O temor era que a vila desaparecesse sem registro, engolida pelo avanço dos empreendimentos imobiliários na Vila Mariana.

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O tombamento, se confirmado, pode garantir a preservação das casas e do traçado da vila, mas também levanta outra questão: como reocupar e revitalizar um espaço que carrega tantas camadas de memória, sem perder sua identidade original?

Documentário “Amora” dá voz à vila e aos moradores

Entre as pessoas que mais acompanharam de perto a transformação do lugar está a atriz e cineasta Ana Petta, que morou por 14 anos em um dos sobrados.

A saída forçada e o abandono do espaço deram origem ao documentário “Amora”, dirigido por ela em meio ao imbróglio judicial.

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O filme adota o ponto de vista de Pedro, um dos filhos de Ana, que nasceu e cresceu na vilinha. A partir das lembranças da infância, o documentário reconstitui o cotidiano do espaço, com suas árvores, brincadeiras no pátio e relações de vizinhança que iam além das paredes das casas.

Mais do que registrar a arquitetura, “Amora” lança um olhar sobre o vínculo afetivo com o território e sobre o cuidado com o patrimônio histórico.

Ao mesmo tempo, evidencia a deterioração do conjunto após a saída dos moradores e o fechamento dos sobrados.

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O filme estreou na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo 2025 e foi destaque em festivais no México e no Uruguai, ampliando o alcance da história da Vilinha da Vila Mariana e fortalecendo o debate sobre a preservação de espaços históricos e afetivos na capital paulista.

O futuro em aberto de um passado valioso

Enquanto o processo de tombamento segue em análise, a Vilinha da Vila Mariana continua lentamente. O conjunto que já foi cenário de festas, brincadeiras e refeições compartilhadas enfrenta a ação do tempo, a falta de manutenção e a pressão do mercado imobiliário no entorno.

Por outro lado, o caso da vilinha ajudou a recolocar no mapa urbano a importância das pequenas arquiteturas da cidade: vilas, pátios, quintais coletivos e corredores que guardam histórias do cotidiano, nem sempre registradas em livros ou placas oficiais.

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Se a vila voltará a ser habitada, se ganhará função cultural ou se será transformada em outro tipo de equipamento ainda é incerto.

Mas, para quem passa pela Rua Conselheiro Rodrigues Alves e observa, entre frestas, o que restou daquele pátio arborizado, fica a sensação de que São Paulo ainda guarda pedaços discretos da própria memória, à espera de uma nova chance de existir.

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